O que seria do skate sem a astúcia dos skatistas? Se não fossem a inquietação, a indisciplina, o não conformismo, talvez seus rumos tivessem sido outros. É nas ruas onde se consolida a fuga das estratégias que tentam capturá-lo. Aliás, as estratégias se exprimem de vários modos, desde as arquiteturas hostis até as tentativas de esportivizá-lo com a intenção escusa de arrefecer suas experiências citadinas.
O poder está em toda parte, mas os skatistas, sujeitos ordinários que são, também estão. Entre disputas, revanches e mediações, vão garantindo suas existências e tornando-se visíveis nos espaços urbanos. Fazem-se citadinos. E são estas tramas que a mais nova produção do Flanantes pretende abordar.
O mote, desta vez, são as reflexões de Michel de Certeau (1925-1986), autor, dentre outros, de “A invenção do cotidiano”, obra cujo primeiro volume fora lançado em 1980. Não tem como não se apropriar de suas reflexões sobre as artes de fazer e sobre as práticas do espaço sem fazer uma ligação com o skate de rua. Murilo Romão, skatista profissional e produtor audiovisual à frente do Flanantes, captou a possibilidade para a produção daquilo que intitulou de Táticas. Trata-se de uma homenagem ao potente conceito cunhado pelo pensador francês para fazer referência à arte do fraco, isto é, aquele que opera um golpe no que se tenta instituir, que não se dociliza, pois, mesmo diante tantas vigilâncias.
Skate é artimanha. A série Flanantes segue tratando com rigor este princípio a fim de evidenciar aquilo que pulsa desde o chão das cidades. Uma crítica ao planejamento urbano estratégico. Um vídeo incômodo e provocador.
sinopse por Giancarlo Machado
