Depois de dez anos do primeiro Lost Tapes, Danilo Cerezini, um dos skatistas brasileiros mais estourados do começo dos anos 2000, ainda muito jovem, lança o Lost Tapes V.2, dessa vez aqui com a gente. Aproveitei o vídeo pra trocar uma ideia com ele, dessa vez mais sobre o próprio vídeo e sua vida atual, morando no Brasil depois de muito tempo nos EUA. Fiquem tranquilos: na primeira oportunidade a gente pega ele, coloca na poltrona e faz uma entrevistona maior. Por enquanto, segura aí as ideias atuais e manobras inéditas de Danilo Cerezini.
E aí, Danilo! Hoje a gente vai falar mais da vídeo parte porque, depois, mais pra frente, a gente quer fazer uma entrevistona mais parruda com você. Isso vai rolar, com certeza. Dito isso… Caralho, hein? Dez anos depois do primeiro Lost Tapes, soltando o segundo agora. Me fala de onde saiu o primeiro, de onde são as imagens, e de onde saiu esse segundo agora.
Caralho, mano, nem me toquei que tem dez anos da outra. Casou as datas, da hora. Então, a ideia veio também porque eu tava meio off, fiquei meio off uns quatro anos, desde que eu abri o bar (Hike), por opção mesmo, por estar meio saturado, cansado dos business aqui no Brasa. Sempre fui acostumado com os Estados Unidos, desde pequeno, e lá o esporte é outra pegada, né? Então, quando voltei a morar no Brasil, fiquei mais uns quatro, cinco anos tocando aqui com as marcas e tal, fazendo acontecer… Mas, cara, chegou uma hora em que eu abri o bar e decidi algumas coisas por estar meio saturado. Como eu fui muito cedo pra gringa, as coisas aconteceram mais cedo pra mim, tá ligado? Eu vivi tudo mais cedo que outras pessoas. Nesses quatro anos eu tava andando na minha, quando estava afim, sem compromisso, e sendo feliz, feliz pra caralho. Só que, ao mesmo tempo, estava vendo que não queria deixar passar o timing, pra quando chegar nos quarenta e poucos, cinquenta anos, me arrepender de não ter andado mais de skate, tá ligado? Então decidi voltar a andar sério, estar no meio da parada. Fechei com a Blaze, vamos lançar meu shape logo menos. Então eu tô meio que voltando, né, cara? Mas fazendo mais os rolês que eu curto, as viagens, os campeonatos que eu gosto… E essa ideia do Lost Tapes veio meio que por isso. Eu e o Bocão (Felipe Ventura) sabíamos que eu tinha muitas imagens que nunca foram usadas — umas que até cheguei a soltar no Insta durante esses quatro anos, pouca coisa. Mas são imagens que eu dei o sangue e nunca foram usadas. E aí veio essa ideia e tá casando com essa data, depois de dez anos da primeira Lost Tapes. A parada é essa. Tô voltando, tô andando de skate, mais na minha pra andar de skate, me divertir, fazer as viagens, ver os amigos, encontrar a galera, ir pra campeonatos legais. Tem esse Lost Tapes agora, daqui uns meses tem outro vídeo, desse projeto do shape que ainda tá meio mocado, mas quase pronto. E esse mês ainda tô indo pra Europa, pra lançar uma vídeo parte esse ano ainda, ou ano que vem. Ah, e respondendo sobre o primeiro Lost Tapes, eram imagens que acabaram sobrando das vídeo partes que eu estava gravando na época; sempre fui de render muita imagem, então sempre sobrou bastante coisa. Aí fui guardando e lancei a primeira. E é a mesma coisa com essa segunda agora. Já faz uns quatro anos que eu poderia ter usado essas imagens, que estavam paradas.
Eu ia te perguntar como está sua vida agora, mas você já falou um pouco. Você lembra como estava sua vida na época do primeiro Lost Tapes, pessoal e profissionalmente? Você consegue pensar o que melhorou ou piorou entre esses dois momentos, o que mudou na sua mentalidade nesses dez anos?
