Pedro Volpi

O Black Media tem três anos e pouco de idade. Durante esse tempo, vimos uma evolução assustadora no skate desse cara. Em alguns anos, transformou-se em um skatista que está no topo da cadeia alimentar bowlzística. Vamos dizer que ele seria um rinoceronte.

Falando de skate de rua, também está em constante evolução. É um dos poucos skatistas brasileiros que anda em qualquer lugar. Isso é muito bom e, melhor ainda, foi acreditar no potencial dele anos atrás e hoje soltar essa entrevista gigante. Do Vale do Anhangabaú aos bowls mais cabreiros do Brasil, com vocês, Pedro Volpi.


Lembro de você de milianos, quando era mais moleque e, do nada, teve uma evolução muito grande. Qual o fator primordial nessa evolução?
Ah, eu acho que um ponto que marcou foi quando terminei a escola e só trampava e andava de skate. Meu pai sempre reprimiu muito, aí comecei a andar mais com o Murilo (Romão) e a evoluir pra caralho. Comecei a colar nas sessões; ele tava filmando pro Seleção Natural. Aí conheci o Pig também, que foi um cara que me ajudou muito. Falo que ele foi meu primeiro patrocinador porque sempre me deu peça, sempre me ajudou muito… Foi aí que dei essa disparada.

Você teve parte no Seleção Natural?
Foi o primeiro vídeo onde saíram umas tricks minhas, na parte dos amigos, e foi bem da hora. Primeiro vídeo de que participei e foi a maior honra, pois foi um vídeo pesado.

Até agora você já fez quantas partes? Ou acredita que as webpartes que soltou não são consideradas partes?
Depois do Seleção, fiz um promo. Depois fiz uma parte pro vídeo da Crazy Beer Barbecue, vídeo de amigos, filmado por nós mesmos, bem DIY, no “faça você mesmo”, na raça. Um vídeo de 20 minutos que ficou bem louco. Depois, fiz dois projetos independentes, com ideias minhas. Um foi o Cinap, com o Marcelo Tartali. O outro foi o Burning Files, com o Marcelo Simões. Eu considero que foram partes; webpartes, né, como chamam hoje em dia.

Como você está de patrocínio? Tem algum?
Os patrôs que tenho atualmente são paradas que aconteceram naturalmente, coisas de amizade que foram rolando. A Balboa Skateshop é o mais antigo. Andava com o Damian e começamos a desenvolver a parceria. Depois veio a Yerbah, marca de shape lá do sul. Eu colava no sul, andava direto com os caras, aí desenvolvemos essa parceria também. Estou há dois anos com eles.

Por que você ia tanto pro sul?
Ah, porque lá rolavam vários eventos da hora. Estava na pegada de andar  bastante em bowl, e em Floripa tem uma cena da hora, muito bom pra evoluir nas transições. Mas aí andei tanto de bowl que enjoei. Morei um tempo por lá, mas chegou uma hora que eu não aguentava mais e voltei pra SP. Recentemente, fechei com a Sheep Killer, marca de cerveja artesanal do Rogério Lemos, que faz umas paradas da hora, faz o Rheumatic, tem um histórico de projetos legais… Acreditei na ideia e fechamos. E a Vans também está chegando com uns tênis.

Agora uma pergunta que foi feita lá no Instagram, pelo @fernandoreissk8, e adaptada pelo Black Media. Onde você sente mais facilidade em andar? No bowl ou na rua?
Essa pergunta é difícil, mano. Eu andei mais tempo na rua do que em bowl. Andava mais na rua, aí conheci o Pig e comecei a andar em bowl. Fiquei uns quatro ou cinco anos andando direto em bowl. Agora tô mais na pegada do street, mas sempre acabo andando em bowl. Acho que o bowl tem uma facilidade maior porque o skate tá sempre no pé. O street é mais girar o skate mesmo, fazer subir, pular, impacto… O bowl acaba sendo mais fácil no final das contas mas, se for ver, eu ando mais tempo na rua.

Você acha que falta skatista overall no Brasil?
Ah, eu acho que tem muito cara limitado mas, se for ver a geração dos anos 90, os caras são todos overall. Nas gerações recentes, por exemplo, tem uns caras que resolvem andar só em palquinho, sei lá…

MC Palquinho?
É, MC Palquinho, hahaha! Outros só querem pular escada e descer corrimão, uns só querem andar no bowl também. Tá faltando uma galera mais overall. Não que seja obrigatório, mas é bom estar em cima do skate, independente do terreno.

Por que você acha que nos anos 90 a galera era mais overall? Os skatistas eram mais completos?
Acho que naquela época você tinha que ser, né? Senão ficava meio apagado. Todos os caras andavam muito bem em tudo e você tinha que acompanhar. Agora que deu essa segmentada cada um resolve pegar um caminho, fica mais fechado, né?

