Com tanta gente de fora querendo um pedaço do skate, é cada vez mais difícil achar no Brasil um dono de marca que realmente ande e entenda de skate. Eis que surge Sandro Bertolucci, um cara que, além de entender, também anda muito. Em pouquíssimo tempo e de forma natural, rendeu as fotos dessa entrevista, sem nenhum esforço sobrenatural. Coisa que muito amador “do corre” não consegue fazer. Conheça um pouco das ideias dele e entenda porque ele é mais que “o Sandro da Blaze”.
Caetano: Pra começar, fala sobre você. Tem boatos que você é francês, brasileiro… Como é isso?
Eu sou filho de italiano. Nasci em São Paulo e fiquei aqui até meus 16, 17 anos. Morei na França por seis anos, não sou francês porra nenhuma. Estudei numa escola francesa aqui em São Paulo por acaso, porque meu pai queria uma escola italiana que estava em greve na época. Acabei aprendendo a falar francês lá e, quando fiz 17 anos, passei na faculdade lá fora e acabei escolhendo Lyon por causa do skate. Eu já via os vídeos da Cliché, o JB Gillet era um dos meus skatistas preferidos. Me formei lá, em sociologia. Mas nessa faculdade acabei mais andando de skate do que estudando.
C: Por que sociologia?
Ah, porque na época eu acreditava num mundo melhor, eu acho. Hahahaha! Eu era menos corrosivo na época. Agora já vi que não tem jeito, hahaha! Não, tô brincando… Foi porque eu nunca me dei bem com exatas e ia benzão em filosofia, história… Sempre gostei de ciências sociais, cara. Sempre gostei de leitura, de escrever, das teorias…
C: E você morava onde lá?
Morava em Lyon, sozinho. E foi da hora que a faculdade lá era pública, e aqui eu fazia PUC. Só fumando maconha; meu pai pagava PUC pra mim e eu só queimando fumo, não ia pra aula. Aí passei nessa faculdade pública de lá e isso me deu estímulo pra estudar. Aí esse dinheiro que meu pai daria na PUC, começou a me dar pra viver lá. Vivi muito bem lá.
Fel: E aí ficou quanto tempo lá?
Fiquei seis anos.
C: Sempre andando de skate?
Na real, eu operei as costas com uns 20 anos. Então fiquei uns dois, três anos sem andar, com hérnia de disco e tal. Foi quando voltei pra lá que comecei a melhorar das costas e a andar de novo. Eu ando de skate desde os 12. E com uns 18, 19, me machuquei e fiquei uns dois anos sem andar, zuadão. Aí me fortaleci, emagreci e voltei a andar. E foi lá que eu fiz meu primeiro corre do skate.
F: E é por isso que a Blaze tem essa ligação entre França e Brasil.
Isso, porque eu nunca tive uma foto minha numa revista daqui, nunca apareci num vídeo de camarada aqui, eu andava de skate com os amigos da minha área; sempre morei em Pinheiros. A gente tinha picnic table, andava nas ruas do Itaim todo dia, nas quadrinhas que tinha que botar os palcos, sei lá. A gente tava pouco se fudendo pro game. Jamais. E esses moleques andam muito, viu, mano? Esses que andavam comigo. Agora estão meio velhos, joelho zuado e tal, mas ainda andam. O Silvião, o Drum… Uns pararam, mas uns ainda andam com menos frequência. Mas na época era um campeonato ou outro, na Onboard, Skate City, que era na minha área, né?
F: Você era uma pessoa feliz que andava de skate. Por que você resolveu ter uma marca e ficar triste?
