Aproveitando a ida ao Gnarlon Invitational, evento que o Marlon realiza em parceria com a Yerbah Skate Shop, a Vans descolou uma van (sem piadinhas), colocou boa parte do time na barca e pegou a estrada rumo à Porto Alegre, pra participar do evento e dar aquele esticada em alguns picos da capital do Rio Grande do Sul. A gente acompanhou a viagem, que rendeu um videozão dos bons e várias fotos do fotógrafo e team manager Rodrigo “Kbça” Lima, com quem eu troquei uma ideia sobre a viagem. É só ir rolando a tela pra baixo pra ver as fotos e ler a conversa:
Fala, Kbça! Pra começar, me conta como foi que rolou essa viagem pra Porto Alegre. Foram poucos dias, teve o Gnarlon Invitational lá na Yerbah… Vocês aproveitaram a oportunidade e deram uma esticada? Foi isso? Explica aí.
Essa viagem surgiu junto do campeonato mesmo. A gente teve poucos dias pra entrar (com patrocínio) no campeonato, e não podia deixar de entrar, por ser um evento do Marlon, né? E como a maioria dos Pros da Vans estavam convidados, a gente resolveu levar todo mundo de van, até porque aí dava pra levar alguém junto pra filmar. Foi essa a história: a gente quis curtir uma viagem junto e aproveitar alguns dias pra filmar. Porque se a gente fosse de avião, possivelmente ia bater lá e na segunda-feira já ia embora, não ia ficar lá. E acho que foi a melhor decisão mesmo, ir de van. A gente foi bem confortável, todo mundo tranquilinho, focando só em andar de skate, não precisava se preocupar com outra coisa. E o melhor de tudo foi conseguir reunir esses skatistas. É difícil conseguir botar todo mundo no mesmo lugar, no mesmo momento; todo mundo cheio de calendários complicados e essas coisas… Tem o Xapa que toda hora tá fazendo alguma coisa; o Murilo também, nunca para, sempre difícil. Foi bem legal conseguir botar todo mundo dentro da van, todo mundo junto. Foi uma coisa rápida, mas que deu certo. A gente até estava meio preocupado que não ia rolar tanta coisa de skate, que ia ser meio difícil, mas deu certo. E o principal: um dos caras que foi fundamental ter nessa van foi o Piolho, né? Estava prestes a anunciar a entrada dele na Vans, e a gente queria fazer essa viagem com ele, queríamos ele junto com a gente. Foi muito da hora, bem positivo.
Pode crer. E você já entrou na outra coisa que eu queria ter perguntar. O time da Vans é grande, tem muita gente, e ainda faltou gente na viagem. Como que é pra reunir todo mundo? Quando você tem que começar a marcar com todo mundo, tipo “tal dia vai rolar uma viagem, você precisa estar”? Pra se programar e tal. Explica esse trampo de organizar uma viagem dessas.
Cara, é bem difícil. Nessa viagem mesmo, do time Pro faltou a Yndi, que já tinha compromisso e não conseguiu cancelar. E o Giovanni, que tá se recuperando do joelho. No final, levamos o Kalani como amador. Eu tentei fazer a Ariadne ficar em Porto também, mas ela já tinha uma passagem comprada pra São Paulo, não conseguiu ficar. Então, assim, é bem difícil mesmo. Agora em abril a gente tá com vários compromissos pra vários skatistas, e tá todo mundo já com a agenda meio lotada. Tem algumas viagens que eu tô tendo que jogar xadrez pra ver quem eu levo, quem pode ir. Agora pro Chile, por exemplo, dia 9 de abril, vão Dexter e Ismael. Eu teria que levar a Virgínia (Fortes Águas) pra Costa Rica e Panamá, mas não vai rolar por causa dos compromissos que ela tem na Seleção Brasileira. Então, é assim, esse rolo. É jogo de xadrez mesmo. A gente tá com 15 pessoas no time, bastante gente. Dá pra coordenar, estar atento ao que todo mundo faz, mas reunir tanta gente assim é bem difícil.
Deu pra ter uma ideia mínima do trampo. Outra coisa que eu queria saber: como vocês não tinham muito tempo, estavam aproveitando os dias a mais do evento, como vocês decidiram onde iam colar? Vocês andaram bastante na pista da Orla, a primeira parte do vídeo é ali, foram no Zétopia também… Como vocês decidiram pra onde ir?
O primeiro lugar foi o Zétopia, escolha do Piolho. A gente tinha que fazer a foto de boas-vindas dele pro release. Mas certo que a gente tinha era a pista da Orla, né? Só que a gente foi aproveitando o tempo. A gente chegou na quinta-feira à noite, sexta-feira a gente foi pro Zétopia à tarde, conseguimos dormir mais, ficamos mais tranquilos. No sábado de manhã, antes do campeonato, a gente foi lá pra Zenaide fazer um rolê, foi bem da hora. O Vi conseguiu dar um rolê, o Miguel dichavou o pico, o Kalani gravou, todo mundo conseguiu dar um rolezinho lá. O Kim caiu, se machucou e, ainda assim, conseguiu andar na segunda e na terça, na Orla. A gente também foi no Brooklyn, porque tava ameaçando chover. O Dexter queria andar lá, ele encanou com um wallride que tem lá. As decisões geralmente são tomadas em grupo, acho que nada que é decidido sozinho funciona. Por imposição não vai rolar. Chegar e falar: “tem que ser aqui, vai ser aqui”. Sempre que faz isso, não dá certo. As decisões são tomadas em grupo. Mas é assim: o Zétopia foi ideia do Piolho e a maioria se animou, quis andar também. As decisões não são tomadas por ninguém sozinho.
