Black Media Skate

Entrevista exclusiva com Ty Evans

Resumindo porque a entrevista tá gigante: eu escrevi uma crítica do We Are Blood, o Ty Evans, que fez o filme, leu (provavelmente no Google Tradutor) e a gente acabou trocando uma ideia de uma hora via Skype. Pra sorte do skate, um dos caras mais importantes dos vídeos de skate é muito sangue bom, cabeça aberta e gente finíssima. Eu optei por deixar a conversa na íntegra, mesmo estando fatalmente gigante pra internet, onde ninguém lê e só gosta de ver fotos de gato e GIFs. Se você quiser conhecer um pouco a mente de um dos caras que tá fazendo coisas gigantes no skate já faz um bom tempo, tá aí. Se você não tem paciência pra ler, azar.


Você leu a crítica do filme, certo?
É, li… Consegui entender, sim.

Eu até já trabalhei com cinema, mas não sou crítico de nada… O que você leu é só minha opinião sobre o filme. Resolvi compartilhar com os outros porque só estava ouvindo coisas boas, gloriosas, fantásticas sobre o filme, e nada é tão perfeito assim. Você ficou chateado com alguma coisa que leu?
Chateado? Não! Eu acho que é bom cada um ter sua opinião, e não gostar de alguma coisa é normal. Eu li e vi várias coisas que você não gostou; acho que não achei as partes que você gostou. Haha! Em todos os vídeos que já fiz, tem muita coisa que as pessoas não gostam. Isso acontece porque, às vezes, eu tento fazer as coisas diferentes de um vídeo de skate tradicional. Mas tá tranquilo, cara. Eu acho que se você faz algo que todo mundo adora, você tá fazendo errado.

Com certeza, concordo totalmente.
É, então… E eu acho legal o que você estava falando antes, de você e seus amigos terem saído da revista pra fazer um site e ter a liberdade de falarem o que quiserem (eu expliquei o que era a Black Media pra ele antes de começar). Acho que isso é uma coisa boa. E, às vezes, as coisas se perdem na tradução. Sabe, quando você faz esses filmes tem muita coisa que acontece nos bastidores e as pessoas não percebem ou não entendem. Tem coisas que eu até concordo com as pessoas não terem gostado, mas eu me foco mais na energia positiva, nas coisas que as pessoas gostaram. Mas é isso… Eu li a crítica e parece que você não gostou de muita coisa. Hahaha! E eu fiquei meio triste, tipo: “Achei que os brasileiros iam gostar do que a gente fez e parece que não gostaram tanto…”. Fiquei triste nesse sentido, com certeza.

Frank Gerwer, é você?

Pode crer, nós ainda vamos falar sobre o que gostei e o que não gostei… Mas nem esquenta muito, é a minha opinião e eu sou chato pra caralho com detalhes. Hahahaha! Mas deixa eu começar do começo aqui… Você estudou cinema ou algo parecido?
Não, nunca estudei… Sou só um skatista que faz vídeos de skate.


Tô perguntando porque dá pra ver que a sua fotografia e tudo mais é bem diferente do normal. É skate, mas com cara de cinema mesmo, sabe?

É, acho que até gostaria de ir pra escola de cinema, mas nunca fui. Eu sempre estive envolvido com skate e acabei fazendo vídeos, e venho fazendo isso nos últimos 25 anos. Até estudaria cinema, mas acabei fazendo e aprendendo sozinho… É divertido aprender assim, e acho que esse filme foi o maior passo no meu processo de aprendizagem.

Eu vi uma entrevista sua, acho que no Berrics, dizendo que o objetivo do We Are Blood era apresentar o skate, pelos olhos dos skatistas, pra quem não anda de skate. É isso?
Eu não diria que esse foi o objetivo. O objetivo foi apresentar o skate pro mundo, seja você skatista ou não. Todos os vídeos que já fiz foram só pra quem anda de skate. Vídeos com partes, com a fisheye, aquilo tudo. E agora eu quis fazer algo maior e diferente… Fazer a diferença numa escala maior. Sabe, eu já fiz muito vídeo e todos parecem a mesma coisa pra mim agora; todos os vídeos que vejo parecem iguais, a mesma coisa. Sei lá, eu quis fazer algo diferente.

Entendi… É que na entrevista que vi ficou parecendo que a ideia era fazer um filme pra quem não anda. Mas então não foi exatamente isso.
É, são as duas coisas. Pra quem anda e quem não anda.

