Black Media Skate

Luis Moschioni sobre taoísmo das ruas, trabalhar com skate e seu tipo de arroz preferido

Desce a entrevista pra ver a sequência completa. (Allan Carvalho)

Viver apenas do skate no Brasil, recebendo um salário que consiga pagar as contas e ainda com material pra filmar ou competir, é pra uma parcela muito pequena da população de skatistas que temos hoje. Ter um trabalho comum em paralelo com a carreira de skatista profissional, é uma parada que eu, particularmente, não teria a menor disposição. Mas, infelizmente, é muito mais comum do que a gente imagina.

Luis Moschioni, o “Arroiz”, é um desses caras que, desde que eu me conheço por skatista, tá aí, tanto nas ruas quanto nos corres, dando um jeito de pagar as contas da melhor forma e filmando manobras que até Gino Iannucci duvida.

Ele já trabalhou em mais de uma loja de skate por aí, saiu em vídeo na Thrasher, foi garçom em restaurante de comida orgânica, já esteve em editorial de revista de moda e hoje trabalha dentro da agência de publicidade que cuida da Converse CONS do Brasil. Então resolvi falar com ele, não só sobre trabalho, mas também sobre isso.


Aquele retrato do escritor na contracapa do livro. (Allan Carvalho)

Qual o seu tipo preferido de arroz? Doce, empapado, soltinho ou queimado?
Mano, meu estilo de arroz preferido é aquele do soltinho pro empapado. Não, do empapado pro soltinho. Acho que é do empapado pro soltinho. Equilíbrio, esse minha avó domina. Cebolinha cortadinha.

Mas essa é a sua especialidade de arroz? Seu tipo preferido de comer ou de fazer?
De comer. Cê acredita que eu não tenho costume de fazer arroz? Eu prefiro lentilha, uns bagulho assim. Arroz é carboidrato, eu já como pão, essas ideia, aí o canibalismo não é tão constante, mas sempre que o “mozão” faz em casa, eu não recuso nunca. [risos]

Caralho, olha a máscara caindo! A verdade sempre aparece em algum momento. Mas você falou de canibalismo, você é vegetariano ou vegano?
Pai, sou vegetariano. Tive momentos da vida vegano, mas não passou de 3 meses, porque a gente acaba caindo no chocolatinho, pão de queijo. Mas hoje em dia sou vegetariano com algumas situações veganas.

Esse rolê do yin-yang, do “um pouco de droga, um pouco de salada”, vem do Taoísmo?
Eu acho que um pouco de droga, um pouco de salada, veio mais das ruas. Não é como a gente quer, mas é como é. Nem sempre vai ter o rango que a gente quer, mas ninguém vai passar fome. Então é um pouco de droga, um pouco de salada. Às vezes, o chocolate é só pra deixar em pé nas ruas ou um cafezinho sem açúcar. E o Taoísmo vem junto com a vida mas também do “Street Tao”. [risos] O caminho do meio entre curvas. Mas eu acho que esse yin-yang vem das ruas e as ruas me mostraram o taoísmo. Se não fosse o skate não ia ter esse acesso, então eu acho que devo tudo a isso.

Equilíbrio é tudo na vida de um caba. (Allan Carvalho)

Eu gostei do termo “Street Tao”. Podia ser um livro ou alguma… Sei lá, série de Day In The Life da sua vida, mostrando como é o Taoísmo das Ruas. [risos] Esse lado mais espiritual, mais cuidadoso com o corpo que você tem, você conheceu através do skate?
Acho que não tem como não citar as inspirações dos amigos que, na época, eram pessoas distantes. Mas, tipo, a primeira vez que eu ouvi o termo “vegan” foi numa entrevista do Adelmo. Nem sabia o que era essa palavra. Você vê que o cara está em paz, com alimentação, com a vida, com o corpo, e isso acho que é inspiração. Vem disso. Depois, o Fábio Cristiano. O cara tá com 46, pulando escada, o corpo forte, saudável. Eu acho que vem disso. Você conhece a pessoa e vai se aprofundando nas ideias e vai te inspirando. E o skate acabou sendo essa ponte. Acho que o skate foi minha base de vida. Nele conheci pessoas que, não só com o que falam, mas nas ações dela, inspiram. Não é só com palavras, as palavras influenciam também, mas o Fábio (Cristiano) dando as ideias, não tem nem como. Mas eu acho que convivendo aumentou essa inspiração de ter uma busca.

