Black Media Skate

Conversamos com João Victor Yumoto, um dos responsáveis pelo Ruativa

Foto: Anthony Kunze (@arkunze)

João Victor Yumoto é skatista nascido e criado em São Paulo/SP, pai de três, marido, trabalhador brasileiro e um dos principais integrantes do Ruativa, coletivo paulistano que há 9 anos vem acumulando reformas e construções de picos pela cidade.

Uma daquelas pessoas que ama o skate e acredita tanto no poder de transformação dessa comunidade, que não consegue parar de pensar em andar ou construir, mesmo com a rotina da vida adulta.

Recentemente, ele soltou essa vídeo parte e resolvemos bater um papo com ele.


Quanto tempo você demorou pra gravar essa parte? 
Mano, tem mais de três anos. Isso é uma história para contar, porque três anos atrás eu fiz uma marca chamada Ritmo Skateboard, com o Juneca e uns amigos meus do interior. A gente filmava bastante e aí o vídeo virou uma marca, mas durou só um ano por conta de direitos autorais do nome, né? “Ritmo”. E treta interna também. Aí, a gente tinha as imagens e acabou que cada um pôs um dinheiro, ficou com o prejuízo e pegou as imagens. E eu continuei filmando. Tanto é que eu acabei fazendo duas partes, na real: essa e uma que vou soltar do Go Dallas, com as imagens que eu não usei nessa. Inclusive, tá pra sair já! Tô editando agora o Go Dallas 8. Mas é isso; ao todo, dá três anos de filmagem.

Qual a história do Go Dallas?
Quando eu comecei com o skate, em 2003, andava sempre em calçada, chão reto, quadra de futebol, aí conheci uns camaradas da rua de baixo, que tinham uns obstáculos que eu nunca tinha andado, porque o pai do Thiaguinho trabalhava em ferro velho, tinha vários corrimões e eles já gravavam um vídeo chamado Go Dallas. Nessa época era o Go Dallas 2, um full vídeo entre amigos de crew.

E nessa época já tinha um início do que é o Ruativa hoje?
Nessa época, quando a gente ia pra rua, sempre ia filmar e falava: “Caramba, não dá pra andar, tem a escada que é boa mas o chão de ida é ruim”, ou “tem uma borda aqui, mas não é de mármore”. E aí foram passando os anos, fui crescendo… Já nem lembro quantos anos eu tinha mas, em 2015, quando os meninos já estavam mais velhos, cada um fazendo seu corre e tal, foi que o Ricardo, um camarada meu falou: ”Mano, a gente tinha que fazer alguma coisa pra arrumar os picos pra filmar na rua, ter mais vídeo”, que é esse Go Dallas aí, que a gente fazia. E a gente sentiu a necessidade pra fazer o vídeo, tá ligado? Só que aí começou a meio que ver também umas referências, tipo o Finha. Já que eu sou aqui da Zona Sul, ia na Espraiada, e só tinha essa pista. E aí, nessa mesma época, o Finha já construiu umas paradas ele mesmo, então aí meio que juntou as duas coisas. A gente começou fazendo nós mesmos alguma coisa, o pai do Thiaguinho tem ferro velho, o pai do Val é pedreiro… E aí começou um a querer ajudar o outro. Quando foi ver, a gente montou pela necessidade e vontade de montar uma Barcelona ou uma Califórnia do Brasil com o jeitinho brasileiro, né?

Ricardo e João, os criadores do Ruativa. Foto: Anthony Kunze (@arkunze)

E como tem sido esses anos de Ruativa?
O coletivo Ruativa já tem 9 anos e, de lá pra cá, a gente tem vídeo de 33 obstáculos. Tem 32 no YouTube, mas o 33° já tá pra sair. E tem alguns ainda que eu nem tô contando, como na DZ9. Tem uns lugares que a gente ajudou mas não entram nessa contagem. Não conto porque tipo, esses 33 obstáculos que eu falo, tem um processo de mais ou menos três meses cada, tá ligado? Que aí eu produzo a camiseta, vendo, pego o dinheiro do lucro e faço o obstáculo. Aí, no meio disso, eu tenho que achar o lugar, ver com os locais o que eles querem fazer, e aí depois a gente marca o dia de pegar o material, construir, pra depois andar de skate. Tudo isso gravado.