Clique na imagem para assistir à entrevista (foi na Trasnworld)

Porque isso foi uma coisa que me incomodou bastante. Se você quer fazer um vídeo pra quem não anda, e enche ele com partes de manobras, não vai funcionar… Minha mãe, por exemplo, ia gostar do aspecto “documentário”, mas quando entrassem as manobras ela não ia entender nada e desligaria.
É, acho que tem as duas coisas. Como você falou: talvez as partes das manobras sejam chatas pra quem não anda. Mas eu torço pra que o visual diferente, o jeito que filmamos, a música, todo esse sentimento segure a atenção da pessoa até que chegue a próxima parte do filme, com mais texto, sentimento… Tem muita coisa no filme que eu guardo com muito carinho, como quando o Jamie Thomas fala como era difícil andar nos anos 90. São coisas como essas, nas quais eu me identifico, que fazem o filme ter um valor pessoal pra mim. Sabe, acho que há momentos no filme que são maiores que as manobras. Tipo, eu estava na première e o garoto surdo, Brandon, falou alguma coisa na tela. E as duas mil pessoas começaram a aplaudir algo que ele disse, não uma manobra. Nessa hora, na minha cabeça, eu pensei: “Ok, parece que tá funcionando”. E o Jamie também, que diz que vai fazer 40 anos em breve e ainda ama tudo isso, e todo mundo aplaudiu… Acho que tudo isso é maior que o skate; são coisas que mesmo quem não anda vai ouvir e se identificar.

Jamie Thomas quase quarentão.

Eu gosto muito de documentário, e nisso o We Are Blood me agradou, tirando os clichês do texto que me incomodaram… Mas acho que a cabeça com que você vai ver o filme interfere bastante. Eu vi o trailer e fui assistir ao filme esperando um documentário mais “puro”, e talvez isso tenha prejudicado bastante minha experiência, porque tem muito mais skate – e skate bom de verdade – do que eu esperava.
Eu nunca disse que ia ser um documentário. O trailer também não; tem manobra no trailer. Ele mostra tudo isso. Acho que… Bom, eu precisava agradar skatistas e não-skatistas, mas eu me inclinei mais pros skatistas, com certeza. Então, claro que ia ter tudo isso de manobra. Sempre imaginei o filme dessa forma, com partes “tradicionais” de cinco minutos, com skate e música de fundo. O plano sempre foi esse, ter esses segmentos. E acho que foi isso que trouxe muito skatista pra ver o filme; se não fossem as manobras, te garanto que a maioria dos que andam de skate nem veria o filme. Caras como você, que gostam de ouvir sobre o skate, são difíceis de achar. A maioria dos skatistas não quer ouvir nada, eles querem ver manobra e ponto. Então, o filme é uma combinação disso tudo: toma aqui sua música com os caras andando de skate, mas antes e depois tenho algumas ideias pra colocar e fazer uma conexão. Pra ser sincero, nesse formato do We Are Blood dá pra fazer um filme de 10 horas, porque tem tanta coisa pra ser mostrada e falada… E eu só mostrei um pedacinho disso tudo. Eu escolhi algumas das coisas com as quais eu me identifico, como o Anthony Pappalardo, que é um grande amigo meu. Eu queria mostrá-lo, e ele é o oposto total da Dew Tour e de quão grande o skate se tornou, com todo o dinheiro e tal… O perfeito oposto disso é o Pappalardo, que não é mais um profissional patrocinado; ele largou tudo e foi só andar de skate. Acho que mostrar esses dois lados foi importante. No fim, eu só queria mostrar um visual incrível, um skate incrível. Queria entregar skate do bom para os skatistas e fazer quem não anda de skate também prestar atenção. Inclusive, esse final de semana eu fui acampar com a minha família e estava dirigindo o trailer que usamos no filme, e um cara me parou e falou: “Ei, esse é o trailer daquele filme de skate com o Paul Rodriguez?”. Eu falei que sim, ele perguntou se eu estava no filme e eu respondi que não, que eu tinha feito o filme. Aí ele disse: “Pô, eu parei pra tirar uma foto porque meu filho anda de skate e eu acabei assistindo com ele”. Eu perguntei: “Assistiu tudo ou só uns pedaços?”. Ele disse que assistiu tudo, do começo ao fim, várias vezes, e ele nem anda. Falou que a filha dele tem 10 anos, também não anda de skate e assiste direto. E acho que isso é importante, acho mais inteligente do que só um monte de partes com um monte de manobras.

