Black Media Skate

Luiz Gaida e o Made In Brazil III

O sorriso do acerto. Foto: Mario Kreb (@mariokreb)

O Made In Brazil III já é um clássico mundial dos filmes de skate e, se alguém falar algo contrário a isso, está completamente errado.

Como meu cérebro funciona de maneira diferente por excesso de café, fiquei pensando: “Se o Gema fala tanto de “feito no Brasil”, porque eles colocaram um Polonês pra ter uma parte?”. Assim, fui falar com o Luiz Gaida pra descobrir a verdade por trás do seu apelido, e acabei perguntando outras coisas pra não parecer que era só isso que eu buscava.

No final, ainda descobri onde fica o “H” do Athletico Paranaense, time de futebol do “Polonês”, que já me avisou que, se eles ganharem do Corinthians, vou receber áudio sendo zoado.


O vídeo se chama Made In Brazil, mas o pessoal te chama de “Polonês”. Onde você nasceu?
Então, mano, nasci aqui em Curitiba mesmo, “brasileirão”. O (apelido) “Polonês” veio porque sou descendente de polonês, e o apelido veio lá na pista de skate da creche, da Creche family, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Eu ia andar de skate lá e os caras me chamavam de americano. Eu era meio tímido e ficou nisso, até que uma vez um local da pista me chamou de canto e perguntou: “Qual que é? Você é americano mesmo? De onde que você é?”. Aí eu falei que minha família tem descendência polonesa. Aí que mudou de “Americano” pra “Polonês”.

Luiz Gaida e Diogo Gema sorrindo / Foto: Mario Kreb (@mariokreb)

Eu achei um pouco irônico ter um polonês no vídeo que se diz feito no Brasil, mas está explicado, então tá tranquilo! Falando de MIB, você chegou a assistir aos dois primeiros?
Eu colei na première do Made In Brazil 1 que teve aqui na pista da Drop. Geral colou porque tinha parte do “Marrecão”, o Marcelo Gomes, e assisti algumas vezes a parte do Mário Romário, Caio Boca, do próprio Marreco, do Tutu também e mais outros manos. O Made In Brazil, eu assisti algumas vezes porque o Diogo não liberou no YouTube, né? Não sei nem se vai liberar, mas eu tenho até uma participação lá. Se não me engano, tem uma linha minha na parte do Renatinho, e tem vários manos consagrados do skate brasileiro também: o Renato (Souza), o Biano, o Xaparral, o Yuri Facchini. Eles capricharam na escolha de elenco. Mas eu não assisti tantas vezes assim, porque não tá na internet. Eu acho que o Renato tem, então assisti algumas vezes na casa dele.

Frontside Flip / Foto: Mario Kreb (@mariokreb)

Você falou que o MIB 2 tem um grande elenco, mas o MIB 3 também tem. Como foi pra você receber essa a notícia de que você teria uma parte num vídeo com Fabio Cristiano e Biano? Como veio o convite?
Isso é muito doido, mano! O convite foi feito pelo Gema quando ele veio pra Curitiba. Não lembro se ele veio filmar um programa Olho de Peixe ou alguma coisa do tipo, mas eu lembro que trombei o Renato e o Diogo e aí, no carro mesmo, ele veio com o convite pra eu ter uma parte no Made In Brazil 3. Fiquei surpreso, né? Porque eu faço os meus corres aqui, trampo, e na época eu tava fazendo faculdade, aquela correria… Nunca imaginaria que um dia ele ia lançar essa logo na cara do irmão. Eu fiquei empolgado, emocionado, achei que ia ser de uma hora pra outra, não sabia que seriam quatro anos de filmagem, porque veio a pandemia e muita coisa aconteceu nesses quatro anos; é muito louco! A princípio, quem eu sabia que ia ter parte era eu e o Zezinho (José Martins) mas que teria também a parte 90´s, da safra dos anos noventa. Aí, com o passar dos anos, ele começou a meio que sair muito com o Fabio e ele foi rendendo, rendendo, rendendo, o Biano também, e aí acabou que foi bem inusitado e inesperado ter uma parte no vídeo com as lendas, né? Eu nunca imaginaria. São pessoas que, quando eu era pequeno e andava lá na Creche, onde os caras me apelidaram de Polonês, assistia nas fitas VHS. Me arrepia até falar disso. Pra mim, com essa parte no MIB 3, eu zerei o meu game. Nem consigo acreditar mesmo que isso aconteceu; é um sentimento de gratidão ao Diogo Gema por isso.

