Quando alguém como Pedro Barros, que já rodou o planeta andando de skate, é conhecido mundialmente pela habilidade, estilo e amor por esse universo, fala que está fazendo uma marca, você presta atenção. A próxima ideia a ser concretizada chama-se Privê, e eu troquei uma ideia com ele pra tentar entender o que é esse novo filho, que já tem dia certo pra chegar oficialmente ao mundo (a data está na entrevista, vai ter que ler).
Lembro que já vi esse nome, Privê, há algum tempo ali nas redes sociais, que você tinha soltado e tal. E agora você tá prestes a lançar oficialmente a parada. De onde veio a ideia e desde quando ela existe? O que é a Privê?
Então, a Privê realmente surgiu faz um tempo, eu já venho fazendo algumas brincadeiras na internet, usando os shapes… O ano passado inteiro eu usei os shapes. Competi em vários campeonatos, até nas Olimpíadas eu já estava de Privê. Mas eu não estava conseguindo tempo suficiente pra lançar da forma que eu queria pra ativar essa história por completo. Eu decidi focar no que eu tinha que fazer no ano passado, que era gerar uma curiosidade em cima do nome, a galera começar a se perguntar o que poderia ser, o que vai ser… Usar os shapes, testar e já ir direcionando pro que eu queria. E é muito louco porque, agora na virada do ano, eu decidi que ia mergulhar de cabeça na Privê, fazer isso acontecer. Acho que é uma parada que já tá dentro de mim há muito tempo. Eu tenho a Layback Beer, que eu criei aos 18 anos junto com o meu pai e é de cerveja, mas a ideia sempre foi ser uma plataforma pro skate, alavancar o skate, eventos, campeonatos. De alguma forma, dar de volta pro skate, pra esse universo em que a gente vive, respira. E a Privê é uma plataforma de expressão, né? Uma marca é definida quando tem uma expressão forte, quando é vista pelo que ela representa, um movimento. Uma junção de estilo, personalidade… E a Privê é skate, né? É algo que nasce do skate, dos ensinamentos do skate, da cultura que existe dentro e em volta, do estilo por si só, da moda que o skate também criou… Ela é skate. É uma ferramenta pra impulsionar e movimentar o skate, questionar, escrever e dar de volta. Dar de volta de alguma forma, sabe? Dar de volta ao que me deu e me dá tanto todos os dias da minha vida. Então a Privê é isso: skate, música, expressão, o seu íntimo também… Privê é aquilo que é interno seu, sabe? Algo de estilo, do seu íntimo, que acaba sendo dividido com os outros, ou só com quem tá próximo, ou que nem é dividido… Privê é isso. Ela surge agora, com a primeira temporada, a Session 27, quando eu completo minhas 27 voltas ao redor do sol. E ela vai estar sempre em mutação, porque é uma coisa muito interna e vai estar sempre passando uma mensagem interna do gosto, do estilo, um pouco do meu pessoal sendo dividido. Depois desses 27 anos conectado com o skate, eu quero fazer algo pro skate. São as minhas visões desse mundo maluco, minhas experiências, viagens, criatividade, criações… Fazer, quem sabe, uma marca pra também levantar a bandeira do skate brasileiro fora do país.
E falando de coisas mais tangíveis, do que a galera vai poder pegar na mão, de produto mesmo… A impressão que eu tinha, de fora, é que você estava fazendo uma marca de shape. Mas aí eu vi que tem shape customizado à mão por você, tem touca, umas roupas… A gente sabe que o shape é, talvez, a parte mais importante do skate, mas as marcas de shape são todas pequenas, as maiores marcas do skate hoje são de tênis. A Privê é uma marca de shape? É além disso? Me explica essa parte.