Além do skate em si, como prática, como atividade física, você tem algum hobby, alguma outra coisa que você faz para se cuidar?
Tem os treinos do Erick, o mestre “Out of Step”. O Daniel Marques e o Fábio já faziam. Na época acho que o Dani me indicou e fui lá. E tem, sei lá, uns 4 anos que vou. Tem época que faço 6 meses direto, tem época que não, mas hoje mesmo estava lá, levando umas marteladas nas costas pra botar as coisas no lugar. O Erick deixa meu tornozelo bom em semanas, o que às vezes demora um mês ou dois, destravar lombar, ele é o cara. E é um funcional, às vezes uma massagem para aliviar as tensões, assim é um pouco de tudo.

Luis Moschioni fazendo funcional. (Allan Carvalho)

Na sua primeira entrevista feita pelo Fernando Gomes pra Tribo, você fala que seu patrocínio dos sonhos era uma agência de viagem, você conseguiu esse patrocínio?
Caralho! Resgate bom, foi Fernandinho. A primeira foto em revista foi ele que fez, minha primeira entrevista foi ele que fez. My Lord! Mas não consegui esse patrocínio. Nenhuma agência de viagens viu o potencial nas minhas trips.

Mesmo sem agência de viagem, você chegou a viajar pra vários lugares por causa do skate. Inclusive, essas primeiras fotos foram feitas em Salvador, não é?
Sim! Não tive patrocínio de agência de viagem, mas tive boas pessoas na vida. Meu primeiro emprego, “primeiro patrô” assim, entre aspas, foi uma loja que eu trampei, Street Wash. Marco Aurélio, um salve pro Marco Aurélio. Eles (Street Wash) me deram uma viagem pra Argentina, porque em 2012/13 a gente vendeu bem no Natal, eu bati as metas e eles me deram essa trip. E depois Salvador em 2015, a mesma loja me mandou embora, porque eu não tinha mais o que fazer lá e me falaram: “Meu, vai andar de skate!”. Me deram essa passagem pra lá e essa foi minha primeira trip pra Salvador. O cara que pagou minha viagem pra Argentina quando tinha uns 18 anos, falou pra ir e, se não desse certo, voltava pra trampar. Aí eu fui, fiquei 2 meses, 6 meses, Salvador foi minha segunda casa. Mas já teve algumas pra vida… Manaus, teve boas com Felipe (Oliveira) pelo Nordeste também, as da Plural. A vida é boa.

Felipe Oliveira e Luis Moschioni em uma das viagens sem agência de viagem. (Allan Carvalho)

Eu não consigo pensar, hoje em dia, em uma loja que faz esse corre. E essa loja não era na Galeria do Rock, por exemplo. De onde era a Street Wash?
Mano, a Street Wash era de Tatuí/SP. Trampei lá dos 15 até os 20 anos. E os donos não eram do skate. Tipo, um deles quase foi profissional do futebol e o outro teve um irmão que era profissional do futebol. Mas é isso: ex-doidões que eram da igreja, mas que me conheceram e botaram uma fé em mim. Com 17 anos, eu já fazia os pedidos de New Era pra loja, fazia pedidos de Element, escolhia algumas coisas que vendiam na loja e fazia os pedidos, foram os caras que botaram uma fé.

