Marcelo Batista é um dos skatistas mais cabreiros da sua geração. Se joga em picos gigantes e volta tudo redondo, liso. Não é fácil, mas ele faz parecer. Nessa nova vídeo parte pela Element, a Nômade, que temos a honra de soltar no mundão, você vai ter certeza que, apesar de já ter deixado sua marca em picos que quase ninguém (ou ninguém mesmo) se joga, o cara tá só no começo da sua história no skate, pra nossa sorte. Pra dar uma ilustrada melhor em tudo isso, eu liguei pra ele uma tarde dessas, acordei o cara do soninho da beleza e trocamos uma ideia sobre a parte, o projeto, as imagens, os picos… E quando o cara fala que deu duas vezes a primeira e a última manobra da parte, você presta atenção, porque normal isso não é.
Alô!
Alô… Alô.
E aí, tava dormindo?!
Tava… E aí, Fel?
Vamos trabalhar, vai! Me fala de onde surgiu o projeto dessa vídeo parte, a ideia, a vontade…
Vontade, pô… Todo mundo que é skatista e tá no corre quer lançar uma parte, tá ligado? Eu tenho essa vontade não é de agora, faz tempo. Já lancei umas partes nuns vídeos e tal, mas eu queria uma independente, que é a que vai sair agora. Eu já estava filmando com o Luizão (Luiz Felipe Ferreira, o cabeça do Na Missão), já estava usando Element faz um tempo e, quando acabamos fechando o contrato, o (André) Calvão já falou: “Mano, precisava de umas imagens suas”. Aí eu falei: “Já tenho várias com o Luizão. Vamos ver o que tem ali de bom e vamos soltar uma parte”. Foi isso, uma ideia foi conectando com a outra e agora tá aí!
Pode crer, entendi! Então você começou a filmar antes de assinar com a Element.
Isso, já venho filmando com ele desde antes. Aí quando o Calvão me falou que ia rolar de entrar pro time, já tinha algumas imagens. Só faltava umas banging pra fechar, tá ligado? Essa manobra que fecha o vídeo, na real, eu gravei no começo da parte. Esse fifty eu já tinha dado. Eu dei ele duas vezes, tá ligado? Só que quando eu dei da outra vez, eu tava com outro kit. Daí eu fui de novo, pra descer com o kit da Element e refazer a imagem, porque ficou antiga, tinha muito tempo.
Caralho! Hahaha! Deu a trick cabreira de novo… Inclusive, eu ia te perguntar desse corrimão, porque ele é muito fininho, mano! Não deu umas escorregadas pro lado, não?
É fininho, mano! É lá em Diadema. A primeira vez que eu desci ele, eu tava lá em Diadema com o Luizão. A gente tava indo andar em algum pico, acho que naquela borda curva. Aí ele falou: “Mano, tem um corrimão ali”. Eu perguntei se era grande e ele respondeu: “Pô, é… Mas dá pra tu descer”. Eu falei: “Vamos dar uma olhada. Se for suave, eu desço”. Fomos só eu e ele; não foi fotógrafo, nada. Aí cheguei lá e falei: “Caralho, Luizão, o bagulho é grande mas acho que eu desço”. Aí ele já tava com o REC na mão, eu comecei a tentar algumas. Eu encaixava e pulava, encaixava e pulava. Quando foi ver, teve um que foi que foi. Só que aí a imagem ficou antiga, a gente foi lá refazer e aproveitou pra fazer a foto.
E nessa segunda vez já foi uma galerinha, que até aparece ali no final, né?
É, aí já foi uns amigos comigo. O Vini, os moleques da Brex, o Luizão já chamou um mano pra fazer o segundo ângulo, o Dieguinho (Sarmento) foi pra fazer a foto… E vou falar pra tu, acho que foi mais fácil da primeira vez, mano. Nessa segunda vez eu torci o pé. Eu dei o fifty, pulei com medo, fui descer a escada correndo e virei o pé. Nossa… Caralho. Só que aí eu falei: “Ah, já tô aqui, vou tentar assim mesmo, com o pé assim mesmo, doendo pra caralho”.
Caralho. Então foi com o pé torcido? É muito fino o corrimão, mano!
É. Foi muito sinistro, muito maneiro. E é fininho mesmo. Se você pegar os dedos da mão e for lá nele, dá pra dar a volta, tá ligado?
E você viu filmou quase tudo com o Luiz, então? Como é sua relação com ele? Conta aí.
Luizão é sangue, mano. Sempre fala pra ir filmar, ir pra rua, fazer isso e aquilo… “Vamos fazer uma parte com o Na Missão e tal”. Aí eu falei: “Pô, vamo!”. Aí a gente começou a viajar, foi pra Brasília com o Giovanni… Acho que foi a primeira viagem que a gente fez. Eu, ele, o Giovanni, o Elias, o Alan… Pegamos um carro e fomos, já começamos a filmar ali, tá ligado? Filmar pra parte mesmo. A gente foi pro Chile, foi maneirão. Tem umas imagens do Chile nessa parte aí. Ele é um cara que a gente chega no pico e ele já fala: “Mano, dá pra você dar tal manobra, hein?”. Quando ele fala que tem um corrimão pra mim, já sei que é algum corrimão gigante: “Vai, negão, eu sei que você consegue”. E ele é paciente, mano. Teve manobra aí desse vídeo que eu demorei uma cota pra acertar. Bravo, gritando, jogando o skate, e ele lá: “Não, mano, cê vai conseguir”.