Além dos poucos eventos, né? O cara tinha que estar nos eventos que tinham, aparecer. Questão de pico também, não tinha tanto.
O cara tinha que saber andar em qualquer lugar, não podia ter tempo ruim. Sem frescura. Hoje em dia, tem muito cara fresco no skate, que não anda em pico assim, assado… O bagulho é andar de skate em todo lugar, sem frescura.

Tem uns caras que vão pra Barcelona e, quando voltam, não querem mais andar nos picos do Brasa.
É, não pode esquecer que a gente é do Brasa, mano. Essa é nossa realidade, a nossa verdade.

E você pensa em sair do Brasil? Planos de viajar?
Tenho muita vontade de ir pra fora, só faltam as condições mesmo. Vontade não falta. Quero ir pra Califórnia por causa das piscinas, dos ditches, coisas que não foram feitas pra andar de skate mas são skatáveis. É a raiz do skate. Onde os caras começaram mesmo. Europa também é o paraíso. Picos de rua perfeitos, vários picos diferentes, esculturas skatáveis… Mas piscina é o que tenho mais vontade, porque andei em duas aqui no Brasil e acabaram sendo os dias mais legais.

Quais piscinas você andou aqui no Brasa?
Primeiro, na Classe D. Foi uma experiência muito foda por ser uma piscina clássica. Foi a primeira vez, muito emocionante. Teve aquele evento em Caçapava também, coincidiu com a morte do Jay Adams e acabou sendo meio que uma homenagem. Foi uma energia muito style. Depois andei mais duas vezes em Caçapava, for fun.

O que rolou na Hi Adventure quando o Marlon tentou te pular e você bateu o rosto e desmaiou. O que houve? Falaram em imprudência… Vocês são amigos?
O que rolou foi only bagunza. A gente sempre anda todo mundo junto dentro da pista. A gente se coloca nesse risco mesmo, então não dá pra querer reclamar. Pode ter sido um pouco imprudente, sim; não calculou bem e achou que ia dar… Eu não vi ele vindo e rolou o acidente. Tava no calor do momento e todo mundo com sangue nos olhos. Mas a gente é melhor amigo, tá ligado? Ele foi comigo no hospital, ficou na deprê. Mas foi solidário, ficou junto o tempo todo pra ver o que rolava. Faz parte, skate é isso.

Como funciona hoje em dia? Você vive do skate? Tem que trabalhar, fazer bico? E acha que o trampo diminui a evolução do skate?
Com certeza, eu acho que um trabalho fora do skate, ou até mesmo dentro do skate, acaba tomando o tempo que você deveria estar andando. Você fica com outra coisa ocupando sua mente, seu tempo, desgastando sua energia. Hoje eu tenho um suporte dos meus patrocinadores, mas não é o bastante pra pagar as minhas contas. Tenho sempre que fazer uns bicos pra tirar um extra, dar jeito pra não ficar no veneno. Se ficar estagnado, acaba ficando igual esses caras aí, que ficam só na marreta, não fazem o corre. Se o skate não está dando dinheiro, você tem que buscar em outros cantos. Tem uma coisa que sempre penso: quando comecei a andar de skate, não foi pra ganhar dinheiro. Eu ganho hoje por consequência, aconteceu naturalmente e eu não quero forçar um bagulho só pelo dinheiro. Se eu tiver que buscar dinheiro de qualquer jeito, prefiro buscar em outras coisas e continuar a andar de skate de uma maneira que eu me sinta bem, que sai de dentro de mim. Me expresso pelo skate e não vou me vender por dinheiro.

Qual foi a manobra mais difícil da entrevista?
Puta, mano, a mais difícil…

Ou nenhuma foi difícil? Hahaha!
É, mais ou menos. A mais difícil foi a que não voltei e não entrou. Haha!

E qual foi a que você ficou mais feliz de acertar?
O lipslide na borda curva. Eu via essa borda há muito tempo. Passei massa plástica, fui lá primeiro e só dei um fifty. Depois voltei e dei o lipslide. Foi muito da hora a sensação da manobra; a sessão tava style, foi bom em todo o contexto, mas não foi tão difícil. Acho que outras foram mais difíceis. Se pá foi até o fs blunt, que é um pico bem difícil mesmo de andar.

Você se sente mais um RTMF ou um Flanantes?
Hahahahaha! Eu não gosto desse negócio de rótulos, crews, não levanto bandeira de nada. Eu sou eu, Pedro Volpi, skatista. Não gosto de rótulos nem dentro do skate: bowlrider, streeteiro… Sou apenas skatista. Mas, mano, sou parceiro dos caras do Flamantes e são amigos que conheço há muito mais tempo. Murilo, Apelão, caras que conheço desde a época do Carandiru, a primeira pista que comecei a colar. Os caras do RTMF me receberam muito bem desde a primeira vez que colei lá. Me proporcionaram muitas coisas legais, de evolução a momentos de diversão. Só tenho a agradecer por poder fazer parte dessas galeras todas aí.