Hahaha! Ah, porque assim… Primeiro: na França, a cena da cidade era menor. Tinha a Cliché e algumas marcas na minha city ali, né? Acabei tendo um acesso mais fácil. Aí eu tava andando de skate e, quando fui ver, tinha uma foto minha que sobrou e foi parar numa revista. Sei lá, eram menos pessoas então fica mais fácil de aparecer, né? Eu também ajudava o JB numa loja dele e ficava ali sapeando os preços das marcas, como funcionava a loja, preço das distribuidoras, ficava prestando atenção. Tipo um estagiozinho, ganhando dois, três shapes. Aí eu vi que tinha pouca marca na França: Cliché, Magenta e mais umas três. Aí eu falei: “Pô, é mais fácil fazer uma marca aqui, né?” Comecei a fazer eu, o Marley, o JP e o Stephane, skatista local. Aí a gente fez uma série de shapes e tudo tinha a ver com fogo. Acabamos dando o nome de Blaze por causa dessa série do fogo. Tinha um balão, um cachimbo… Aí o cachimbo foi o que mais marcou, além de ser mais sutil por não ter a ver com maconha, não era tão explícito. E meu avô fumava cachimbo também. Aí eu falei: “Nossa, parece o logo da Nike, certinho!”. Hahahaha! Aí eu achei que dava uma boa leitura e ficou o cachimbo como logo da Blaze.
F: Aí começou a marca então.
Isso. Aí fizemos uma série de shapes com só dois pro models: do JP e Stephane. Os outros eram umas estampas. Duas semanas depois do lançamento, já apareceu numa revista local, a Kingpin, e um maluco do Japão me ligou falando que queria 100 shapes da Blaze. Eu nem tinha 100 shapes ainda. Aí fui lá e produzi, fiz 100 camisetas também, e aí lançou pra valer. Na segunda coleção já fiz 600 shapes, depois 1200, comecei a investir. Peguei um escritório lá, quando eu tive a brilhante ideia de voltar pro Brasil. Meu pai tinha falecido, tinha coisas pra resolver com irmão, imóvel, várias coisas pra resolver. Deixei a Blaze na mão do meu sócio e vim resolver minha vida aqui. Os corres da vida. A marca ficou um pouco em standby e eu passei um ano e meio aqui, com 21, 22 anos, trazendo a Blaze pra cá. Aí conheci um monte de filho da puta e me fudi grandão, confiei e me queimei, mas fui atrás e recuperei, de certa forma. Montei a Honey Pot Distribution. Aí fui ligando pros clientes, tipo: “Sabe a Blaze? Agora mudou a distribuidora, etc…”. Nem contei a história triste nem nada: “Agora é Honey Pot Distribution, estamos funcionando, vendendo essas e essas marcas…”, e deu um boom. Eu cheguei junto dessa cena do rap nacional: Haikaiss, Costa Gold, e funcionou. Na época, a gente tava realmente convivendo no mesmo espaço, o tempo todo se cruzando, e eles deram um belo up na Blaze. A Blaze parou de ser totalmente só skate e começou a atingir outras pessoas, da música e tal. Aí o negócio cresceu, eu comecei a ver se era isso mesmo que eu queria: trabalhando pra caralho, muito cliente devendo, tirando um salário baixo, tá ligado? Aí decidi que não queria mais ser uma distribuidora em grande escala. Queria fazer um negócio menor; continuar presente na França, na Holanda, em São Paulo, mas sem aquela ambição de ter uma mega distribuição e tal. Hoje em dia, tô numa onda mais de criar novos conceitos, pequenos conceitos. Fazer um grupo de marcas que tenha uma unidade e tal… Hoje a Blaze tem uns seis, sete anos.
C: E como é cuidar de uma equipe na França, uma no Brasil… Andar de skate e ainda tomar conta de tudo isso?
Era muito difícil e me deixou muito pirado na época. Tinha que ficar três meses no Brasil, três na França… Com o tempo, a equipe diminuiu um pouco. E vou te falar que acabei ficando com os caras com quem eu me dava melhor, que eram mais fáceis de trabalhar e faziam os próprios corres. Puta, o moleque tá na Emerica, faz a tour com eles lá; tá na Vans, faz a tour com a Vans, tipo… Acabou mudando o jeito de trabalhar com a equipe. Na época do Ceremony (vídeo da marca), o trampo era muito mais centralizado na Blaze, mais custoso. Claro que peguei muita gente que não tinha nome ainda pra trabalhar em cima, mas também peguei gente que já era conhecida, foi um meio termo. Hoje em dia, acredito que estou com pessoas fáceis de trabalhar, independentes, que levam a Blaze a outros lugares. Não tá mais na fase embrionária. Claro, ainda tenho dois amadores em que estou investindo agora pra um dia profissionalizar, mas todo esse tempo e as experiências me ajudaram a deixar uma coisa mais sólida.
