Mais uma entrevista traduzida da Jenkem. Dessa vez, Alex Olson fala sobre sua saída da Girl e da 3D, da criação da sua marca, sobre homossexualidade e a falta de personalidade que reina no skate atual (na opinião dele, claro).
Em maio, você saiu da Girl. Foi uma saída amigável?
Não, na verdade, não. Quer dizer, ninguém quer ouvir que é um merda. E não tô dizendo que eu cheguei e falei: “Vocês são uns merdas, sai fora!”. Eu expus meus sentimentos, o que eu sentia, mas isso é difícil de ouvir. É como sua namorada terminar com você e fazer uma lista dos motivos. Claro que isso vai ser ruim. Foi muito difícil falar com eles, porque foram eles que acreditaram em mim e me ajudaram a me tornar quem eu sou.
Por que você quis sair?
Todos os caras que eu cresci assistindo não estavam mais na Girl; alguns nem andando mais. Tipo o Gino, Scott Johnson, Brian Anderson… Eles ficaram mais velhos e eu era o cara do meio, sem ninguém da minha idade junto. E aí, com todo mundo muito mais jovem que eu, me senti a ovelha negra malvada. Eles estão descobrindo as bebidas agora… Isso me deixa numa área meio cinza. E também não gostei do que fizeram com o vídeo (Pretty Sweet), mas foi só isso. Eles não tinham escolha, estavam presos. Acho que o Ty (Evans) tinha que segurar as imagens, mesmo que quisessem usar pra outra coisa. Não estou querendo falar mal, só que ficou parecendo mais um produto mesmo. Agradeço por estar no vídeo; é um daqueles que muda a vida do garoto que assistiu. Nesse sentido, é incrível estar envolvido num projeto desses. É tipo os vídeos da Powell, tipo um Animal Chin pra nova geração.
Com quem você mais andava na Girl?
Brian (Anderson). Então, quando ele me disse que ia sair, eu pensei que não tinha mais motivo pra eu ficar. Eu sentia que ele era o único cara que me entendia; ele e Mike (Carroll). Ele viajava com arte, algumas músicas… E aceitava tranquilamente quem não gostava das mesmas coisas.
Mas aí você saiu com o Brian Anderson pra entrar na nova marca dele, a 3D Skateboards, e já saiu dessa também…
Ok, com a 3D foi o seguinte. A gente tinha conversado, durante as filmagens pro Pretty Sweet, sobre a ideia de começar uma marca do nosso jeito. Um ano depois, o Brian me disse que ia fazer a dele e perguntou se eu queria entrar. Eu falei: “Claro! Se você sair da Girl, eu ando pra você sem problema. Você é uma das razões pelas quais eu ando pra Girl”. Então ele abriu a marca e eu coloquei toda a minha confiança nele – na visão, direção criativa e tudo mais.
Pra resumir, pra mim começou a ficar tudo muito parecido com a Girl. E pra mim, tinha que ser mais tipo: “Vamos fazer algo parecido com o que a Palace está fazendo”. Eu gostava mais dessa ideia; nós tínhamos visões diferentes. Ele queria algo confortável, e eu queria experimentar. Então eu falei pra ele: “Eu estou vivendo a sua parada, e eu quero isso também. Também quero ter minha marca. Não quero te ferrar, então é melhor eu sair agora do que daqui a duas temporadas, quando eu já estiver muito associado à 3D”. Ele é meu amigo, e eu quero ter algo pra poder fazer o que eu quiser. O skate tá muito parado pra mim, e eu realmente gosto desses novos skatinhos menores, seja lá como você os chame.
E se a Palace te oferecesse um lugar no time? Ou você quer criar algo do zero?
Estou tentando começar do zero. Basicamente, estou trabalhando em algo já. Mas isso me daria motivação. Foi por isso que saí da Girl: depois do Pretty Sweet, eu não estava mais andando. Não toquei no meu skate por uns cinco meses. Então eu estava tipo: “Tá, se eu começar algo novo isso vai me dar um gás e me fazer querer andar de skate”. Eu assistia a muitos vídeos do James Murphy, e ele saiu da banda (Testament) porque estava viajando demais e queria sua vida de volta. E eu estava me sentindo um pouco assim, então isso me inspirou um pouco. Quero fazer algo criativo, trazer referências de fora do skate e vice-versa. Eu estava enjoado das coisas velhas, e os vídeos da Palace representam o tipo de skate que eu gosto atualmente.
