Black Media Skate

Danny Way – Jenkem

Traduzimos mais uma entrevista animal feita pelo Ian Michna, da Jenkem. Dessa vez, um dos maiores ícones do skate mundial, a lenda Danny Way.

Descubra se a Plan B é marca de playboyzinho, conheça a importância do Questionable, saiba como fazer para manter suas articulações jovens e lembre-se da época em que o skate era movido apenas pela paixão.


Já ouvi gente dizer: “O Danny Way não vai parar até se auto-destruir fisicamente.” Será mesmo preciso uma fatalidade pra te parar?
Não sei. Não tenho expectativas de quando vai acabar ou de quanto tempo ainda vou andar. Eu meio que levo um dia de cada vez. Mas espero continuar ainda por um bom tempo. Porque nem de longe estou satisfeito com as coisas que fiz, e tenho uma grande lista de coisas que ainda quero fazer. Quer dizer, é claro que as coisas que já fiz na carreira me deixam feliz e agradecido. O que estou tentando dizer é que ainda tem muita coisa que quero fazer.

Com o vídeo novo da Plan B chegando aí, você acha que ele vai mudar o skate como os primeiros vídeos fizeram?
Não acho que vá mudar, mas vai reafirmar o nível que nossos caras estão, e a sua consistência sempre em evolução. Eles estão dando as melhores manobras, consistentemente, com várias variações e em lugares cada vez maiores. E não demoram muito pra acertar, então tem bastante coisa. Por exemplo: quando foram pra China, recentemente, só o (Ryan) Sheckler tem mais imagens em uma viagem do que todo mundo da Girl já fez na China em todas as viagens. Não estou querendo tirar a Girl, só estou colocando em perspectiva a força do Sheckler. Com o Torey (Pudwill) é a mesma coisa. Ele poderia filmar uma parte inteira em dois meses, e seria a melhor parte. Então, quando você passa dois ou três anos filmando um cara desses, quem sabe o potencial? Tem tanta imagem que você pode escolher só as melhores das melhores. Eles estão, todo dia, fazendo manobras que fechariam qualquer parte.

Já vi gente chamando a Plan B de marca de playboyzinho. Como você se sente com isso?
Bom, não acho que ninguém no nosso time tenha algum tipo de intriga com alguém, pois sei que eles são comprometidos com o skate. Quanto a serem playboys, você diz o quê? Torey, P-Rod e PJ (Ladd)? Eles não me parecem playboys. Talvez o Sheckler pareça mais com isso porque ele gosta, às vezes, de ficar sem camisa e tal, mas ele é o único cara do time que eu vejo recebendo esse tipo de crítica. Mas se você passar uma horinha andando de skate com ele, vai ver que isso é a última coisa que ele é. Acho que nós cobrimos várias vertentes no skate; cada cara traz algo único e somos todos totalmente comprometidos com o skate.

Então, isso não te incomoda.
Eu adoro o ódio. Quer dizer, azar, quem liga? Se querem odiar nosso time e dizer que somos playboys, azar. Estamos muito focados no skate e, se as pessoas querem encher o saco com isso, assistam ao vídeo e aí podem nos chamar do que quiserem.

Se você pudesse sugerir um vídeo pra quem tá começando agora, qual seria?
Não é por nada, mas acho que o vídeo mais influente e educacional pros garotos assistirem hoje é o Questionable, da Plan B mesmo. Esse vídeo pegou tudo que estava acontecendo no skate, os diferentes caminhos da evolução das manobras… Pegou tudo que tinha de bom, colocou em uma caixa só e selou junto com o que eram as coisas fundamentais do skate. Tudo depois desse vídeo foi uma evolução dessa fase de progresso. Evoluiu a partir daí.

Se um garoto quer descobrir porque as coisas são do jeito que são, porque os caras não dão mais tanto boneless ou handplants na rua, pressure flips ou no complies… Acho que esse vídeo foi o mais importante da era moderna do skate, e segue atual até hoje.

Ouvi dizer que você anda fazendo umas batidas.
Você não acreditaria, mas já tive mais estrelas do hip-hop na minha casa do que qualquer um que tenha algo a ver com o heavy metal, te garanto.

Essa é uma imagem engraçada pra mim: Danny Way fazendo um rap na bateria ou no computador.
É engraçado. É tão obscuro quanto parece, acredite. Tipo, do nada, o Mase veio à minha casa outro dia; o Del (The Funky Homosapien) vem de vez em quando trabalhar nas músicas. Estou trabalhando em algumas faixas com um cara chamado Mod Sun, um rapper muito bom, cara legal. Também estou trabalhando em músicas com Shwayze e Stevie J. É engraçado como o mundo funciona; por algum motivo estranho, a cena musical que me atrai é feita por caras que produzem hip-hop e eletrônico. E tem sido uma boa influência pra mim.  Eu tenho um passado de guitarra e música ao vivo, orgânica, então tem sido bem legal. Estou aprendendo muito.

Algum streeteiro já varou a Mega Ramp e a gente não sabe?
Pat Duffy. Rendeu uma fratura bem séria na perna, mas ele foi que foi. Acho que ele está bem contente com o sucesso na rampa; só teve problemas depois do gap, no quarter. Ele foi ejetado direto pro flat e quebrou a perna. Ele é o cara mais sangue nos olhos que eu conheço, ele tem um compromisso com o skate. Se você vir Duffy andando agora, tá mancando bastante. Isso veio da Mega Ramp.