Agora uma pergunta do Marlon: o que significa #driewefil?
Hahahaha! Aí é uma brisa… Sempre viajei de escrever ao contrário e comecei a usar essa tag pra postar uns negócios meus.

Pra parecer descolado?
Não, pra ter um álbum meu. Tipo uma hashtag minha.

Por que não usou #pedrovolpi? Não daria no mesmo?
Não. Com certeza, já teria outro. Haha!

E #paizinho?
Hahahaha! Pior ainda! Essa é a única que é única.

“Única que é única”. Isso é um poema! Hahaha! Conta sobre o apelido Manchão. Essa pergunta é do Murilo Romão a.k.a. Bolinha de Energia.
Mano, esse é um dos apelidos que não entendo muito bem. Os caras da Zona Norte que inventaram. Falaram que eu parecia o desenho da Mancha Verde, acho que era isso. Cadê o tira teima? Hahahaha!

Qual a maior dificuldade que você passou no skate? E a maior alegria?
Puta, mano… A maior dificuldade é sobreviver no skate. Eu ando há 14 anos, mas faz uns seis que tô na pegada mesmo. Desde que comecei a evoluir forte e me joguei nessa vida do skate, larguei o trampo e comecei a viajar. A dificuldade é se manter firme esse tempo todo, sem desistir. Tem muito cara que desiste. É isso… Resistir.

E a maior alegria?
É difícil resumir em uma coisa só. São várias que o skate dá: amigos, situações de muita gratidão por estar vivendo aquilo. O skate proporciona vivências maravilhosas. Acho que a maior felicidade é isso: poder estar vivendo de skate até hoje. Espero continuar, porque é muito bom poder viver fazendo o que gosta. A melhor coisa é fazer algo por amor.

Por que demorou tanto pra sair essa entrevista? Estamos fazendo as fotos desde quando?
Nem sei dizer desde quando. A gente estava nas sessões e começamos a fazer as fotos, e aí chegou uma hora em que vimos que já tinha umas fotos. Aí resolvemos que íamos “fazer mesmo”. Eu acho que deve fazer um ano. Foi tudo bem descontraído.

Faz mais tempo, bem mais…
Ah, então nem lembro. Foi tão descontraído que nem lembro. Logo que resolvemos fazer pra valer, eu machuquei o joelho e fiquei dois meses e meio parado. Mas não foi grave e tô voltando à ativa… Não tô 100% satisfeito, mas foi uma coisa que rolou bem legal e tô feliz. Espero que gostem.

Voltando a falar naquela coisa de “skatista brasileiro no corre”. Qual seria, pra você, o skatista mais desvalorizado do Brasil?
Diego Vanks, Diego Uênks, não sei como se pronuncia. O “Golden Boy”. É o cara mais cabreiro que já vi, desses que estão junto no dia-a-dia. O moleque é muito sinistro; não tem patrô, os caras só enrolam quando ele arruma algo, nunca vai pra frente e ele tá desencanado. Você não pode ter expectativa. Os bagulhos mais da hora, que são os patrôs que eu consegui hoje, não são de marca grande, mas são verdadeiros e aconteceu naturalmente. Não são caras que ficam fazendo planos mirabolantes que, no final, não dão em nada. Eu espero que um dia ele consiga uma parada da hora, mas ele tá desencanado. Não sei o que ele quer mas, pra mim, ele é o mais cabreiro e é muito desvalorizado, não tem o reconhecimento de ninguém.

Você quer mandar alguma mensagem pra alguém?
Ah… Agradecer o Black Media pelo espaço. Você, Caetano, que tá ai no dia-a-dia, que ficou ali no “sangue, suor e lágrimas”. Agradecer meus amigos que estão junto, patrocinadores, todos que estão na sessão, quem tá junto no rolê, quem faz parte da minha vida de alguma forma… Minha família, que é o mais importante. Se não fosse por eles eu não estaria aqui: minha mãe e meu pai.

Com certeza! Hahahahaha!
Hahahahaha! É lógico, mas vale a pena ressaltar! Hahahaha!

Quer falar mais alguma coisa?
Eu quero falar que a molecada tem que valorizar a cena local e parar de pagar pau pros gringos, porque no Brasil tem uma cultura de ficar muito na bota dos gringos e aqui a gente faz muitas coisas legais, muitas vezes muito melhor que eles, e sem estrutura. A galera tem que por a mão na cabeça e pensar duas vezes antes de renegar o nacional: skatistas, marcas, eventos, tudo que o país produz, porque tem coisa boa…Tem coisa ruim, mas tem coisa boa também. Se nós mesmos não nos valorizarmos, ninguém vai botar a gente pra cima. Nós temos que nos unir. É aquele velho ditado: a união faz a força. Então fica aí pra essa nova geração, principalmente os que não conhecem os skatistas, as marcas nacionais. Acho que tem que dar mais uma atenção; com a internet tá fácil pra todo mundo.

Já que falou nisso, qual a melhor mídia de skate do mundo?
Ficou fácil. Black Media, né, mano?

Muito obrigado.

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