F: E você é o dono da marca e anda de skate com os caras. Como é essa relação?
Ah, tem gente que fala que eu me escondo, que eu sou mocado, mas eu tô aí… No Vale, Largo da Batata… Mas é muito legal; vira e mexe eu encontro gente falando que viu isso, aquilo, “legal que você tá andando de skate”… Tem muita coisa legal nisso. Mas também tem coisa chata. Às vezes você fecha o olho, quer ir andar de skate sem encontrar ninguém, e encontra mó galera: cliente, gente pedindo peça, gente pedindo trabalho, querendo te apresentar pra outra pessoa… Se você não estiver em harmonia, isso atrapalha seu rolê. Você não vai ser grosseiro nem nada, mas pode te desconcentrar.
F: Sim, mas tô falando da sua relação com o time. Fazer os vídeos, cobrar foto…
Quando você acompanha a sessão, tá andando com o cara no mesmo pico, é mó vibe porque o cara se puxa mais ainda, eu acho.
C: Pra mostrar serviço? Hahaha!
Haha! Não sei se mostrar serviço. Mas fica algo menos sério: ele errando, você errando, todo mundo ali junto.
C: Mas acho que também tem o lado do respeito. Tipo: “Pô, eu tô aqui no Vale andando com o cara que me patrocina. O cara é skateboard mesmo, dá mó rolê”. Acho que isso puxa o nível do skatista. Já ouvi o Murilo (Romão) falando: “Olha o Sandrão rendendo aqui, ó. Olha o Insta do Sandrão. Todo chefe tinha que ser assim, tá ligado?”. Hahaha!
Hoje em dia tem vários chefes assim, andando de skate. E eu vou evoluindo junto com os caras, né? Com certeza. E me mantenho atualizado, não fico só no escritório.
F: Você já falou que antes tinha vários clientes e agora tem menos. Por quê? Calote… O que acontece? Tem diferença entre o mercado aqui e o da França?
Na França, os caras compram 600 Euros e te pagam certinho. Se for muito loucão, atrasa um pouquinho, mas paga. E lá dá ruim você passar os outros pra trás. Aqui no Brasil não dá nada você ficar devendo. É fácil. Aqui eu tenho uns três processos, mas e aí? Até você receber é mais fácil fazer acordo. A inadimplência no Brasil é foda. Às vezes, o cara faz uma compra grande, divide em cinco vezes, paga as três primeiras e some nas duas últimas.
C: Mas como os caras conseguem sumir? Sumiu pra onde? Hahaha!
Foi abduzido, sei lá. Mas dá pra receber, já fiz muito isso: pega um segurança, entra no carro e vai até a loja do cara. Já peguei até videocassete pra quitar dívida. Mas é muito chato fazer isso, uma energia horrível. E você pode trombar um cara bem mais louco que você no meio do caminho, então achei que essa não era a solução. Estava ficando meio pirado.
F: Aí escolheu mais a dedo, manteve poucos clientes.
Quem paga bem? Quanto eu preciso pagar pros funcionários? Fui vendo… Vamos pra um lugar mais de boa, fazer tudo mais tranquilo… Talvez ganhe mais depois dessa mudança de operação. Leva um tempo pra se reestruturar mas, nessa operação grande, o dinheiro fica muito voando, entendeu? Vendeu 200 mil mas recebe em tantas vezes, aí tem não sei quantos imprevistos, outros 10 não te pagaram…
C: Isso acaba com várias marcas. A marca não aguenta tomar um rombo. Isso acontece com muitas marcas.
Muito. Quase aconteceu comigo. Eu tava entrando em uma mega produção, olhei e pensei: “Se eu ficar de boa, só pagando meus custos, meus funcionários, vou perder tanto. Se eu entrar nessa produção gigante, corro o risco de perder esse tanto, muito mais”. Aí você olha pro mercado, dólar, juros… Analisei e vi que eu tava crescendo pros lados, não pra cima. Perdendo controle da qualidade porque, quanto maior a produção, menor esse controle. Sempre tive um conceito bom pela qualidade, e estava perdendo isso. Estava perdendo o controle da imagem, muita falsificação. No centro de São Paulo é só andar que você acha Blaze lá, vejo todo dia, sei até quem vende. São os mega fornecedores do sul que tem alguém na fábrica que vai lá e te fode. Mas então, estava ficando totalmente sem tesão. Vendendo pra quem? Pra massa? E ainda sendo criticado por uma pá de skatistas… Sei lá. Falei: “Não, quer saber? Vou fazer um negócio mais pra quem é meu público de verdade. Ou de repente até mudar o público”. Mas mantive a qualidade sempre. Eu só faço produto de skate que eu consigo usar. Só ando com as minhas rodas, com meu shape. Eu fiz um parafuso que eu dou pros inimigos. Fiz aqui no Brasil e ficou ruim demais. Hahahaha! Você monta e não desmonta depois. Esse aí eu dou pra geral. Mó roubada. Hahaha!