Em 2012, dez anos atrás, eu já estava quase voltando pro Brasil. Eu cheguei lá fora em 2002; passei pra profissional em 2008, no começo do ano, e no final do ano veio a crise. Peguei a barra pesada dessa crise por lá. Em 2012, eu já tava meio saturado, não aguentava mais, tava querendo voltar pra casa, mas acabei ficando lá até 2014. Mas com essa ideia de voltar na cabeça; as coisas estavam voltando a melhorar, mas nada comparado ao que era antes da crise. Naquela época, eu estava com essa indecisão na cabeça: “volto pro Brasil ou não volto? Fico aqui?”. Era uma época meio estranha por lá, pro skate em geral. Nessa época, minha vida pessoal… Pô, vou te falar que minha vida pessoal sempre foi meio tranquila, irmão. Apesar das avalanches, sempre estive de boa. E sobre o que melhorou ou piorou, acho que só teve melhoras. Eu saí de casa muito cedo, em 2002, e larguei tudo: escola, família, e fui realizar meu sonho. Estava muito feliz, realizando meu sonho, vivendo no berço do skate. Foi muito intenso, eu era muito novo, mas eram mil maravilhas. O que acabou afetando foi essa crise de 2008, que abalou meu psicológico também, porque eu já era mais grandinho, já tinha vivido bastante ali. Ainda aguentei a barra, fiquei mais uns cinco, seis anos, as coisas melhoraram mas eu estava abalado psicologicamente mesmo, tá ligado? Decidi voltar e aí foi só melhoria, voltando pro meu berço, meu país, minha cultura. Mas no skate foi aquele choque de realidade, né? As coisas aqui são diferentes mas, mesmo assim, consegui fazer acontecer. Eu ia trazer a Blind na época, mas acabamos trazendo a Boulevard. Eu saí da Blind e entrei pra Boulevard por causa disso, pra poder trazer e distribuir a marca aqui. Esse era o meu plano pra me manter no Brasil e nos EUA, não fechar as portas lá. Mantive isso até 2017, que foi quando eu abri o Hike. Então teve esses ups and downs na parte do trabalho, do skate. A vida pessoal foi sempre meio tranquila, como te falei. Sempre fui muito grato pelas coisas que eu vivi, tudo muito cedo. Teve uma época também que tive a minha loja online, sempre deu boa. Aí fechei ela e um ou dois anos depois abri o meu bar que, graças a Deus, tá sendo bem-sucedido, cresceu muito. Hoje em dia minha vida tá bem mais estável, em todos o sentidos. Principalmente na parte financeira, que hoje pesa muito, porque eu não tenho patrocínio que me banque, pague salário… Não vivo mais de salário do skate, como vivi durante 20 anos da minha vida, desde pequeno. Hoje em dia, o que me sustenta é meu bar. Só crescendo, colhendo os frutos. E o bar veio por causa do skate. Ele só tem sucesso por causa do skate, não tenho dúvidas. Muita gente que cola lá nem sabe quem eu sou, só sabe que o dono é um skatista profissional. E a mentalidade hoje com certeza é outra, irmão. Hoje, com 34 anos, se eu pudesse voltar 15, 20 anos, faria algumas coisas diferentes, sem dúvida. Mas não me arrependo de nada. Foi aquilo, são momentos, são fases e é isso. Passamos de fase, vida que segue.
Eu ia te perguntar do bar mais pra frente mas você já citou, então vamos falar dele agora: você já fez algumas — ou várias — coisas além de ser skatista profissional: teve a Cerezini Skate Shop, agora tem esse pico na Praia Brava… E tendo estourado tão cedo no skate, você hoje vê que o skate foi bom com você? Ele fez bem pra sua vida? Já pensou sobre isso?
Porra, com certeza, mano. Fez bem total, sou muito grato. Tudo que eu tenho na vida, tudo que eu vivi foi graças ao skate. Como aconteceu tudo muito cedo, minha vida inteira foi baseada nesse meio, tá ligado? Com 13, 14 anos, nos Estados Unidos, com várias lendas, caindo direto lá com os caras, foi a vida que Deus me deu, tá ligado? Eu vivi isso muito intensamente. Sou muito grato por tudo que eu vivi, que eu vivo, me ajudou e ajuda muito até hoje. Os contatos… Pô, muita coisa que eu fiz no meu bar foi por contatos da vida do skate, tá ligado? Tudo na minha vida é ligado ao skate, desde pequeno. Minha vida antes dos dez anos foi totalmente diferente, nada próximo do skate. Era do interior, cidade pequena, gostava de futebol, andava a cavalo, escola e clube. Era isso que eu fazia. Quando eu fui pra Curitiba e conheci o skate, com oito anos, aí foi só skate. Meus business também, o primeiro já foi ligado ao skate. E esse agora, que não é ligado ao skate — é um bar e restaurante — tem os contatos do skate, uma galera que vai tocar lá que vem do skate, exposições de arte com várias marcas… Muita coisa veio do skate. O skate fez, faz e vai fazer parte pro resto da minha vida, com certeza. E por isso voltei a andar, pra não me arrepender depois de não ter andado mais. Por isso vou viajar, fazer uma parte… Tô na ativa.