Essa daqui foi uma sacanagem / Imagem: Felipe Espíndola (@espetera)

Nesses quatro anos vocês chegaram a viajar pra algum lugar só pra filmar?
Eu fui pra São Paulo, especificamente. Passei três dias, um bate-volta, pra trombar o Gema e o Zezinho também constou nesse final de semana. Sexta, sábado e domingo. Foi a única trip que eu fiz, noventa por cento da minha parte foi em Curitiba, e tenho umas três ou quatro manobras em São Paulo. Acho que uma filmada pelo Espeto ali no Vale, na borda descendo. As outras duas foram com o Gema nessa viagem. Tem outra imagem do Espeto ali, que foi uma oportunidade da Tropicalients colar junto pra Sampa e ele fez uma imagem inusitada ali no Vale. Nem tinha nada planejado; ainda bem que rendeu mais uma, fiquei muito feliz. O Espeto também fez parte desse processo da minha parte.

Pô, se não teve viagem, como foi esse processo do Gema te filmar aí?
Foi muito louco, porque teve a pandemia. Então, sei lá quantos meses a gente descarta. Eu tive umas lesões, aí o Gema vinha sempre de bate-volta, tinha algum evento pra cobrir aqui em Curitiba, então nas brechinhas de tempo a gente saía pra filmar de noite ou domingo de manhã. Se ele tinha que estar no evento à tarde, a gente andava só de manhã. Era tudo bem espremidinho, mano.

“Dá pra ler?” / Foto: Mario Kreb (@mariokreb)

Tá no seu contrato com os Tropicalients que tinha que ter algumas da gangue no vídeo?
Eita, caralho! Não estava no contrato não, mano [risos]! Na real, como os moleques sempre estavam junto na sessão, eu ficava apavorando: “Ó! Quero trick na minha parte!”. Tinha um acervo de manobras com o Espetera e o Gema filmou uma do JP Souza, o Jay Pinga, lá no Vale. Não lembro se foi uma ideia minha ou do Gema, mas ele ficou com a responsa. Ele disse que não sabia se deixava a trick dos moleques pra abrir ou pra depois, porque é uma banca, né? São vários malucos. No fim das contas, ele mesclou. Tem umas tricks no meio, umas no começo… A edição monstra foi toda trabalho dele.

Outra dúvida sincera: Qual é a do cadeado no volante?
Pesada essas ideias, hein? Então, mano, eu tenho um Corsinha Sedã pilaco, sem as calotas, aquele insulfilmão preto, e aí tem que ter a corrente. Ela passa pela parada que ajusta o banco e pelo volante, e eu travo com um cadeado. É o formato caseiro da segurança, né? Se o cara for abrir o Corsinha – que abre bem fácil, não sei se você tá ligado – ele vai ter que fazer mais um pouquinho de força. Pode ser que leve, mas com a corrente leva mais tempo. Aí garante o Corsinha pra sessão dos amigos.

A corrente do Corsinha / Imagem: Diogo Gema (@diogogema)

É um sistema de segurança melhor que o Avast!
Os mano que não estão acostumados acham engraçado pra caralho! Aí estavam o Diogo e o Diego dessa última vez, e eles quiseram fazer um “take” da parada. Eu falei: “Ô lôco, mano! Mostrando a particularidade do irmão”. Mas já teve outros caras que tiraram foto; os caras entravam no carro já batendo a foto e começavam a rir. Mas é a proteção, né, mano? Tecnologia avançada!

É melhor ouvir as risadas da galera do que perder o carro. A gente falou dos Tropicalients que manobraram, mas e o Mário Kreb? Você chamou ele pensando em fotografar algumas tricks ou foi orgânico também?
O Mário Kreb tá sempre com a gente aqui nas sessões. Teve uma foto de um fastplant, que foi uma das primeiras sessões que a gente fez e que tava a banca toda. Tava a banca da Tropicalients, o Mário Kreb, o Diogo, o Diego. Ele é muito unido com a Tropicalients e não é de hoje. É um parça nosso das antigas. Ele mora em Guarapuava, uma cidade que fica há umas 5 horas de Curitiba, então a gente participava dos campeonatinhos juntos quando era moleque. Como ele tá morando em Curitiba há uns anos, é mais um membro da family Tropicas. E as outras foram mais de missão mesmo. Eu dava um salve nele avisando que ia sair com o Gema: “Se quiser colar junto, chega!”. E ele tava sempre presente. Ele teve a oportunidade de filmar uma trickzinha, mas começou a escurecer, as pernas ficaram fracas, aí não deu boa. Mas ele quase filmou uma. 

Gema filmando e o Polonês mandando um Fastplant Fingerflip pra terra / Foto: Mario Kreb (@mariokreb)

E essa história do DVD da trilogia? Você chegou a mandar mensagem pro Gema com seu endereço?
O papo da trilogia em DVD parece que é verídica! O Gema tá até fazendo esses corres lá na gringa. O contato deles aqui no Brasil não deu muito boa. Ele trocou ideia com o Josh Stewart e parece que ele conseguiu um esquema bom, vamos ver. Eu estou no aguardo, mano. Quero muito receber em mãos, pra eternizar mesmo.

