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Diego Fontes dando o sangue no Skate Livre

A última manobra do Skate Livre 2013 foi a cabeçada no chão de Diego Fontes, quando a garoa já estava se transformando em chuva e o chão já estava bem molhado. Depois de acertar um switch frontside rockslide pela segunda vez no dia, Diego começou a vir de fakie no corrimão mais casca do evento.

Ele quase voltou a manobra, mesmo com o chão escorregadio. Mas, no final, o excesso de adrenalina lhe rendeu três pontos no supercílio e um susto na galera. E essa não foi a primeira vez que Diego teve um contato direto com o chão da Praça Roosevelt: algumas semanas antes, ele havia batido a nuca na double set, o que também lhe rendeu uma doação involuntária de sangue.

Foi neste clima de sangue jorrando para todos os lados que nós fomos trocar uma ideia com Diego para tentar entender o que se passa nessa cabeça cheia de pontos. Assista ao vídeo e confira as ideias dele:


O que você achou dos canos colocados especialmente para o Skate Livre na Roosevelt? 
Os canos novos da Roosevelt vieram para resgatar um skate mas agressivo que, até então, estava meio adormecido no skate amador no Brasil. É uma nova era, e vejo algumas marcas de skate preocupadas em implantar no Brasil um skate que já é realidade há muito tempo lá fora. A Crail está de parabéns pelo evento e pelos canos novos na Roosevelt; somou mil pontos pro skate e três pra minha testa! Hahahaha!

De onde vem tanta base pra andar de fakie?
A base para andar de fakie é uma parada meio natural. Eu gosto de andar, principalmente, na base e de fakie. Ando com o pé direito na frente e sempre com velocidade. Daí, na minha cabeça, fica meio simples, porque se eu ando muito fácil pra frente na velocidade, então porquê não fazer o mesmo para trás? Andar de fakie é fingir que está andando na base, e eu tenho muita força para jogar manobras de base, o que facilita para jogá-las de fakie na mesma potência.

Não é a primeira vez que você deixa seu sangue na Roosevelt. Como foi a história do rola na double set?
A Roosevelt, sem sombra de dúvidas, é um lugar que concentra muita energia; as pessoas que andam de skate, revoltas, contas, problemas com família, perrengue máximo de rua, trabalhos, etc. Nesse dia que eu fui pra andar na double, eu tava filmando minha parte com o Rafael Horse, e falei pra ele que queria fazer o switch frontside flip na double. Ele achou animal e se posicionou para registrar o momento. Até então, tudo muito calmo; só um som psychodelic na minha mente, eu, o skate, a double set, o Horse e uma grande vontade de acertar a manobra pro vídeo. Enfim, joguei o primeiro com muita velocidade, a calma se transformou em adrenalina, chutei a manobra e ela colou logo de prima, voei literalmente uns 5 segundos com o skate colado no pé.

Quando ele chegou no chão, o barulho do impacto parecia um trovão me trazendo de volta para aquela realidade alternativa e me tacando para longe do skate com uma força incrível, atraindo muitos skatistas que estavam na praça. A medida que eu ia tentando a manobra, o acerto parecia ser evidente, o medo e a dor já não existiam e o número de skatistas amigos conhecidos só aumentava; câmeras pra todo lado. Já tinha jogado umas 18 tentativas e nada. Todas muito perto do acerto mas, na décima nona, meu shape quebra. Nessa altura, já tinha deixado meus limites pra trás há muito tempo, estava adrenado e pedi pra alguém da multidão um skate emprestado. O Calado jogou o skate dele e fui mais algumas vezes, e todas colavam e me jogavam longe na volta. Que ódio! Percebi que era um ritual do skate, e que eu que estava fazendo tudo: percebendo a força do skate, concentrando todas as energias da praça e sintetizando pro skate sem querer.

No último capote, lembro de pegar mais gás na hora de ir para a escada, de chutar a manobra com mais vontade, e o limite me cobrou. Não lembro de cair, só de levantar com muita dor na parte de trás da cabeça. Passei a mão e o sangue jorrou! No final, percebi que a oferenda do ritual do skate quase fui eu! Hahahaha! Literalmente dei meu sangue! Aprendi a dar valor aos limites do skate e do meu corpo, e o mais importante, que é dar valor aos limites da natureza: não ando mais na chuva! Hahaha! Já estou acostumado a ir para o hospital. Tenho até companhia – o Caju sempre vai comigo – então foi suave. E vou continuar doando sangue pro skate. Doe você também!

Só fui andar de skate e parece que aquele dia durou um ano. Agradeço a todos os presentes naquele dia.

Quando começou a chover no Crail Skate Livre, o que te motivou a continuar andando?
Foi o fato do evento ter uma premiação em dinheiro muito boa, coisa em torno de R$ 1.500,00. Ajudaria bastante em umas contas em casa e eu guardaria um pouco pra viajar, aquelas coisas.

O que passou na sua cabeça quando você levou o rola?
Que não foi daquela vez pra mim, não deu. E que deveria ter prestado mais atenção!

Como você tá agora? O corte foi sério ou foi mais um susto?
Agora estou muito bem, foi apenas um susto. O evento tinha ambulância, então recebi os primeiros socorros e depois fui no hospital, onde levei três pontos no supercílio! Hahahaha!

Você quer voltar lá pra tentar a manobra de novo?
Pretendo voltar o fakie boardslide no corrimão e o switch fronside flip na double set. Quero filmar minha parte até o final do ano. Assim que finalizar essas duas manobras, já lanço!

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