Apesar de aparecer pouco nos últimos anos, nas mídias e tal, você construiu uma coisa muito sólida lá atrás. Quem gosta mesmo de skate sempre se anima quando sabe que você vai soltar alguma coisa. Isso é bem nítido pra mim. Você sente isso?
Legal essa pergunta, porque eu não sentia isso. Comecei a sentir com as pessoas falando, nesses últimos cinco, sete anos. Até então, não achava isso. Mas a galera vindo me falar quando me via e tal, me despertou pra isso. Hoje eu tenho essa consciência, acho irado. Antes de mim, outros abriram as portas um pouco antes: Piolho, Juninho, Gerdal, TX… Aí logo depois veio eu, o Lima, essa geração aí. Acho que a minha geração foi a que mais abriu as portas, até por causa do lance dos campeonatos, né? A do Rodrigo também, que foi muito espelho pra nós. E aí veio a nossa geração, que era muito nova, mais fácil de se dar bem nos eventos, nos campeonatos. Com certeza, isso abriu muitos olhos e muitas portas pra essa galera que veio logo na sequência.
Você já deu spoiler da Blaze, e nesse Lost Tapes V.2 tem muita coisa misturada de marcas diferentes, marcas pelas quais você passou. Como você tá hoje com relação a isso? Tá com patrocínio, tá indo atrás, tá focado no game? Ou quer andar só por prazer mesmo? Me fala disso e das imagens do vídeo.
Tem imagem de 2014, 2013… Até 2012, umas coisas que não foram usadas, tô até com camisa da Asphalt, tem Puma pra caralho… Ah, foram as passagens. Hoje em dia, tô com a Blaze de shape, com a Santa Costa, uma marca local de roupa com quem tenho parceria há muito tempo, lanço umas collabs com eles, com o meu nome. Tênis, eu tô pegando uns New Balance, mas não é nada certo; sou amigo dos caras e eles me mandam. Tem a Crupiê, do Gerda, e o Hike! Mano, não tô correndo atrás de nada, tô bem mocado ainda, só tem uma galera que tá sabendo da parada da Blaze; já tô terminando meu vídeo de introducing na marca. A gente tá esperando chegar o contêiner com os shapes, e talvez chegue agora quando eu estiver na Europa. Tô indo pra lá filmar na rua, fazer uma vídeo parte de verdade. É isso, mano. Tô bem de boa, deixando acontecer, mais preocupado em viajar, produzir, indo pra alguns campeonatos que eu gosto, o que tá difícil, né? Porque um dos únicos que eu gostava no Brasil era o Matriz, e não tá rolando. Mas tô despreocupado, irmão. Mais focado nesse projeto com a Blaze, dando meu máximo de atenção pra eles. Não tô mais na pegada de ficar andando de skate todo dia, como quem vive do skate hoje em dia. Tenho outras coisas pra fazer, às vezes outra prioridade. Tô andando de skate, vou viajar, mas não estou só no skate; tenho outros hobbies hoje em dia, tenho família, meu sobrinho… Mas tô focado em produzir, lançar vídeo, ir pra São Paulo, Rio, Europa, Brasília, vários lugares… Ficar viajando, andando de skate, me divertindo com os amigos, produzindo pra Blaze e, se pintar projetos novos, tô aí pra ver qual é e fazer acontecer.
Como você foi um moleque que estourou bem cedo, você vê alguma coisa da molecada hoje? Tá acompanhando alguma coisa dessa molecada mais nova? Você vê um caminho bom pra onde estamos todos indo de mãos dadas?