F: Todo mundo fala muito: “Pra trabalhar com skate tem que andar”. Eu não concordo muito com isso, tem coisas que você consegue faz…
Eu não concordo também. O cara pode ser um simpatizante e ser bom em alguma coisa útil. Tipo o Felipe que trampa comigo, ele andou de skate há 10 anos. Até consegue girar um flip ainda, mas tá todo tiozinho. Mesmo assim, gosta de ver os vídeos, usa roupa de marca de skate. E ele toca uma boa parte da operação da Blaze, entende. Não tem a Cecília Mãe, que flagra muito? Tem gente que flagra.
C: E essa vídeo parte? Como você conseguiu gravar tanta coisa com tanto corre pra fazer?
Eu chutei o balde umas duas vezes, pra poder ficar no skate. Fui pra Califórnia distribuir a Blaze numas dez lojas; esse trampo demorou um mês. Acabando isso, fiquei mais dois meses só pra andar de skate, filmar. Até rendeu o vídeo que saiu ano passado na Transworld, o Wides. Aí fomos pra Europa, trampei um mês e fiquei um mês só andando, filmando. As outras imagens foram na loucura: vai pro escritório, fica até as duas, sai, tromba você, o Horse, o Bocão, filma e ainda volta pro escritório às 18hs pra finalizar o trampo. Eu não tinha conseguido fazer isso no Ceremony, por exemplo; foi tudo sessão pós-trampo. A maioria das minhas partes é tudo sessão pós-trampo. Mas essa de agora, se você for ver, também foram poucas sessões. Nos Estados Unidos só pode andar de fim de semana. Aí você bota seis sessões nos EUA. Eu rendi duas imagens em cada sessão. Na Europa foi onde mais rendeu, deve ter mais imagem de lá. Mais fácil, menos kickout. E eu tento sempre andar no mesmo pico que os caras da marca já iam andar mesmo. O cara escolhe o pico pra andar, eu vou junto e tento dar a minha. Eu faço muito isso, pra não atrapalhar. Muito raramente eu decido onde vai ser.
F: E fica uma relação boa entre vocês por você andar junto, né? Os caras respeitam isso. É raro isso.
Acho que agora tô conseguindo organizar. Já tive muito problema por trabalhar com amigo, sempre dá problema. Agora, depois de seis anos e muito stress, tô conseguindo estabelecer uma parada saudável. Na sessão a gente é amigo, na reunião é mais profissional. Não vou curtir que atrase comigo e tal. Mas é bem difícil separar isso.
F: Mas você se sente mais amigo ou mais dono da marca?
Acho que mais amigo. Muitas vezes, eu deveria ter sido mais o dono da marca. Já dei muito boi pra malandro.
C: Mas, como skatista, você não espera nada do skate.
Não, porra nenhuma.
C: Mas como dono de marca, sim.
Também não, cara. Se a Blaze acabar hoje, vou seguir minha vida andando de skate, com certeza.
C: E vai trampar com outra coisa?
Acho que dificilmente conseguiria sair totalmente do skate, tá ligado? Mas eu briso muito em arte, design gráfico, moda… Mas acho que tá tudo ligado ao skate. Skate é uma inspiração pra mim, igual à música. Não tenho uma fonte só de inspiração. Tenho vários hobbies.
C: Você coleciona mobilete, né? Como é isso aí?