Ele vê um pico, lembra de você e já te dá o salve.
É. Ele já vem: “Negão, tem um corrimão ali pra você dar tal, tem um pico ali pra você dar tal”. Ele já fala comigo assim, tá ligado? Isso é maneiro, já puxa o nível. Mostra que o cara conhece bem meu skate.
E o flip lá no Alves? Porque você já andou um milhão de vezes lá, até o Xapa Driver foi lá que a gente gravou e tal… Como você escolhe, tipo: “Essa aqui vou dar e guardar pra parte”?
O dia desse rolé foi muito sinistro. Essa do Alves eu também acertei duas vezes.
Ô loco! Fez a parte inteira duas vezes?
Hahaha! Pega a visão: no dia, tava eu, o Luizão e o Vini. Isso era 2018, tinha acabado de chegar em São Paulo, bem no começo mesmo. Aí o Vini mandou: “Mano, e se tu der uma aqui? Ninguém andou aqui nessas escadas”. Aí eu falei: “Caralho, verdade, mané. Mano, vou dar um ollie e dar um flip”. Aí começamos a tentar e saiu perfeito. Demorou um pouquinho, mas saiu perfeito. Aí, acho que a câmera do Luiz, nesse dia, tava sem bateria, sem memória, não sei… Aí, o (Rafael) Horse tava lá também. Ele pegou a câmera do Horse pra filmar. Só que, um tempo depois, antes do Horse mandar a imagem, a câmera deu pau e perdeu a imagem, aconteceu alguma coisa desse tipo. Aí eu tive que fazer de novo, pô. Eu até tenho a imagem desse primeiro dia, mas é de celular. Vou te mandar aí! Mas é o Luizão mesmo que, quando a gente faz a bomba, já fala: “Essa é pra parte! Mas dá uma mais tranquilinha pra soltar no Insta”. E, geralmente, a gente decide… É meio que normal, na real: eu chego no pico, falo que vou dar uma pra aquecer e essa, geralmente, vai pro Insta ou deixa pra rascunho, guardada. Geralmente, é isso aí.
Isso é um videomaker bom, já sabe o que é pra guardar pra parte. Tá certo! E agora que vai sair a parte, nós vamos mostrar a de celular também no Insta da Black Media pra mostrar que você deu duas vezes a manobra! Haha!
Vou te mandar aqui. Faz muito tempo… 2018, tem a data aqui no meu celular. E essa última foi ano passado.
O abre e o fecha da parte você filmou duas vezes. Pra mim, tá bom.
E o blunt de front também, na 9 de julho. Porque toda vez que eu ia lá, eu dava um blunt, tá ligado? Tipo, no dia que eu fui pra dar o varial nosegrind, eu dei um blunt. Ia filmar não sei o quê, dava um blunt. Porque no blunt eu tenho muita confiança, tá ligado? Aí eu falei: “Ô, Luizão, quem deu blunt aqui? Terceira vez que eu dou blunt aqui e ninguém quer usar a imagem”. Aí ele falou pra mim que o Fabio Cristiano deu, se eu não me engano. Blunt normal. Aí eu falei: “Ah, vamos dar o reverse então”. Pra mim, não tem diferença o normal ou reverse, eu consigo puxar do mesmo jeito. Aí a gente filmou.
E qual a trick que você mais gosta dessa parte?
Curto bastante o varial nosegrind ali na 9 de julho. O varialzinho também, lá no Chile. Não parece muito por causa da fisheye, mas mano… Aquela escada é grande. É uma double set. Aquele varial ali… Pô, gosto pra caralho de lançar varial. E foi uma guerra pra lançar aquele, o bagulho era muito grande. E você vem reto mas, quando chega na hora da escada, tem que bater em outra direção. Só lá na hora pra você ver, tá ligado?
Sim… Tem pico que não importa como você filme, com 30 ângulos e tal, você só sente o tamanho do problema pisando nele ao vivo, em pessoa.
Só quando cola, exatamente isso. Tipo essa escada aí, é perfeita. Lisa em cima e lisa embaixo. Só que o caminho até ela vai de um jeito e ela é virada pra… Mano, é meio contramão, sei lá, é complicado de explicar. Só andando pra ver. Mas é perfeita, lisa em cima e embaixo.
O seu mantra, a frase que você sempre repete, é “vai dar certo”. Tá dando certo?
Tá dando e sempre vai dar certo, tá ligado? Eu tenho uma tatuagem escrito “Vai Dar Certo”. Aí vagabundo fala pra mim: “Mano, tatua um “deu certo”.” Eu falo que não vou tatuar “deu certo”, porque sempre vai dar certo. O “vai dar certo”, pra mim, não é pra uma coisa só. É pra tudo. Se eu vou fazer um rolé, minha sessão vai dar certo, vai fluir. Se eu vou fazer um corre, vai dar certo, vai fluir. Se eu vou filmar, vai dar certo… Sempre. No dia-a-dia. Não tem um ponto final. Por isso que quando vagabundo fala pra mim que já deu certo, eu falo que não, porque não acaba. Sempre vai dar certo. Vai continuar enquanto a gente existir. Tá dando certo e vai dar cada vez mais certo.