Pappalardo num momento Tengu – God Of Mischief

É, pra ser honesto com você, fazia tempo que eu não me animava com um vídeo de skate. O que me trouxe de volta foi o Propeller e, sem dúvida, as partes de skate do We Are Blood, que são animais. Achei tão foda que resolvi escrever sobre ele. Você e o Greg Hunt são dois dos melhores no que fazem. Mas eu tenho outra pergunta: eu não sou um daqueles caras que acha que as grandes empresas devem ser mantidas fora do skate. Não que eu adore a ideia, mas acho que é algo inevitável, não adianta lutar contra isso. E eu fiquei feliz quando vi que a Mountain Dew tinha dado o filme nas suas mãos, um cara que sabe como fazer, que ama o que faz. Todo mundo quer um pedaço do nosso estilo de vida hoje em dia… O que você acha disso?
Acho que é uma via de duas mãos. Eu entendo porque as pessoas ficam com o pé atrás quando as corporações gigantes chegam no skate. Eu ando de skate há 30 anos e entendo. E quando o filme ainda estava na minha cabeça, eu me reuni com todo mundo que conhecia no skate, queria que eles me ajudassem a realizar o projeto , e ninguém tinha o dinheiro ou o tempo necessário. Logo que saí da Girl, fui atrás de todas as grandes empresas do skate e conversei, falei sobre a ideia do filme. Eu gostaria que fossem elas a me ajudar no filme mas, no fim das contas, a ajuda não estava lá. Mas sabe quem estava lá pra ajudar? A Mountain Dew. Eu me senti privilegiado, tipo: “Ok, essa empresa vai me dar todo esse dinheiro. Como eu posso fazer isso do jeito certo?”. E isso me leva ao que tinha te falado antes. Tem coisas sobre as quais você escreveu que você não tem nem ideia de como aconteceram… Todas as ligações, e-mails… Acho que, no final, saiu um ótimo filme. Uma empresa grande como a Mountain Dew precisa de segurança, e pra eles virem até mim… Vamos falar a verdade, o skate não é seguro. O skate é uma coisa maluca, é o “contrário” de uma empresa. Então acho muito legal uma empresa desse porte confiar em mim – e no skate – pra fazer tudo isso. Confiar na minha visão do skate. No fim das contas, nós temos um tempo limitado aqui na Terra. Eu posso terminar de falar com você agora, sair de casa, ser atropelado e morrer. E é isso, acabaram os filmes. Quem não gosta dos meus filmes vai adorar isso. Hahaha! Meu negócio é aproveitar as oportunidades, o agora. E ninguém tinha feito um filme nessa escala no skate, com esse orçamento, essa estrutura. Eu aproveitei o momento, tentei expandir os limites e me desafiar. Foi a experiência mais desafiadora da minha vida, e a mais recompensadora. Mas nada disso seria possível sem a Mountain Dew. No fim das contas, você precisa desse tipo de pessoa. Eu vejo muita gente falando sobre as grandes empresas no skate, e as mesmas pessoas estão com um Nike no pé. Porra!

Logos e mais logos

Exatamente. Se as grandes empresas dão o dinheiro pra quem sabe o que tá fazendo, e melhoram a estrutura do skate, não tem problema. É assim que se faz.
É, mas é bom deixar uma coisa clara: a Mountain Dew não veio até mim. Eu estava procurando alguém pra financiar o projeto e ninguém estava me dando o dinheiro. Não é que a Mountain Dew estava querendo fazer um filme de skate e precisava de um diretor. O filme estava na minha cabeça e eu precisava de dinheiro. É assim que funciona: você faz um projeto e vai atrás dos parceiros. E tipo… A gente tá aqui, nos nossos computadores, temos nossos smartphones, esse fone que você tá usando, nossos monitores… Nós não vamos sustentar essas empresas? É tudo relativo… Tem gente que é vegan e não quer comer ou usar nada que venha dos animais. Depende de até onde você quer levar alguma coisa. Eu queria fazer um projeto legal e envolver pessoas boas nisso, então quando você consegue equilibrar tudo, pra mim faz sentido. Eu entendo e admiro as pessoas que não apoiam esse tipo de coisa, mas eu quero continuar fazendo coisas maiores e melhores do que já fiz.

É uma evolução.
Exatamente. Tem caras que, quando mais novos, não aceitariam um patrocínio de energético, mas a visão deles muda quando percebem que o tempo está passando e vai acabar. Quando eu era mais novo, adorava fazer esses vídeos menores, com câmeras menores, orçamentos menores. Agora que fiz o We Are Blood quero continuar nesse caminho, fazendo coisas maiores e melhores. Pra mim, é a coisa mais recompensadora do mundo.