Pera, você tinha 15 anos, foi contratado por 2 caras que não eram do skate em Tatuí e aí, esses caras pagaram 2 viagens consideráveis.
Pai, é inusitado, não é? Por pessoas que não são do “game”. Mas, na época, eu ia na loja pedir para eles fazerem campeonato e eles falavam que não tinha tempo pra isso. Eu falei: “Então me contrata aí”. E, nesse mesmo momento, o dono da loja tava em Indaiatuba, fazendo um pedido de tênis para a loja. Eu já tinha uma informação que ninguém tinha, uma informação que ninguém carregava, que tinha representante de Vans lá em Indaiatuba e na minha cidade ninguém vendia a marca e aí eu falei: “Mano, se o cara tá em Indaiatuba, eu sei que vende Vans lá.” Aí, rolou meio que isso, o gerente da loja ligou para o dono, falei com ele que queria tampar e falei isso da Vans e o cara já fez um pedido, porque Tatuí nunca teve Vans antes, foi uma parada doida que aconteceu. Tudo isso em um dia. Um fato engraçado: quando tinha 17 anos, fui fazer um pedido da New Era para a loja e o dono falou pra eu escolher. E eu fiz um pedido de quase R$7.000 a menos do que o meu patrão tinha feito na última compra pela curadoria do skate. Tinha toda a liberdade, poderia me emocionar com os produtos, porque tinha 17 anos e fiz um pedido menor do que o patrão, uma outra curadoria que só o skate tem, né? Menos é mais.

Quão importante foi ser skatista trabalhando pra uma loja feita por quem não tinha nada a ver com o skate?
A importância, mano, é tipo: uma loja de skate precisa saber o que o consumidor quer, né? É a comunicação com a rua, não adianta. Lembro que, por ver vídeo de skate, eu falava que o futuro, na época, era boné snapback, porque na loja só tinha boné New Era e nos vídeos de skate eu via os caras usando o snapback. Aí eu falei pra loja, e em 6 meses mudou as paradas igual eu tinha falado. São toques assim, de quem tá vendo as coisas que tão saindo, de quem tá na rua, sabe? E outro ponto: eventos na cidade. Todo final de semana levava um boné, uma camiseta e um shape, sei lá, uma sacola com coisa pra fazer best trick na pista, mantendo os moleque andando, tendo vontade. Além do lance do consumidor final sentir próximo de quem tá atendendo ele, entendendo o que ele vive. Skate tem um respeito mútuo. Isso é importante tanto em loja quanto em marca, você sabe.

“Se for para ficar no ‘perreco’, vou sempre preferir ‘trampar’ do que levantar uma bandeira e ficar no veneno.”

Aí voltando nessa história da sua demissão. Sua rescisão foi uma viagem para Salvador. Nesse momento você chegou a pensar em ser um skatista profissional, viver só de andar de skate, filmar e tal, ou tinha certeza que precisava continuar trabalhando com outras coisas?
Assim, eu sempre levei o corre de skate e o trampo em conjunto de um jeito que… Eu sei que eu não tenho “patrô”, eu tenho que trampar. E mesmo recebendo os bagulhos (material), eu nunca ganhei (salário), então sempre tive o trampo, skate em conjunto, mas tentando sempre ter um trampo que entendesse o skate, e esse sempre foi o desafio. Quando eu fui para Salvador, eu saí da loja, mas eu trampei na ZeroSeteUm. Na primeira vez, fiquei 2 meses e meio. Trampando, sei lá, uma semana ou outra para ajudar o Helder, nos outros anos eu dava um trampo na loja para pagar o aluguel da casa lá, tá ligado? E ainda fazia um extra. Eu sempre levei isso do trampo e o “corre” do skate de um jeito que faz parte, tentando focar nisso, em filmar as partes. Mas as contas vem. Se for para ficar no “perreco”, vou sempre preferir “trampar” do que levantar uma bandeira e ficar no veneno. Independente de ter ou não um “patrô”, é o skate né? Fazer o que gosta. Sempre tive o sonho da carreira, mas a prioridade é fazer o que eu gosto. Então consigo fazer a mesma coisa que eu faço antes. Se tiver que fazer fotos, eu faço foto, filmar, eu filmo, se tiver uma demanda maior, faço um pouco menos, mas sigo fazendo o que eu gosto.  Até na época que sonhava em ter um patrocínio, tinha uma ideia de que dava pra tirar um extra ainda fazendo um bico, porque a gente quer fumar bem, não é não?

