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Marcos Pesch – 46/36

Filmar uma vídeo parte pode ter vários sentidos e significados para o próprio skatista. Marcos Pesch resolveu filmar a sua primeira aos 46 anos de idade, depois de mais de três décadas andando de skate. Resolvi bater um papo com ele pra saber mais sobre a sua história e sobre o projeto da vídeo parte 46/36.

46 anos, 36 de skate. Por que só agora a primeira vídeo parte? 
Filmei algumas coisas a partir dos 30 anos, mas coisas pequenas. Agora sinto meu skate numa fase muito boa, meu corpo tá correspondendo e minha cabeça tá bem em ordem. Estou até destravando manobras que não acertava há décadas. Isso me fez pensar em registrar esse momento e marcar uma nova fase na minha vida. Nunca é tarde pra começar algo.

É verdade que tudo foi filmado só nos finais de semana?
Foram quatro meses de filmagens, quase sempre no domingo. Saíamos às 7h da manhã e íamos em até cinco picos na mesma manhã. Eu tinha uma lista de manobras que eu queria acertar e alguns possíveis picos. Algumas deram certo, outras não. Mas, nesse processo, o Mario, Gepeto e Peralta deram outras ideias de picos, e aí fluiu. Tinha coisas que queria filmar há anos. Eu dou aula de segunda a sábado e, às vezes, estava cansado no domingo, mas a molecada me animava e a coisa fluía.

Como foi a parceria com Mario, Gepeto e Peralta?
Com o Mario, a conexão rolou no meu aniversário de 45 anos. Eu queria fazer uma foto pra essa data e ele topou fazer. Ficamos mais próximos e eu já tinha essa ideia do vídeo, mas não sabia se alguém iria encarar comigo. Em agosto de 2020, conversamos sobre isso e ele topou na hora. Semana seguinte estávamos na rua. O Peralta perguntou sobre fazer uma foto, eu contei que estava filmando com o Mário e, na hora, ele se ofereceu pra fazer as fotos e começou a sair com a gente em quase todas as sessões. O Gepeto é brother do Mario e comentou com ele sobre o projeto. Ele perguntou se podia colar em algumas sessões e foi bom: andamos juntos, me deu dica de alguns picos, agregou muito. Mário foi essencial pra esse vídeo. Tenho problema em confiar em pessoas do skate por ter sido passado pra trás algumas vezes, mas confiamos um no outro e formamos um bom time. O Robinson, que fez a parte gráfica, ajudou demais também. Somos amigos há muito tempo.

E como é a sua rotina?
Sou Educador Físico, trabalho com isso há 20 anos, e sou Coach de Crossfit há 10. Tenho um estúdio em casa e atendo meus clientes como Personal Trainer. Inicio meu dia antes das 5:30; alguns dias pra atender clientes, outros pra pedalar e correr. Termino meu dia às 21hs, minhas últimas aulas. Tenho duas janelas na semana onde reservei pro skate; sempre fiz isso, o skate moldou minha rotina.

Agora eu entendi como você rendeu cinco picos em um dia!
Hahaha! Eu me cuidei a vida inteira pra colher o que tá rolando agora. Quero andar de skate pra sempre.

Aproveitando sua presença, aquela consultoria grátis: solta aí três dicas sobre cuidados do corpo pra quem anda de skate, independente da idade.
Comida correta (comida de verdade, nada que tenha data de validade), flexibilidade (articular e muscular) e fortalecimento muscular, com peso corporal, musculação leve, corrida, bike. Quanto mais movimento, melhor.

Anotado! Conta um pouco dos outros 35 anos da sua história no skate até chegar nessa vídeo parte.
Vou tentar resumir porque tem coisa. Sempre fui o moleque tímido e que não era bom em esportes. Sempre deixado de lado nas brincadeiras na rua e na escola, criei meu próprio mundo pra conseguir sobreviver. Conheci o skate em 1985, e senti que ele era a ferramenta que precisava pra conectar o meu mundo com o mundo externo. Nessa época, em CWB, não existiam muitas lojas de skate, muito menos marcas. Ganhei um skate do Paraguai que não durou muito tempo. Tentei me conectar com os moleques de perto de casa, pra conseguir algumas peças e tal. Fiquei andando no meu bairro até 1990. A partir daí, comecei a pegar o ônibus e tentar descobrir CWB através do skate. Nunca tive muitos amigos, nunca me achei bom o suficiente pra andar com a galera da época. Eu ia nos picos sem o skate, sentava, via os caras andando, aprendia as tricks e voltava pra casa pra tentar. Meu visual também me distanciou da galera da minha época. Usava jeans surrado, All Star e camiseta branca, ou de alguma banda. Escutava metal desde sempre – death metal na real – enquanto a galera estava no rap. Eu respeitava, eles não. Enfim, desisti de ser popular e andei sozinho por mais de uma década. Nos anos 2000, tentei me inserir de novo e tomei na cabeça mais uma vez. Como meu lance era o skate, isso não me desanimou. Na real, foi combustível pra eu me tornar a pessoa que sou hoje. Nunca fui Pro, nunca tive patrocínio, nunca ganhei campeonato. Skate sempre foi pra mim e do meu jeito.

E o lance do video ser todo em preto e branco, qual a brisa? Seu Insta também, né?
Sempre curti essa estética, minhas roupas também são assim. Muita cor tira nossa atenção de coisas realmente importantes. A ideia desse vídeo era ser o mais poético possível. A música foi composta pro vídeo. O Thiago é um amigo de longa data, e curtiu criar algo pro vídeo. Ele anda de skate e é um excelente músico. Skate pra mim é arte.

Curtiu a soma de fazer arte com arte (skate com vídeo)? Teremos mais uma vídeo parte em breve?
Curti demais pensar nas manobras mais plásticas, a conexão da música com o skate e a cidade. Deve ser como um artista que se prepara pra pintar uma tela… Cansativo? Sim. Faria de novo? Com certeza. Quero fazer algo daqui um tempo, algo mais curto e só em transições. Não é barato manter um projeto sozinho… Não tive apoio nenhum, então é algo que tem que ser por amor. Nunca quis nada em troca.

Animal, mano! Quer falar sobre mais alguma coisa?
Acho que é isso, não sou muito de dar sermão ou conselhos. Hahaha! O skate ensina. Minha ideia com esse vídeo não é ser um super-herói pra galera mais velha que se encolhe pra sair e se jogar nos picos… Quero incentivar os novos a não desanimarem e se prepararem para o futuro. É isso, mano!

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costela
costela
3 anos atrás

muito style !! inspiração

Udy30kk
Udy30kk
3 anos atrás

Monstro. Disposição e amor e o nome disso tudo

SEGUE NÓIS

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