Como é essa rotina de ser pai, skatista e ainda tocar o projeto Ruativa?
Mano, eu sou meio cabreiro de deixar eles de lado. E também, não… Tipo, eu sou pai, né, mano? Filho é uma benção. Só que eu acho que uma benção acrescenta na sua vida, não tira. Se eu era skatista antes de ser pai, eu acho que eu não posso deixar de ser eu mesmo porque virei pai. Então o que eu fiz? Eu ponho os moleques junto comigo. Tanto o Yuri, a Sarah e o Matheus vão bastante andar de skate comigo, e já construíram obstáculos. Eu meio que junto tudo numa coisa só. Às vezes dá certo, às vezes não dá, mas eu tento, tá ligado? Tenho só dois dias da semana pra andar, alguns dias só à noite, mas eu tento sempre. O segredo é o cronograma, dividir tudo certinho por dia, por horário, sabendo que vai ter um dia que eu vou andar e vai ter um dia que eu não vou andar.

Foto: Anthony Kunze (@arkunze)

Essa parada de cronograma, de se organizar é uma parada foda…
É muita força de vontade, mano. Sei lá, eu gosto muito de skate, gostaria muito de trabalhar com skate, mas nunca parei de fazer o meu. Na real, eu sempre tô trampando, fazendo uns bagulhos e pensando no skate. Acho que a vontade é tão grande que, não importa o que eu tenho que fazer no meu trampo, ou as responsas com os meus filhos, levar no médico… Eu sei que, pelo menos, uma hora ou outra eu vou andar, tá ligado? É uma terapia, mano. É clichê falar isso, mas a minha terapia é o skate, mano. É o bagulho de saber que, hoje em dia, mesmo sendo pai e levando eles, é a hora de pegar um momento para mim, mesmo que isso acabe virando uma coisa também pros outros, que é o Ruativa.

No final, ter o projeto de construção ajuda você a andar mais?
Na época de construção a gente não anda, tá ligado? Isso aí tem muita coisa que o pessoal não vê. E eu ainda vou filmando as pessoas. Eu gosto de filmar, mas esse é um dia em que eu não ando e também não fico com minha família. É mais por amor mesmo, sei lá. 

Foto: Anthony Kunze (@arkunze)

E como você foi filmando a parte?
Na verdade, eu tenho câmera aqui, né? Então quando saio com meus amigos pra missão de rua, é difícil eu ir pra filmar de celular, sempre levo a câmera. É mais o trampo de agendar os dias, tá ligado? Pra filmar mesmo na rua, era mais fácil na semana e à noite. Porque no fim de semana a gente fica com as crianças, né? Minha esposa já fica com eles de dia. Como eu trabalho, meio que combinava à noite, uma vez ou outra, depois do trampo… Já ia direto pra rua filmar, que também era um horário bom, né? Faria Lima, uns lugares assim, já são mais tranquilos pra filmar. Se bem que tem um ou outro segurança que enche o saco, mas aquela coisa de sempre. Todo vídeo tem.

Tem manobra da parte com obstáculo feito pelo Ruativa?
Tem uma, mano! Aquele varial nose, uma das últimas manobras que eu dou na bordinha, é ali na laguna. Meu amigo Nilo, na verdade, fica com aquela polêmica, né? Pra filmar vídeo parte tem que ser só imagem de pico de rua. E aí tinha muita imagem minha em alguns picos. Os picos que eu fui que eram meio DIY, eu guardei pra essa outra parte.

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