É o que falo pra quem me pergunta: é uma marca de skate, tá ligado? Como você disse, o shape, pra mim, é o maior símbolo de produto de skate. E de arte, de cultura do skate. Pra mim, aquela madeira é o que mais transcende, é um quadro. Tem uma arte foda, tem história, tem artistas do skate que são conhecidos mundialmente. Os gráficos de shape são uma coisa histórica do skate, e isso é uma das grandes inspirações da Privê: a arte. E é essa nossa arte de, às vezes, fazer uma camiseta com uma estampa simples virar referência de moda pra marcas de grife gigantescas, que até copiam o que surgiu no skate. O skate, quando você bota aquela madeira e usa ele, faz uma manobra, aprende algo novo, se movimenta… Poucas coisas são tão artísticas quanto isso, sabe? Você pega um pedaço de madeira com uma arte foda, de um artista foda, bota no seu skate e entrega a sua própria arte, com as suas manobras, com os riscos e marcas que você vai deixar no skate… Você é mais do boardslide, ou mais de transição, ou de gap… Cada um deixa as marcas da sua própria forma, tá ligado? E skate também é não ficar dentro de uma caixa, ser rotulado. Por isso, a Privê não é só um shape, é aberta a fazer o que quiser. Livre, como o skate, sabe? O produto principal, obviamente, é o shape. Sempre vai ter shape, porque isso pra mim talvez seja o carro chefe. Mas, vivendo nesse mundo do skate há tantos anos, eu vejo a dificuldade das marcas de shape pra fazer as coisas acontecerem, ou até guiar e ajudar os próprios skatistas, a própria cena. Quando você não tem uma força, ou não consegue crescer financeiramente e como marca, fica difícil ter essa representatividade, ajudar as pessoas que você queria ajudar, criar e fazer os projetos, a pista de skate, a coleção nova, o evento… Então, justamente pra não ficar preso a isso, a ideia é ser livre pra fazer o que quiser. Nessa primeira coleção vai ter camisa, moletom, boné, touca, joia, shape… Daqui a pouco, pode ser que tenha um kit de jogar taco, ou uma bolsa foda, um kit de xadrez, um álbum de música, uma exposição de arte de um artista foda, entendeu? Fazendo sentido pra nossa história, sendo algo verdadeiro, que some e inspire, tá tudo certo. Essa é a visão. Mas respondendo mais diretamente a sua pergunta, o shape é uma prioridade, a arte do shape, a forma como a gente vê isso, os skatistas, a história do skate, a cultura… Acredito que vai ser, também, muito uma marca de convidados, com guest boards. É isso, falei pra caralho!
Entendi, uma parada mais livre pra você poder se expressar também. Outra coisa: eu vi que você subiu um story com o Gabriel (Oliveira) chegando com os shapes, colocando no carro. Você também já compartilhou um vídeo do Lucas (Pinheiro) ali no Vale, usando o shape. E quando alguma marca posta algo de algum skatista, é porque existe uma relação. Você tá dando produto pra alguém, apoiando esses skatistas? Tem alguma coisa a ver?
Eu quero apoiar quem talvez ainda não tenha uma abertura no meio do skate, tá ligado? Eu vejo muito que, no skate, se você já conhece alguém, já tá no meio, é mais fácil conseguir uma peça, ter um material. Ao invés de montar uma equipe, já pegar uns nomes de peso pra impactar, quero fazer um bagulho bem orgânico, bem real, que seja uma família e que traga algo do core, que ainda não é muito visto. A ideia é sempre estar apoiando uma galera que não tem uma condição; você vai ver isso sempre na Privê: uma galera usando o shape que a gente vai dar. Não é necessariamente da equipe, mas a gente deu aquela fortalecida, sabe? Isso é uma prioridade. Ainda nem falei pra ninguém, mas por enquanto quem tá junto é o Gabrielzinho, o Lucas também, que é monstro, a Elis (Nunes), uma skatista foda que já fez umas fotos com a gente pra campanha… E a Sofia Curi, que tem uns nove anos, muito estileira. Então, por enquanto, eu diria que são esses que estão representando mesmo e eu estou fortalecendo.
Pode crer… Pra terminar: onde você vai arrumar tempo pra cuidar de mais isso tudo?
Hahaha! Isso é foda. Tô parando um monte de coisa pra me dedicar, mas como a Privê é muito em volta do meu universo, do skate, vai andando tudo junto, sabe? E a gente vai lançar o site, com todas as fotos da coleção, as peças, no dia 16 de março, meu aniversário.
Mto bom ver alguém tão foda como o Pedro Barros fazendo isso! Não pensando somente no retorno da grana mas em todo o fortalecimento do ecosistema skate! Tu és monstro. Não esperava menos hahaha