Mano, pra ser bem sincero com você, tô bem por fora há muito tempo, até quando estava ativo. Sou bem desligado, tá ligado? Eu era ligado na época das revistas, eu via todas. Na era digital fiquei bem longe, o que eu acompanho é Instagram. Tô bem por fora dessa nova geração. Óbvio que eu vejo a Rayssa, aquele molequinho loirinho também… Assisto a uns campeonatos às vezes e vejo uma molecadinha nova. Mas como eu não tava no game… Pô, esses tempos fui pra São Paulo, fazia uns quatro, cinco anos que não pisava em São Paulo. Tô indo pra Europa agora, faz cinco anos que não vou pra lá. Pra Califa, cinco anos, então… Fiquei bem off esses anos, mais vendo coisa de Instagram e uma vídeo parte ou outra que alguém vinha me mostrar. Em São Paulo, esses tempos, acabei vendo uns moleques ali da nova geração, achei da hora, pesado. Mas tô por fora. Acompanho a galera que eu sigo, meus amigos, deles eu tô bem por dentro. Mas mano, tem duas visões. Sempre dois lados da moeda, né, falando dos caminhos que o skate pode tomar. Pra uns vai ser bom e pra outros vai ser ruim. E vice-versa! Haha! Pra mim, o skate tem fases, são fases. Teve a fase dos anos 90, que foi muito foda, raiz mesmo, começos dos 2000. Depois, ali em 2005 pra 2010, teve uma mudança muito grande. De 2010 pra frente, pra mim já mudou completamente a raiz do skate. Porque eu vivi, né, mano? Eu vivi essas três eras. Final dos anos 90 vivi no Brasil, vi a parada muito foda acontecendo no Brasil, com os atletas da época, que fizeram a parada acontecer desde o começo. Vivendo aqui nessa época, sem ter ainda ido pra lá, sem ter pisado nos Estados Unidos ainda, já via os vídeos de lá, via que o bagulho era muito foda, me chamou muita atenção: ver os vídeos, os picos, os caras… Desde o começo a gente já era vidrado; saía vídeo, a gente fazia de tudo pra assistir, copiar a fita de outro e tal. Essa fase era muito louca. Depois começou a ficar muito fácil, essa era digital depois de 2010 foi quando deu uma mudança muito grande no esporte e virou o que é. Vieram as marcas grandes, gigantes, e deram aquelas bocadas, e aos poucos foram devorando tudo. E hoje em dia, querendo ou não, é deles, quem comanda são eles, o dinheiro. Infelizmente, acabaram muitas marcas raiz. Como eu falei no começo: pra uns é bom e pra outros é ruim. Mas eu vejo isso, acho que eu vivi na melhor fase, a época raiz do skate nos Estados Unidos, até 2008, 2010. Revista, toda hora uma marca lançando vídeo, première, ansiedade pra saber quem seria a próxima capa, quem tinha a última parte do vídeo… Hoje em dia, cada um faz seu marketing pessoal e é isso: gostou, gostou. Não gostou, tem quem goste. Não gostou, bloqueia, tchau. Por isso até que me afastei, sou mais de boa. Não dou muita bola pra isso, não. Mas essa é minha visão, tá ligado? Cada um é cada um, e se o esporte tá aí hoje é por algum motivo. Tem gente que aceita ser comprado e tem gente que não. Eu sou neutro, vivi os dois lados, outra era. Nem sei como é a vida de um profissional hoje em dia. Independentemente de qualquer coisa, vou continuar andando de skate, sempre por amor, pra mim.
Mano, se um dia você soltar algum vídeo com Notorious Thugs, ia ter gente chorando, tá ligado, né?
Vamos fazer daqui dez anos, aos 42. Vamos filmar uma duas, três partes até lá, aí sobra imagem, a gente deixa mocado e fazemos o Lost Tapes V.3, mocado. Aí já soltamos aí com vocês, na Black. Fica mocado, vamos deixar entre nós. Haha!
Cara muito foda mesmo ver o Danny voltando, é um dos caras que até hoje gosto de ver andando, da um gás assistir os vídeos dele. Entrevista foda como sempre Black Media! Tomara que tudo dê certo pra ele nessa caminhada. Tamo junto família Black Media!
Muito skills