Tem alguém que disse que queria tentar de qualquer jeito e, quando chegou lá, arregou?
Tem muitos caras que disseram que viriam andar na Mega, mas poucos realmente o fizeram. E venham, por favor! Não discrimino ninguém. Rob (Dyrdek) foi até lá comigo. Talvez ele me odeie por dizer isso, mas ele esteve lá três vezes, eu o desafiei a varar o gap, mas ele nunca foi. Até treinei ele um pouquinho no vertical. Aí nós fomos lá, ele descia até a metade e ia de joelho até o final. Ele tentou uma cem vezes, mas simplesmente não conseguia tentar mesmo.

Coitado do Rob.
Ele quer, cara. Ele quer tanto que o fato de nem ter voado por cima do gap está o devorando por dentro.

Quando você está lá, olhando pro que você vai fazer, tipo pular a Grande Muralha, você tem algum tipo de rotina ou preparo mental?
No caso da China, houve várias coisas que tornaram tudo mais estranho. Havia uma incerteza, até por estar fora do país sem tantos recursos médicos que me deixariam confiante. Além disso, a estrutura não era muito estável. Estava tudo, literalmente, se mexendo uns 15 centímetros pra lá e pra cá, por causa do vento. Senti uma humildade muito grande este dia. Não acho que eu tenha um ritual, mas eu tentei, por um momento, pensar nas coisas boas da minha vida. Isso fez, definitivamente, eu me encontrar por um segundo. Também penso nos meus mentores; tento vê-los me dando palavras de apoio.

Você já se recuperou de vários machucados sérios. Você é mais de medicina alternativa ou tradicional?
Depende do que tiver acontecido. Se você estourar o ligamento do joelho, meditação e yoga não vão te consertar; é só com cirurgia. Depende do que for mas, para a maior parte, eu usei medicina alternativa. Com tanta coisa zuada no corpo, essa acabou sendo a escolha certa pra mim. Se eu ficasse no tradicional, acho que poderia ter me acabado, abusando de remédios, drogas e tudo isso.

Tem algo que você faz frequentemente ligado a isso?
Bom, eu sempre acreditei que isso depende do respeito que você tem pelo seu corpo e como o usa. No geral, saúde é uma coisa que não tem preço, seja fisicamente ativo ou não. As pessoas colocam seu dinheiro em carros, no som ou sei lá o quê, mas reclamam de comprar comida orgânica porque é caro. Aí eu fico: “Pô, peraí… Você acabou de comprar um jeans de marca por US$ 300 e tá reclamando que as maçãs orgânicas custam um dólar a mais por quilo?” É engraçado; acho que as pessoas deveriam ter mais consciência disso e não se colocarem em segundo plano.

Ouvi dizer que você injetou medula óssea nas articulações, pra tentar rejuvenecê-las.
É. Eu vivo querendo achar a fonte da juventude, então… Tento qualquer coisa pra fazer meus joelhos voltarem a ser como eram há 15, 20 anos. Seria demais.

Ajudou?
Com certeza, mas eu abuso constantemente do meu corpo, então é difícil dizer o que está funcionando e o que não está. Pelo menos, eu continuo firme, o que é ótimo. Quando você puxa os limites físicos constantemente, você não sabe mais de nada, pois está sempre sentindo alguma coisa. Eu vivo em constante perigo físico.

Eu acabei de ler sobre uma tecnologia que pode, realmente, reverter o processo de envelhecimento e até traumas físicos.
Não vi nada sobre isso em particular. Se for verdade, porra, vou precisar fazer isso.

Você é skatista profissional há mais de 20 anos. O que você nota de diferente entre os skatistas de hoje e os de quando você começou?
Acho que a valorização do skate está diferente hoje. Antigamente, existiam poucos lugares pra se ir andar de skate no mundo. Menos profissionais, menos picos… Qualquer coisinha, como achar um pico novo, ir à pista ou pegar um skate novo, era grande coisa. Nem se falava em ser patrocinado e, talvez, ganhar dinheiro pra andar de skate. Naquela época, o profissional mais top fazia, no máximo, US$ 100 mil por ano. Talvez Tony (Hawk) estivesse ganhando isso do meio pro final dos anos 80. E tipo, eu achava que ele era um rockstar, sabe? O skate me parecia muito mais especial em alguns aspectos. A paixão pelo skate era o que sustentava tudo.

Acho que você tinha que ser apaixonado, senão era perda de tempo.
Sim. Naquela época, você não ia tirar muito mais do skate além dos bons momentos; não havia nada além disso. Você realmente tinha que trabalhar para construir uma carreira e, mesmo assim, não tinha certeza de nada, pois a indústria era totalmente desorganizada. Não era um esporte, era uma subcultura que não tinha nada a ver com o mainstream.

Agora, é meio que um esporte padrão da sociedade mainstream, e isso atrai gente de todo tipo. Então, eu me sinto, sim, grato por ter feito parte disso quando ainda era tudo pequeno. Ao mesmo tempo, é maravilhoso ver os recursos e coisas que estão acontecendo no skate hoje em dia, com oportunidades pra todo mundo. Também sou grato por isso. É muito bom saber que eu fui um dos caras que pavimentou esse caminho.

Eu acho irado ouvir que você está ainda mais motivado, depois de tudo que já fez.
Quando você faz algo por muito tempo, se torna um padrão. É como se eu não fosse eu quando não estou nesse ritmo, nessa rotina. Então, não sei o que vou fazer quando não tiver mais a responsabilidade de ser um profissional e manter um nível de consistência e evolução. Tomara que eu consiga realizar mais algumas coisas antes que seja tarde demais. Aí vou poder deitar na cama e dormir bem; não quero ficar pensando em coisas que podia ter feito.


entrevista por Ian Michna
tradução por Felipe Minozzi (Fel)
Artigo original

Thanks, Jenkem Mag!

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