Taoísmo das ruas é isso aqui. (Allan Carvalho)

Pô rasta, então você nunca vislumbrou essa parada (de ser profissional), né?
Interior, né, pai? Tipo, desde os 15 eu já tava trampando e já pensava que trampar é mais fácil do que ter um patrô de algum bagulho, tá ligado? E sempre levei os dois juntos, não teve como. 

Mas você chegava a participar de campeonato em algum momento pra fazer uma grana?
Eu já participei de campeonato, hein? Os campeonatos do interior (de São Paulo) e até o rei da pista em Curitiba eu fui, mas a “fita” dos campeonatos era que a loja que eu trampava pagava inscrição e passagem. Na época eu nunca tinha ido para Curitiba, fui pro Rei da Pista e, se não vou passar para a final, pelo menos tenho o domingo para andar na cidade. Aí era mais ou menos assim: ir para o campeonato era desculpa para conhecer a cidade, trombar os parceiros. Mas eu uns tenho troféus no interior. Já vivi uns campeonatos.

Isso é um Over Willy? (Allan Carvalho)

Hoje você trabalha pra uma marca. Como foi essa transição?
É uma transição, mas de algo que eu sempre vivi, então é meio aquela vaga que, porra… Agora sim, surgiu algo que eu quero fazer, tá ligado? Não sei te explicar mas, ao mesmo tempo, era um bagulho que eu nunca esperava. Tipo, só andei de skate. Trampei cinco anos no meu primeiro emprego lá em Tatuí, dos 15 aos 20, e depois fiquei em Salvador, pá. Antes de vir para São Paulo também trabalhei na loja de um amigo lá, de skate. Eu cheguei em Sampa, fiquei no Carrito, no restaurante. Mas em qualquer trampo sempre tive uma prioridade de tipo: “Quem é meu patrão?”, “quem eu estou ajudando?”. Então, tanto na loja no interior, que eram meus amigos, Salvador, ali na ZSU, em Sampa quando eu cheguei, no Carrito, se for pra eu dar meu sangue, que seja pago e que faça sentido, né não? E quando é assim dói menos. Porque a gente trampa mais de boa, com alguém que eu conheço, é menos mal. Mas fiquei dois anos lá no restaurante antes de entrar na Dabba, na Converse. Lembro até hoje todos os pratos. E essa transição foi algo que eu não imaginava. Eu sentia que precisava dar um passo e isso aconteceu de um jeito inusitado. Foi a benção.

Como foi receber esse convite pra trabalhar lá dentro, já que você já era “flow” da Converse? 
Foi meio bizarro quando o Tiago (Moraes) me ligou. “Ti, eu comprei um PC semana passada. Como trabalha no PC?” Tá ligado? Foi a insegurança de fazer algo que eu nunca tinha feito, mas com aquela segurança, tipo: “Pô, vou trampar com meus amigos”. Eu sei o que eu tenho que fazer, só tenho que aprender o processo. E ao mesmo tempo inusitado, é algo que nunca imaginei, estar junto numa parada dessa. E com o seu aval, né, Stuque? Eu sigo os mandamentos de Stuque ali na Dabba. Tu deixou uma estrutura e eu só tenho a agradecer. Acho que é inusitado porque não tenho faculdade, não tenho nada, tipo, mal falo inglês, não sabia mexer em programas, cheguei no lugar que eu queria chegar e não sabia como. E aconteceu isso do jeito que era pra ser, só agradeço a Jah.

Rice faz parte da diretoria do #TeamHandsomeBrasil. (Allan Carvalho)

E dentro do que você faz hoje, qual a melhor e a pior parte do seu trampo?
Eu acho que a pior parte é não poder ajudar todo mundo que a gente queria, né, mano? Você sabe que o moleque às vezes merece cinco pares de tênis ali, e a gente só tem um. Acho que é a parte mais difícil, ter que lidar com isso, porque tem muita gente que merece e o mercado é injusto. E acho que a mais legal, pra mim, é chegar com notícia boa pro time, tá ligado? Deu certo aquela passagem, um hotel massa pros moleque numa trip, eu acho que isso é a melhor parte, retribuir o que o skate deu. Acho que é a melhor parte, sabe? E aquela situação quando você tem uma ideia e vê aquilo se concretizando, as pessoas gostando, acho que é a parte mais gostosa.