Acho que meu velho nunca deixou eu ter mobilete, coisa com motor, quando eu era moleque. Nunca tive mini moto, mini buggy, era só bicicleta. Sempre curti pra caralho; não essas motonas, tipo Harley-Davidson, mas Scooter, Dream e umas motinhos que não precisam de carta. Eu não tenho carta de moto. Eu vim de scooterzinha hoje pra cá, uma cinquentinha. E eu morei na Europa que é tudo perto, tudo a pé ou de bike. Aqui é tudo longe e eu odeio dirigir. Então é um hobby e uma solução.
F: Quantas mobiletes você tem?
Umas oito. Tudo meio no estilo ska, reggae. Geralmente, eu acho nas quebradas, periferia.
C: Em Santo André os caras colocavam motor de Dream na mobilete pra roubar outras mobiletes.
Agora eu tô envolvido, tenho mecânico pras mobiletes. O Bocão que me apresentou, mora lá em Pirituba. Agora ele que tá mexendo nelas.
C: Mas você não pega a Marginal de mobilete.
Ah, com as minhas eu posso pegar, mas evito. Dá mó medo. Hahahaha! Mas eu vou até o centro, faço vários rolês. Normal. Veículos lentos. Mas voltando o assunto, agora tô indo bastante pro lance da arte. Meu irmão tem uma galeria de arte, eu tenho uma pequena porcentagem lá com ele. Não dá pra ficar com o skate como única inspiração, porque você vai ficar puxando fumo, ouvindo trap e ficando burro, cara. Haha! Se você não ler nada, não fizer nada com as suas mãos…
F: O mundo é muito grande, tem muita coisa pra você se limitar a uma só. E fica burrão mesmo.
Meu conselho é: não ande só de skate. Independentemente de você andar pra caralho. Por mais que você consiga andar de skate até os 50 anos, que nem o Daniel Kim, por exemplo. Tenta trabalhar alguma habilidade, outra profissão, alguma coisa. Isso talvez até te torne um skatista melhor. Uma hora você vai usar a inspiração de fora no skate, até pra escolher a música da sua parte. E pra você não ser só mais um produto do que a indústria do skate precisa. Ela precisa de um carinha de dread, um negão style, um moderno de All-Star e suspensório… Se você não quiser ser pego e trabalhado por uma marca, usado, tente dominar outros processos dentro do skate. Entender quem compra, quem vende, quem faz, quem cria… Não sou fã de malandro só porque o cara anda muito de skate. Eu não sou fã de quem anda bem ou mal de skate. Sou fã de pessoas que gostam de andar de skate. Que fazem algo pelo skate, não só pelo ego. O skate lida muito com ego. A sua foto, a sua entrevista. Até agora, estamos aqui com as minhas fotos, minha entrevista, minha vídeo-parte, não sei o quê… O skate é individual. Eu joguei polo aquático um tempo, por exemplo. Quando parei de jogar, não precisava mais de companheiros de time, podia andar de skate sozinho. O skate é muito individual.
C: Pólo aquático é da hora, pancadaria. Haha!
Sempre joguei pólo aquático e tinha um pico na frente da piscina. Um corrimão perfeito de doze. Todo dia eu ficava olhando. Eu surfava também. Ainda surfo.
F: Quem você acha pior? Surfista ou skatista?
Ultimamente, tô achando que são os skatistas. Porque o surfista pelo menos preserva a natureza, o oceano, é um pouco menos bico, a cena tem um pouco menos de fofoca, de hater, presta um pouco menos atenção em como você amarrou seu cadarço, sei lá. A cena do skate tá bem chata. Muita pagação. O negócio é ir andar de skate com seus brothers surfistas. Hahahaha! O que é bom no skate é o localismo. Geralmente quando você cola numa pista nova os caras te recebem bem. Isso no surf eu não suporto. Fora as bermudinhas de lelesk, tá ligado? Hahaha!
F: você se considera um cara sem paciência pras coisas?
Não, eu acho que tenho uma paciência do caralho! Paciência de monge! Já trabalhei com gente que vixi… Hahaha!
C: Fala um pouco das suas influências.