Como você falou que zerou o game depois dessa parte, queria que desse sua opinião sobre a importância dos vídeos de skate.
Falando de satisfação pessoal, depois do Made In Brazil foi isso mesmo: dever cumprido. Mas é óbvio que, quando eu falei isso pro Gema, ele ficou cabreiro e falou: “Mas você vai filmar mais”. Com a rapaziada aqui da Tropicalients, com os manos da Yeah Skateboards, que tá desde sempre junto comigo, a gente vai continuar filmando e andando de skate. Vou continuar trampando e andando de skate, não tem como. E a importância disso é marcar no tempo, né? Porque vários vídeos marcaram tempo. Tem vários vídeos que a gente tinha no VHS que… Caralho! A gente assistia todo dia antes de andar. Agora eu não sei se a pegada tá a mesma, saindo no Youtube. É muita coisa, muita informação. Lógico, filtrou bastante, mas a importância de fazer um full video é imensa. Acho que tanto um projeto independente quanto pras marcas. Fazer um um vídeo do time, ou um videomaker” pegar uma gangue de skatista e montar uma coisa independente, que está cada vez mais raro né? Eu acredito nisso, acredito que marca o tempo que a gente está andando, seja 2023, 1998, 2030… É sempre bom ter os full videos pra marcar o tempo, a geração, as tricks.

Renato dando aquele apoio moral pra acertar o Varial Heelflip / Foto: Mario Kreb (@mariokreb)

Você consegue acompanhar a quantidade de vídeo que tem saído ultimamente?
Eu assistia muito mais antes mas agora, com a correria diária, conciliando trampo, skate e estudo, é cabuloso. Mas eu sempre pego um dia da semana ou do fim de semana pra ligar o PC e tentar acompanhar o ritmo, porque hoje em dia está muito frenético; a cada semana sai um vídeo cabuloso. Eu acompanho mais a cena do skate nacional. Lógico que os gringos a gente vê também, mas o Insta é foda, né, mano? Sempre soltam os spoilers, aí você vai ver a parte e já viu a última trick dos caras; é foda. Mas eu estou tentando conciliar, parar uma vez na semana pra ver certinho os vídeos, até mesmo pra ficar ligeiro nos picos.

O acerto do Varial Heelflip depois do apoio do técnico Renato Souza / Foto: Mario Kreb (@mariokreb)

Pô, acho que é isso! Se você quiser deixar alguns agradecimentos, dar um salve pra juventude “skatística” que lê a Black Media, fica à vontade!
Mano, eu quero agradecer ao Diogo Gema e ao Diego Ramos, por me convidar pra fazer parte dessa trilogia chamada Made In Brazil. Nunca imaginei fazer parte, mas foi uma coisa que foi fluindo, as sessões com o Gema, sem pressão nenhuma. Lógico, minha cabeça me cobrava muito, mas fluiu de uma forma tão natural que foi bem louco depois ver o resultado no cinema. E quero agradecer a todo mundo que me deu um suporte “skatístico”, né? Por todos esses anos andando de skate. Então quero agradecer a Yeah Skateboards, a Tropicalients… A minha esposa Raquel também pelo suporte, por fazer parte dessa dessa trajetória de filmagem de vídeo. Quero agradecer também a minha família, o Mário Kreb, que deu suporte com as fotos, estava conosco nas sessões, colando cedo, tendo paciência pra gente acertar. Agradecer o Espetera, que tem algumas imagens no vídeo, agradecer a paciência com as minhas neuroses, minhas nóias na hora de filmar. Agradecer de novo o Gema, que foi um cara que eu filmei bastante nesse período, a paciência dele. Agradecer a Black Media, o Fel, o Mug, o Matheus Stuque pela conversa. Obrigado pelo espaço. Mano, agradecer a todo mundo que gosta de andar de skate, que ama a parada, independente se tá com patrô, se é envolvido com a rapaziada ou não. Toda pessoa que usa o skate como válvula de escape pra espairecer a mente, dar uma remada no intervalo do trampo, se locomover, pegar um vento na cara aquele dia que você só quer dar uns olliezinhos, subir no meio-fio… Quero dar um salve pra essa rapaziada aí, porque skate é vida demais! Pra galera jovem procurar assistir ao máximo de vídeos possível. Querer evoluir sempre é muito bom, mas também é legal cuidar da saúde, tomar bastante água, se alimentar bem, procurar alimentos que vão fazer você se sentir bem pra andar de skate. Se tiver que trabalhar, fazer uma grana, não ficar parado, não ficar esperando. Ficou revoltado, vai de skate pro trampo que já ameniza. Sai do trampo, vai andar de skate. Tem que estudar, já vai de skate também. É isso aí, mano.

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