Com o pé rápido desse jeito, o Tite podia ter convocado ele. (Allan Carvalho)

Pensando que você já esteve de todos os lados, tem alguma coisa que você acha que o skatista não entende o lado da das marcas? E da mesma forma, o que as marcas não conseguem entender do lado do skatista?
Eu acho que um dos problemas do mundo é a má comunicação, o que gera guerra, o que gera conflito é, basicamente, a má comunicação. E mano, eu trabalhando lá, hoje em dia até falo: “Caralho, eu era chato” [risos]. E agora tô percebendo isso. Eu falei até pro Diego Sarmento, que está na Adidas, que a gente, como skatista, age sem saber mesmo, né? Só vivendo a gente aprende. Tipo, do meu lado como skatista, reconheço que falta um pouco de (bom) senso. A gente vê o bagulho vendendo pra caralho, tem em um monte de loja e não sei o que, e OK. Mas quantos por cento são produtos de skate e quanto a empresa tem? Tem pessoas que estão fazendo um esforço gigante para acontecer alguma coisa e às vezes a pessoa não reconhece, acha que é pouco caso por não saber o que está acontecendo na interna, né? E hoje em dia eu vejo isso. A gente quer deixar a pessoa satisfeita, então a gente corre internamente e, às vezes, se tem algo não dando certo, a gente nem fala pro skatista, para ele não se abalar e saber que a gente está correndo atrás. Mas é com o tempo, né, mano? É foda. Uns aprendem, outros não, outros sem saber o que que rola na interna, respeitam porque veem que é um corre. Vai de cada um. Às vezes, acontece do skatista não entender, mas também tem o outro lado. Imagina uma pessoa que tem uma vida comum, descobrindo que está ajudando uma pessoa que gasta um tênis a cada semana? Até ela entender que o skatista precisa do tênis, porque o bagulho gasta mesmo e não é por foto, não é por hype, não é por nada além da necessidade básica de estar fazendo o que gosta. Às vezes a marca assume essa responsabilidade sem as pessoas entenderem e gera esse conflito. Tudo por falta de comunicação. E do lado pessoal mudou muito, até dentro da Plural assim, mudou meu jeito de conversar com o Adelmo depois de estar trampando na agência. Você vê de outro jeito, você acaba se comunicando de outra maneira, você vê uma parada mais ampla. Pensei nisso esses dias. Eu, como skatista, acabei vivendo todos os lados, desde o “for fun”, criança, depois um pouco mais correria, mas também o skatista que trampava e andava. Agora o skatista do outro lado da cadeira. Tipo, trampei na loja, então eu entendia como era dentro de uma loja de skate, o consumidor que era skatista, e o lado da marca. Depois trampando do lado da marca, eu entendo o lado do lojista, eu entendo o lado de skatista, e fica mais ampla a visão.

“As pessoas vão atrás de quem está fazendo acontecer. quem domina a rua, domina”