Prefiro falar da falta de influência de hoje em dia. Um copiando o outro no mercado do skate. Difícil você se espelhar em alguém, tipo… Eu cresci vendo Chocolate, Girl, Real, Think… Hoje pulverizou muito. Várias marcas são ligadas ao skate mas não são do skate. Hoje em dia, é difícil achar uma referência sólida, uma influência, com tanta segmentação. Tem o lado bom; hoje tem vários tipos de skatistas. Mas o mercado do skate tá bem confuso com isso. Muitas marcas locais… Tá acontecendo uma transformação muito louca. Eu tô tentando entender o mercado, as necessidades, e manter um conceito, uma linha. Mas não sei pra onde vai. Agora com as Olímpiadas, eu não sei se vai pra esse lado corporativo pra caralho ou se vai rolar um divórcio forte na cena, nos tipos de skatista. Queria saber se a gente vai ganhar dinheiro com essa merda ou não, se vai ser bom pra quem faz acontecer ou não. Não que eu precise ganhar dinheiro com isso, mas eu quero ver como a gente vai se comportar. Será que eu vou ter um atleta que vai colar nas Olímpiadas? Que loucura. Eu tô muito curioso. Imagina o skate de uniforme. Eu posso fornecer o uniforme da CBSk pela Blaze. Hahahaha! Já mete o cachimbão, fica a dica! Não sei se o Sandro Dias curte o xará aqui. Acho que não. Haha! Ah, e é muito chato ficar ouvindo: “Ah, você se chama Sandro, anda de skate? Conhece o Sandro Dias?”. Aquela pergunta que você fica: “Puta, por que o Sandro Dias anda de skate?”. Hahaha!
C: Comigo era o Caetano Veloso, odeio. Mas quem vai ganhar dinheiro com Olímpiadas e tal são as marcas grandes, né?
Tipo, eu já relacionei a Blaze com marcas grandes dentro de alguns eventos. Eu nem acho que isso é bom, tá ligado? Mas foi a oportunidade. Eu tenho que trabalhar a imagem da marca. É core pra caralho, mas eu tenho que pagar as contas, né? Tenho que botar meu logo em algum lugar, anunciar com alguém. Mas a marca grande te esmaga. A não ser que seja uma collab que você faça a criação. Tipo a Palace com a adidas. A Palace aparece bastante na collab. Mas muitas vezes a marca grande só usa a pequena pra penetrar o mercado, usar o conceito. Mas o meu conceito é mó pala, né, cara? Então a galera tem até meio medo, sei lá. Blaze, fumaça… Não é algo olímpico, que faz bem, que os pais querem pros filhos. Não é.
F: Faz os arcos olímpicos com fumaça numa camiseta.
Isso tá planejado. Sério, Blaze Olympics, Asterix e Obelix… Tem Copa do Mundo também, com o Zidane dando cabeçada no Materazzi e a Xuxa sentada no colo do Pelé.
F: Você acha que no skate o core é “proibido”, por uma parte do público mesmo, de ganhar dinheiro? Os caras começam a ver de forma ruim? Tipo, a gente faz a Black Media pra ganhar dinheiro fazendo o que gosta e viver bem assim. Todo mundo que faz algo no skate quer isso.
Tem muito, parece que ninguém quer ver você bem no skate. O Brasil também tem essa mentalidade. Como você vai fazer uma marca estando falido? Tem que ter skatista que ganha bem, pros outros ganharem bem também.
F: Tem muita gente incoerente. Odeia Nike e adora Converse, e acha que tá sendo o rebeldão. E você tá de Nike agora que eu vi.
Eu uso. Eu acho o tênis mais feio de skate, mas tô com dor nas costas e pra mim é o melhor tênis pra essa dor. Sei lá, uso várias marcas. Uso o tênis que me derem.
C: Usaria Ark?
Não, Ark, não! Hahaha! Já usei Special é legal; já usei ÖUS, é legal. Já usei vários boots.
C: Quer falar alguma coisa pra alguém? Essa é a hora.
Só agradecer quem teve paciência de me filmar, de me fotografar, que me incentiva a andar de skate. Minha namorada, meus amigos, família. Acho que é isso. Agradecer quem corre comigo no dia-a-dia, todo mundo que respeita meu trampo. Agradecer a vocês pelo espaço, Black Media, puta oportunidade. É o primeiro espaço que tenho no Brasil pra fazer uma entrevista; já tive algumas, mas não aqui. Da hora.
F: Então, agora é só a gente ver aquele banner da Blaze no site. Hahaha!
Hahahaha! É isso.