E quanto a Mountain Dew interferiu no filme?
Olha por esse lado: quando você faz um vídeo pra qualquer tipo de empresa… A marca de skate A ou B, tanto faz, você vê o logo nas camisetas, nos shapes. O objetivo desses vídeos é vender skates. Então, se tal empresa está me ajudando a realizar o filme, eu quero retribuir o favor. Você mostra o logo, tenta fazer ficar legal, orgânico dentro do todo. É tão diferente mostrar um skatista profissional com uma marca de skate na camiseta, ou com o logo da Mountain Dew? Sei lá…

É, eu vi muita gente reclamando que tinha logo da Mountain Dew toda hora e eu falava: “Porra, você esperava o quê? Eles estão pagando o filme”.
Também tem Nike, tem DC, Grizzly…

É, tem o Tiago Lemos com o logo da DC gigante na camiseta o filme inteiro. Normal! É a mesma coisa.
É, mas da DC ninguém vai falar nada, porque é uma marca que já está no skate. No fim das contas, quem é dono do quê? É tão relativo… Eu entendo o que você tá falando.

Eu só queria saber qual foi o seu nível de liberdade pra fazer o We Are Blood, porque eu conheço seus filmes. E esse filme é nitidamente uma evolução do que você sempre fez, dá pra ver isso. Dá pra ver que é um filme feito pelo Ty Evans.
Eles foram muito tranquilos, tiraram a mão e me deixaram fazer. Havia algumas exigências…

A parte que mostra o Dew Tour, por exemplo.
Exatamente! Aquilo era uma coisa que precisava estar no filme. Eles vem e falam: “A Dew Tour precisa estar no filme, Felipe. Como você vai fazer isso?”. E aí você pensa em como colocar aquilo no contexto. Tem um milhão de maneiras pra fazer isso, e eu resolvi pegar e mostrar como o skate ficou grande por meio do Dew Tour. Pra mim é tranquilo; se uma coisa está nos requisitos, eu só preciso pensar em como fazer aquilo funcionar.

P. Rod no Dew Tour

P. Rod no Dew Tour

Agora sobre a parte do Brasil! Você comentou no Instagram que não devia ter feito a parte do Brasil… Pô, não fala isso, cara! Hahahaha!
Hahaha! É sua parte favorita?

É! Mas não porque sou brasileiro, eu não tenho isso… É por causa do Tiago, do Formiga, dos caras andando, da edição e tal… Mas como você vê o skate no Brasil? Eu sei que essa resposta está no filme, mas quero ouvir de você.
Eu fui ao Brasil em 2000, quinze anos atrás… Fui pra Curitiba, Porto Alegre, São Paulo e Brasília. Andei com o Cezar Gordo e outros caras. Eu amo o Brasil. Quando fui até aí, percebi que existe um ecossistema independente, com profissionais… Tudo separado do resto do mundo: as próprias revistas, os próprios vídeos, as próprias marcas, tudo isso. Acho isso incrível, porque a gente vê o skate no mundo todo, e parece que o Brasil tem o seu próprio ecossistema. E esse foi um dos motivos pelos quais no filme, na parte do Brasil, eu não levei os caras até aí, resolvi  mostrar os caras daí. Eu quis focar no Tiago, nos amigos dele… Eu sabia que aí tem caras inacreditáveis e nem pensei duas vezes: “Vamos mostrar esses caras… Formiga, Wilton”. As imagens falam por si. E como falei, eu já estive aí e sei como é difícil andar de skate aí. É muito difícil. Eu quis mostrar pro mundo que o Brasil é dureza. Tem o chão ruim… E acho que isso faz os skatistas daí estarem entre os melhores de todos os tempos. Eu queria ter tido mais tempo, talvez filmar uns dois meses por aí, mas a gente só tinha um tempinho pra fazer tudo.

Quanto tempo demorou pra fazer o filme, no total?
Durante um ano, foi só pré-produção. Escrever, ligar, mandar e-mail, ir em reuniões. Quando consegui o dinheiro da Mountain Dew, filmei por mais um ano. E depois editei durante seis meses. Então, no total, dois anos e meio. É muito louco. Você vai pra Dubai e só tem um mês pra fazer tudo. No Brasil, era pra gente ficar só 10 dias; tivemos que pegar mais dinheiro pra ficar mais. Com certeza, foi muito mais desafiador que um vídeo de skate normal.

