Black Media Skate

Bruno Bilico – VHS

Bruno Bilico, cria da Vila Maria, começou a andar de skate no famoso Sacolão, e sempre gostou de filmar, registrar as manobras que saíam. Graças aos amigos, conseguiu resgatar um material analógico, filmado de VHS no começo dos anos 2000, e jogou na mão do Murilo Romão, seu parceiro, pra editar. O resultado é essa vídeo parte a que você assiste agora. Raridade total, agora livre do mofo.

E aí, Bilico! Eu tava lembrando aqui, o primeiro vídeo que a gente filmou pra Black Media foi com você e com o Okamoto, lá na Tiquatira. Lembra? Filmei com o iPhonezinho 4.
Nossa, verdade! Lembro desse dia, mas não que foi o primeiro vídeo do Black Media. Foi massa. Caralho, faz tempo que eu não faço uma sessão com o japa. Ele é foda, a gente briga direto, mas ele é da hora. Ainda bem que tem a internet pra lembrar a gente dessas paradas. Eu gosto de ver os vídeos antigos.

Pode crer. Então, vamos falar dessa vídeo parte aqui, vai. Que imagens são essas? É VHS? Foi filmado quando, onde… Tava tudo guardado, qual que foi? Fala aí.
Então, essas imagens são de VHS. Algumas são da câmera do Kaíque Amorim, lá da Vila Sabrina. Tem imagem do Lobão, que tinha uma miniDV. O Zito fez algumas também… Essa vídeo parte, na real… Eu já tinha uma vídeo parte no Activídeo, que era uma produção independente do Kaíque. Começou tudo no Vitor, lá na Vila Sabrina. O Naldinho já mexia no computador, o Kaíque tinha a câmera, e eles filmavam. Eles, o Lupan, o Caio… Aí eu comecei a colar. Isso em 2001, 2002. Aí o Naldinho me mostrou o vídeo que eles estavam fazendo e eu fiquei de cara: “Caralho, os caras fizeram um vídeo. Como eles fizeram um vídeo?”. Porque, na época, a gente só via vídeo gringo e os Chiclés. Aí a gente começou a filmar, ia pra rua direto, quase todo santo dia. Aí, na escola, eu achei uma lente, tipo de microscópio, não era de câmera. A gente pegou e não arrumou nada, não funcionou, lógico. Aí a gente desmontou a lente, eram vários anéis. Fomos colocando um por um na câmera, e teve um que a gente colocou e “bum”, abriu a imagem. Abriu um pouco, não foi aquelas coisas. Mas, pra nós ali, estava uma maravilha. Aí já enchemos de durex pra prender e fomos filmar.

Esses Activídeos, a gente fazia première no quintal da casa dos parceiros mesmo. Juntava a galera, comprava os drinks e já era. O 1 acho que sumiu. O Kaíque acho que soltou na net só o 2 e o 3. E essa câmera do Kaíque eu quebrei também. Tava passando as imagens, com o fio atravessado, eu levantei pra ir no banheiro e derrubei tudo, quebrou… Ficamos sem filmar mó cota. Aí ele arrumou uma miniDV mais atual, que eu também deixei cair filmando uma linha dele. Quebrou também. Dei dois prejuízos pro cara.

E essas imagens eu resgatei gravando de fita pra fita, pedindo pros caras, que nem na época do ZRM, gravando por cima nas fitas de pornografia. Era essa a ideia. E tô soltando agora porque pedi pro Rodrigo, da 55VM, converter em arquivo pra mim. Eu tinha medo de mofar e perder tudo. Eu não tenho computador, aí dei um salve no Murilo (Romão), pra ele editar, ele fez esse vídeo. Se mofasse, ia perder tudo; agora tá registrado, documentado uma parte da minha vida que não volta mais. O Lobão deve ter mais um monte de coisa na miniDV dele.

Você falou de Vila Sabrina, mas e a Vila Maria? Foi onde você começou a andar?
Foi. Inclusive, eu conheci o Kaíque no Sacolão, que é Vila Maria, né? Foi onde eu comecei a andar de skate. No Sacolão ficava uma galera do break, uns punks, os skaters… O Sacolão é a maior referência ali da Vila Maria. Mas foram poucos dali que vingaram no skate. Tem o Cris Fernandes, que era de lá, colava lá sempre. Aí tinha o Samir, que me ajudou muito, me dava shape da Drop, uns Drop Shoes… Era de lá também. Sacolão era foda… Eu estudava de tarde, então só dava pra andar de manhã, porque à noite não podia sair muito. Aí chegava pra minha mãe e falava que não ia ter aula porque o professor morreu. Devo ter “matado” uns dois, três professores. Aí descia pro Sacolão e ficava o dia inteiro andando de skate.