Pensando que skatista é um profissional autônomo, ele precisa saber, sei lá, se comunicar, como você falou, se vender, editar vídeo, saber mandar e-mail e tal, além de só andar de skate. O que que você acha, com sua experiência, que todo skatista que tá no corre precisa focar?
Nossa, pai, essa é profunda porque cada um cria a sua trajetória, não é, mano? Tipo, a fadinha deu um heelflip, a Rayssa (Leal) estava vestida de fada e deu um heelflip e olha o que virou, tá ligado? Tem que ter um pouco de sinceridade consigo mesmo, só a verdade que você vive e acreditar nisso só que com estratégia, e às vezes não precisa disso, às vezes, a autenticidade é tão pura que é isso que inspira as pessoas. O Alison (Rosendo) começou a andar de skate daquele jeito porque foi a brisa dele e fez, sei lá, 100 mil seguidores, em quanto tempo? Acho que tem um pouco do seu corre pessoal, do seu estudo, da sua arte mais internamente, como se organizar. Eu lembro quando eu era novo, antes de trampar na loja, em 2008, 2009. Eu mandava e-mail pras marcas com meus meus vídeos. Lembro quando a Stand Up me respondeu, fiquei felizão. E é meio que um pouco disso assim, é ser sincero com o seu corre que uma hora vai dar certo, e às vezes não. Em 2014, quando eu entrei de flow na Converse, que era uma outra divisão de skate, era outro time na época, lembro que eu mandava mensalmente o que eu estava fazendo. Foi uma das coisas que, quando o Adelmo veio pro Brasil, o Ivan, que trampava na Converse na época, tinha um material pronto para mostrar.  Então é um pouco de saber para quem você está mandando, andar de skate, saber para quais mídias enviar suas coisas, ter uma curadoria do que você solta. Tipo, o skate hoje é global, então se você quiser bombar a nível mundial vai ter que estar andando muito, pensando nas manobras, no tipo que você executa pra não ser só mais um. É igual na música, né, mano? Que marca a identidade, entendeu? Um exemplo, System of a Down. Quem fez algo igual? Eu acho que é buscar a sua identidade e seguir acreditando nisso com um pouco de estratégia pra onde vai, o que solta, o que você quer divulgar. É um yin-yang, malabares. Tem um corre das manobras, tem um corre social que, como qualquer trampo, você pode ser bom pra caralho e, se não souber se comunicar, você fica falando sozinho. É se equilibrar nas ideias. Pensando além aqui, tem um bagulho que o skate diz por si só também. Faça, seja peculiar, específico e consciente, que uma hora dá certo. Outro exemplo que ia falar é o Leo Favaro: o cara “dropa” 3 partes monstras no ano, aí não tem o que falar, o trampo tá feito. Ele não precisa mandar e-mail pra ninguém, tipo, o skate dele fala por si só. As pessoas vão atrás de quem está fazendo acontecer. Quem domina a rua, domina.

https://blackmediaskate.com/wp-content/uploads/2022/11/RodrigoTx_entrevista_luis_moschioni.mp4
Pausa na entrevista para uma mensagem de Rodrigo Tx (Fernando Granja)

Tem alguma coisa aqui que você não falou que você queria falar? Quer agradecer alguém aí que você não citou ou pedir desculpa para alguém que você tá devendo alguma coisa?
O que eu queria dizer o Rodrigo TX já resumiu nesse vídeo, não? Se puder acoplar esse vídeo na entrevista, é uma das coisas que queria falar. E agradecer todo mundo que tá junto, vocês aí do Black Media por sempre dar espaço e botar uma fé. Agradecer aos meus aliados, todo mundo que tá junto pelo skateboard, pela cultura, fazendo porque ama mesmo, porque quer ver progresso para todos. Um salve para todos os coletivos que também mantém a chama acesa. Tem que agradecer a essas pessoas que estão fazendo independentemente de qualquer veneno, que acreditam em algo maior para todos. Fora isso, um salve pra Tatuí, Cesário Lange, meus aliados, todo mundo. Quem é de lá tá ligado, todo o interior desse Brasil. Agradecer a Marcela, minha companheira, por estar junto, minha manager [risos]. Minha família, meu irmão, minha irmã, meus pais, meu sobrinho que fez um ano esses dias, um salve pra geral! Desculpas, mano? Quero pedir desculpa pras mensagens que eu não respondo no WhatsApp, você tá ligado como é que é. Tem altas DM que às vezes a gente esquece. Pedir desculpa pra quem eu não respondi, qualquer coisa me dá um salve de novo, que eu vejo a mensagem [risos]. Às vezes acontece, é muita coisa. Mas é isso. SQUAHHH!

Não é ilusão de ótica, foi subindo mesmo. (Allan Carvalho)

Gostaria de agradecer ao Rice por topar fazer essa entrevista, o Allan Carvalho por disponibilizar as fotos e sequências do homem andando e também aos senhores Douglas Marques e Rayllon Mendes pelo apoio nas pesquisas.

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