E em algum momento você parou e pensou algo do tipo: “Cara, eu tenho uma câmera de helicóptero acoplada no carro e estou sendo pago pra filmar skate com isso”? Como foi trabalhar com uma estrutura dessa?
É diferente. Às vezes, eu precisava de um beliscão pra perceber que era de verdade. Parte do filme foi descobrir como fazer as coisas, fazer todo aquele equipamento funcionar pro que eu queria. Todo dia parecia que estávamos fazendo algo novo, isso é empolgante. Eu sempre digo que é como um problema de matemática: você tem tudo aquilo e precisa fazer funcionar. Num set de filmagens tradicional, você tem vinte pessoas ali pra te ajudar e comigo foi: “Ok, tá tudo aqui, mas como eu vou filmar skate com isso?”. Esse foi o desafio. No fim, quem fez o filme fui eu e mais alguns pouquíssimos amigos; fomos lá e fizemos. Filmamos com helicóptero, acoplamos câmeras no carro. É um sentimento especial saber que você é o único no mundo que está fazendo isso.

Falando de helicóptero, e Dubai? Como foi filmar lá? E uma das coisas que escrevi foi sobre a cena do heliponto… Não vi muito sentido naquilo. Por que subir lá pra andar de skate?
Eu estava falando com os caras de Dubai, já tinha voado pra lá pra procurar picos e tal… Eu estava procurando algum telhado skatável. E aquele prédio fez todo o sentido por estar longe de tudo e ser possível filmar ali. Você podia pegar o helicóptero e subir, descer, dar a volta completa nele, coisa que não é fácil de conseguir com um helicóptero de verdade. O prédio era perfeito, longe de tudo. E a ideia era colocar os caras lá em cima, pegar um banco e andar de skate, fazer algo novo, diferente. Eu até filmei lá em cima com a câmera na mão, mas acabamos não usando no filme. Acho que tem alguma coisa disso no “behind the scenes”. Mas sua pergunta foi “por que eles estão lá em cima?”. Eu não sei. Me fala você. Por que o Jamie Thomas pulou de um penhasco? Por que atravessar os EUA num trailer? Por que fomos até o Brasil andar de skate? É tudo skate, cara. Tipo, se você tiver a oportunidade de fazer tal coisa, você vai fazer. E a oportunidade foi aquela. As únicas pessoas que subiram lá foram o Tiger Woods, pra bater numa bola de golf… E mais sei lá, algum piloto de Fórmula 1. Se você tiver a oportunidade de fazer, você vai fazer. Se você estivesse comigo lá em Dubai e eu dissesse: “Nós vamos subir lá e andar de skate”, você ia ficar no chão ou ia subir?

Esse pico é foda.

É, pensando por esse lado faz todo o sentido. Eu iria, certeza.
Você não entraria no helicóptero? Pensa no Tiago e de onde ele veio. Do nada, ele está em Dubai, e já vem viajando pelo mundo todo, e eu falo pra ele: “Quer saber, Tiago? Você e o Paul Rodriguez, o Sean Malto e o Clint Walker vão entrar num helicóptero e voar por Dubai”… Os olhos dele ficaram desse tamanho. Pensa em como foi incrível essa experiência. Você vê ele gritando na janela, sorrindo, ele tá feliz. Esse filme teve vários momentos assim, e eu fico orgulhoso de ver alguém como o Tiago poder experimentar algo assim. Mas pra responder sua pergunta, eu até tinha uma ideia de cena lá em cima. Queria jogar um skate lá de cima, ele cairia na água e alguém pegaria, e aí teria uma sequência de eventos a partir disso. Mas eles não me deixaram fazer, não podia jogar nada de lá. Então, de novo, tem muita coisa nos bastidores que ninguém vê, e você acaba só com uma versão de tudo o que aconteceu.

Pode crer… Mudando de assunto um pouco, hoje em dia virou – ou voltou à – moda filmar com as famosas VX. Você vê esses vídeos?
Vejo! Eu vejo vídeo de skate, qualquer um!

E você ainda tem a sua VX? Ainda usa?
Não, eu vendi minha VX1000 faz uns cinco, seis, sete ou oito anos. Faz muito tempo. Eu usei o máximo que pude. Já fiz muito vídeo com essa câmera, e chegou a hora de continuar o caminho, tentar coisas novas, diferentes. Acho engraçado os caras que só gostam disso… Eu vivo e vivi isso, eu fiz esses vídeos dos quais eles falam. Não sei porque precisaria fazer mais! Hahaha! É engraçado como os skatistas podem ter as mentes mais abertas e, ao mesmo tempo, ter a cabeça mais fechada de todas.