E sabe o que é mais louco? Na viagem estava o Kim, que já passou dos 50 anos, e o Kalani, que é o mais novo de todos. Isso é muito louco. Piolho e Kim, duas lendas, os Pros que são de agora, estão no auge, o Kalani chegando agora… Como foi essa dinâmica das gerações diferentes na mesma viagem?
Cara, é muito doido essa coisa da idade, né? O Kim tá com 54 anos, o Piolho com 43, e o Kalani tem 14! Acho que o principal é a galera se gostar, se dar bem. Dificilmente alguém vai entrar na Vans só porque eu quero. Se o time não curte, não aprova, não vai acontecer. Mesmo que eu tenha certas liberdades e a empresa tenha algumas necessidades. Mas, geralmente, é assim. Todo mundo se dá bem e respeita suas dinâmicas. Porque tem o Dexter e o Xapa, que são muito acelerados, ficam acelerando todo mundo e não param um segundo. Tem o Piolho, que é na dele. Tem o Miguel, que tem outra personalidade. A gente vai se respeitando. Até porque, se não for assim, dá treta, né? A gente já sabe que ficar todo mundo junto por 15 dias não rola, nessa pegada de tour. A galera vai brigar, é coisa que acontece em família. Irmãos que brigam quando ficam trancados juntos no mesmo lugar. Mas todo mundo se dá bem. Tipo, com o Kim todo mundo fica mais de boa, não zoa muito o Kim. Quando zoa, o Kim vai pra cima; o Xapa que o diga, tomou umas do Kim nessa viagem, foi muito engraçado! O Piolho ninguém zoa, todo mundo deixa ele quieto, no canto dele; ele tem a personalidade dele. É isso, cara. A galera se respeita muito, entende que a personalidade de cada um é diferente.
E já que o vídeo termina com uma festinha de boas-vindas pro Piolho, me fala como rolou a entrada dele pra Vans. Eu sei que era algo que você pessoalmente queria fazer rolar. Lembro que ele já estava de Vans nos Mini Ramp Pro Attack do ano passado, só não tinham anunciado nada ainda… Como foi isso?
O Piolho na Vans começou com uma pilha do Kim e do Danilo. Eu achei da hora, porque ele é um cara que eu admiro muito. Eu conheci ele em 92… Ele ganhou etapa do Mundial, fez um puta nome, lançou pro model nos Estados Unidos e nunca perdeu a humildade. Sempre foi esse cara tranquilo, de boa. E a gente queria outro legend no time. E foi legal; ele teve a paciência pra esperar. Desde o começo, quando comecei a mandar tênis pra ele, eu disse que não ia acontecer de uma hora pra outra, que a gente queria entender, ver se ele queria, se ele gostava do tênis, da ideia… Se o resto do time gostava da ideia também… A gente começou a dar os tênis pra ele há um ano e pouco. Quando rolou o Mini Ramp Pro Attack, a gente já sabia que ele ia entrar pro time. Já tinha falado de valores, de quanto a Vans ia pagar pra ele. Então, nessa viagem pra Porto Alegre, ele já sabia que estava no time, né? Já tinha até assinado o contrato, a gente só não tinha divulgado ainda. Foi muito da hora poder contar com ele, e ver o quanto ele tá feliz de ter uma marca do tamanho da Vans, legal como a Vans, tenha lembrado dele. Isso é um lance que falta no mercado nacional: que algumas marcas lembrem de quem foi importante na história do skate. A gente tem um trabalho bem legal com o Kim, e agora com o Piolho. Vamos começar a incluir eles nas paradas, fazer coisas com eles… Eu tô feliz por ver o Piolho feliz. Ele tá em outra vibe, tá andando de skate muito empolgado. A gente tá tentando programar uma vídeo parte dele pra esse ano ainda. Tô muito feliz, porque eu lembro exatamente do dia em que eu conheci o Piolho, e é um cara que não mudou desde 92. São 30 anos, e o cara segue com o skate no pé, com um dos estilos mais bonitos do skate. E o que aconteceu em Porto Alegre, do público todo ovacionar ele, colocar ele na final… Porque quem colocou ele na final foi o público. Foi muito da hora. Acho que 2022 vai ser um ano pra ele não esquecer mesmo.
Certeza. Pra terminar, quero que você entregue alguns nomes. Eu ia falar no geral, mas vamos falar dessa viagem, porque aí na próxima a gente atualiza a lista. Quero que você me diga cinco nomes: o mais acelerado, o mais chato, o mais lerdo, o que mais dorme e o que mais rende nos picos.
O mais acelerado é o Dexter, sem dúvida alguma. O mais chato sou eu. O mais lesado é o Miguel; o que mais dorme é o Miguel. Só não vou dizer que ele também é o que mais rende porque nessa viagem estava o Kalani, que é jovenzinho: cai e não se machuca, e anda em todos os lugares. Mas eu acho que o Miguel preenche essas três casinhas. O bicho é lesado, é difícil de acordar de manhã, mas quando anda de skate é impressionante. No Zétopia eu não consegui fazer nenhuma foto dele porque ele acertou tudo de prima, eu não consegui nem armar nada pra fazer a foto. Ele ia, dropava, dava uma manobra, descia e ficava filmando.