A gente já construía caixote nessa época também. Não vou nem citar nome pra não queimar o filme dos caras, mas já teve vez que a gente fez um caixote de qualquer jeito lá, sem saber nada. Ficou tudo balançando, mas pra gente tava dez, as manobras tavam saindo. Aí esses caras mais velhos andaram e detonaram o caixote, falaram que tava uma bosta, foram embora e deixaram lá, tudo quebrado. Essas coisas marcam, né? A gente era moleque, acaba marcando essas coisas. Já roubamos corrimão pra levar pro Sacolão…

A Vila Maria era mó escola. Lembrei também: uma das maiores referências pra começar a andar de skate lá foi o Dentinho, né? Ele já andava, dava as manobras, acho que já era da Reef, saía na revista. Eu via aquilo e queria ser igual, né, mano? Mó viagem. O Dentinho foi uma referência enorme pra mim ali na Vila Maria.

E sobre filmar, sempre achei importante, mais que campeonato. Registrar o momento, né, mano? O troféu é uma lembrança, beleza. Mas a imagem, tipo… Tem manobra que você não vai acertar mais, é aquela vez e já era. Filmar é o que eu mais gosto de fazer.

Os Cruz-Credo. O que é isso?
Então, Os Cruz-Credo… Por um tempo eu achei que eu que tinha pegado uma influência de uma pixação do Beavis, do Tribunal, que morava do lado do Sacolão, na 20. Porque eu queria fazer uma crew, mas não vinha o nome. Aí veio “Os Cruz-Credo”. E, na época, a gente fazia umas tags, tá ligado? Pixava também… A grife de tag que eu tinha era a Shock. Aí eu falei pro Beavis: “Ô, Beavis! Os Cruz-Credo dá uma pixação da hora!”. Ele falou: “Pode crer!”. Aí ele fez a pixação “OS”, aí aquela cruzinha tradicional, com sombreamento, e o “CREDO”. Aí beleza, passou um tempo e tal. Um dia, eu tava sentado no Sacolão e, na pilastra, tava esse pixo: Os Cruz-Credo. Eu olhei e pensei: “Esse nome aí é legal pra uma crew, uma marquinha…”. No começo, a ideia era uma crew. Aí eu coloquei o “skateboard” embaixo. Se alguém perguntasse se tinha a ver com a pixação, eu falava que foi influência. Só depois de um tempo que vieram me lembrar que, na verdade, eu que tinha dado a ideia do nome, lá atrás.

Não tinha rede social direito, eu não tinha acesso à internet, então eu nunca tinha visto nada com esse nome. E quando lancei a crew, já tinha parado de pixar, já tinha rodado e decidi parar. Aí começou a crew. Pedi pra um parceiro fazer o Facebook e tal… Aí foi passando o tempo e eu pensei: “Dá pra fazer uma marca, né?”. Aí comecei a fazer as camisetas e tal… Vendia uma aqui, outra ali… Ainda não deu pra colocar um investimento, mas eu deixo a chama acesa pra, quando der, fazer uma marca de skate mesmo, de confecção, de roupa, diferenciada. Meu projeto é que, no futuro, vire uma marca de skate mesmo, pra fortalecer a cena nacional. Montar um time com a galera underground… Você tá ligado que o skate não é só a galera do mainstream, né? Tem muita gente que anda muito, não chegou no mainstream, mas não parou de andar, independente de patrocínio. Guerreiros mesmo. É foda, material é caro, ainda mais no Brasa. Esse é meu projeto futuro. Pegar o skatista e fazer um pro model de roupa do jeito que ele gosta de usar. O outro gosta de outro jeito, vamos fazer do jeito dele. Uma marca que seja pro gangueiro, pro punk, pro rasta, pro moderno, sem limitações. Uma marca de skatista. Hoje em dia, eu já considero uma marca, não uma crew. Agradeço todo mundo que tá junto e acredita. Vai dar certo. Eu que estampo as camisetas, eu que faço a tela, minha vó me ajuda com as bolsas que eu faço também… Não vou contar as ideias futuras, porque a galera vai captar e aí é foda.

E o nome da parte vai ser qual?
Pô, não sei, não pensei nisso ainda. Se tiver um nome legal pra colocar, manda marcha. Não veio nenhuma ideia. Acho que VHS tá legal já. Essa pergunta foi mais difícil que as outras. Hahahaha! Já que o Murilo deu essa atenção editando o vídeo, pede pra ele colocar o nome.

[falando com o Murilo]
E aí, mano! O Bilico falou que você que vai colocar o nome na parte. Qual colocamos?
Murilo: Vixi, responsa, hein? “Da Vila Maria ao Morumbi”. Não, zueira. Mano, não sei. Bruno Bilico – VHS, pra marcar?

Demorou, vamo de VHS.

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