Uma das câmeras usadas no We Are Blood

Com certeza, xiita do skate é a pior raça que existe! Hahahaha! Mas ainda sobre o We Are Blood: mesmo que eu não tenha gostado de algumas coisas no filme, é óbvio que ele é um divisor de águas no skate. Você já está planejando o próximo ou ainda está curtindo os resultados?
Ah, eu quero continuar fazendo isso enquanto puder, com certeza. Eu sinto que consigo continuar fazendo filmes maiores e melhores. Eu lembro que quando saiu o Fully Flared todo mundo ficava: “Ah, não dá pra superar isso”. Com o Pretty Sweet também aconteceu esse tipo de coisa… E agora com o We Are Blood de novo, mas eu acho besteira isso. Vou continuar fazendo, porque eu sinto que estou fazendo pra mim mesmo, e é a experiência mais gratificante que existe. Viajar o mundo, conhecer pessoas novas e depois você tem o filme pra lembrar de tudo aquilo. E não acho que estou nem perto de parar. Sejam de skate ou não, quero continuar fazendo filmes maiores e melhores. Nesse momento, estou descansando um pouco, mas logo volto à ativa.

E você acha que o We Are Blood vai abrir as portas pra esse tipo de superprodução? Tipo, outras empresas grandes vão se interessar em dar dinheiro e fazer filmes de skate assim?
Não sei! Se você for ver, tem empresas maiores ainda que investem nos “esportes de ação”, como snowboard, skateboard, surf, BMX, tudo isso. Esse foi o primeiro filme de skate que recebeu esse “tratamento”, de superprodução. Não sei qual é  futuro mas, provavelmente, acho que virão mais filmes assim. Mas não sei.

É verdade: na intro do Fully Flared não aparece o nome do Jesus Fernandez.

E os nomes dos brasileiros que saíram errados? Vai dar pra arrumar ou é tarde demais?
Haha! Os nomes? Eu até queria! Queria poder arrumar… Mas quer saber de um segredo? Todo filme assim tem um erro desses. Assista ao começo do Fully Flared. Você já notou alguma coisa?

Não que eu me lembre.
No começo, não tem o nome do Jesus Fernandez! Viu? Você não sabia! Hahaha! Te peguei! Mas é isso, sempre vai ter coisas desse tipo. O engraçado é que numa etapa da pós-produção, eu acho que me lembro de ter visto o nome do Rodrigo (Petersen) errado. E eu não sabia do Kaue (Cossa) até você escrever lá. Mas eu repassei os nomes com os caras que foram até o Brasil filmar, chequei com eles pra não sair errado e fui na deles. Agora não lembro se olhei na internet pra checar de novo os nomes. Mas é isso… Esse tipo de coisa acontece, infelizmente. Espero que eles não tenham ficado muito chateados! Desculpa aí!

“Brazil is rough”.

Ty, valeu pelo seu tempo, foi muito foda conversar com você. Teve ignorante que até me xingou por expor minha opinião sobre o filme, mas o que importa é que você, que fez o filme, tem a cabeça aberta, entende que opinião é pessoal e teve a simpatia de trocar uma ideia comigo aqui. Respeito máximo por você. Eu diria que os detalhes que me irritaram ficam nuns 30% do filme, vai. E você nem devia ligar muito pra minha opinião, na real. Eu sou chato pra caralho com detalhe! Hahahaha!
E no final, acho que nem dá pra comparar o We Are Blood com outros vídeos de skate, ele é meio que um híbrido de documentário, filme e vídeo de skate; tem uma categoria própria. Mas foi legal conversar com você. Acho bom você ter sua opinião, eu dou valor pra isso. É normal você não ter gostado de algumas coisas, tranquilo. O que importa é que teve coisas que você gostou. 70% contra 30%? Eu aceito isso! E eu não fico bravo, acho normal as pessoas terem opinião. Foi um trabalho difícil e eu estou feliz que esteja pronto.

Agora quem vai ter o trabalho difícil sou eu, transcrevendo tudo isso aqui! Hahaha! Abraço, Ty! A gente se fala!
All right! Nice talking to you! Later, Felipe!


Deixa aí nos comentários o que você achou da entrevista! E para mais conteúdo maravilhoso, divino, sensacional e maravilhoso como esse, assine o canal do YouTube, curta a fanpage no Facebrooklyn e siga o Instagram.

Sair da versão mobile