Entendi.
Prefiro isso do que ficar tentando uma manobra por sete dias e, quando acertar, já ter mais umas 15 pra tentar também. Talvez seja uma visão preguiçosa, mas eu quero assistir Mouse (vídeo da Girl) o dia inteiro, mas com manobras atuais. Eu sei que isso não é evolução, mas eu só quero assistir skate bom e normal. Prefiro assistir o AVE fazer uma linha, sem querer saber o que é. Quando a Crailtap começou com os videozinhos curtos, eu achei animal porque não eram as coisas mais difíceis do mundo, e você se identifica com aquilo. O skate tá muito estranho atualmente. Está tipo: “Olha só o quanto eu me esforcei pra fazer isso”. E isso é evolução, o que é bem legal, mas eu só quero andar e, ocasionalmente, mostrar alguma coisa. Todo mundo tá seguindo muito a moda. Foi o que aconteceu com a folha da maconha: alguém grande começou a usar a imagem, e aí todo mundo começa a usar shape com aquilo. É assim que a América e as empresas funcionam. “Ah, o iPod vende bem, então nós também precisamos fazer um MP3 player.”
Foi o que aconteceu com os bonés 5 Panel…
Exatamente. Tipo: “Eles estão fazendo e tá fazendo sucesso, então vamos fazer também.” Odeio isso. Quero me afastar disso de qualquer jeito. Eu compro muito vinil, remixes de DJs e aqueles white labels, discos com edições limitadas de 200 cópias de uma tal música. As versões exclusivas são muito difíceis de achar, e a ideia de algo limitado me interessa. Essa é a grande ideia por trás da parada. Fazer algo de qualidade e, se uma camiseta vender muito, não fazer mais cinco cores dela. Não é meu estilo, acho irritante. Camisetas de merda com um custo baixíssimo e que dão um lucro absurdo. Essa mentalidade é muito estúpida. Eu sou mais fazer algo especial e, se for bom, as pessoas vão comprar e voltar depois, pois sabem que lá tem coisa boa.
Quero trazer essa coisa do vinil pra minha marca. Não quero criar uma coisa muito grande. Não me importo com as vendas. Só quero fazer algo legal e, se a empresa se sustentar, ótimo. Eu só quero fazer vídeos divertidos e, se a Nike me quiser em uma parte, eu vou me esforçar pra fazer algo difícil, mas tentando ser criativo. Sem querer parecer metido, é assim que eu sinto o skate hoje. A música é um aspecto perdido nesse mundo, e eu quero trazer isso de volta. Agora, as duas coisas estão muito longe uma da outra, o que é muito triste.
Quem vai te ajudar a decolar com essa ideia?
Tenho um amigo me ajudando com a parte das finanças, e eu vou ser a parte criativa sozinho. Se a molecada pegar a vibe da coisa, estou feliz. Cara, é uma cópia da Palace, praticamente (risos). Infelizmente. Eu falei pro Lev (fundador da Palace) que ele me inspirou a fazer a minha marca, e a Polar também. Só espero que eu não atrapalhe ninguém.
Já tem um nome pra marca? Você pode chamá-la de White Label.
Pode acreditar que já pensei nesse nome, mas parece muito com Black Label. Cara, conseguir um nome é foda mas, ao mesmo tempo, o nome não importa tanto, porque as coisas que você vai fazer vão ditar sua identidade. Aí o nome se torna secundário, porque as imagens vão se conectar com ele.
Você já disse em uma entrevista que não gosta da indústria do skate. Do que você não gosta, especificamente?
Não gosto de como ela é controlada, sabe? Talvez eu romantize muito os anos 80, o começo dos anos 90, lembrando de como as pessoas eram criativas. Mas talvez fosse do mesmo jeito que hoje; tenho certeza que pra algumas pessoas é isso mesmo. Sempre uso o exemplo do Senhor das Moscas (filme), onde tinha um monte de crianças conduzindo a indústria e ninguém ligava. Ninguém ganhava dinheiro, então era mais criativo. Agora, ninguém tem opinião. E aí quem tem…
Fica parecendo babaca.
Exatamente. Ninguém mais tem opinião. Você vai em um campeonato e parece que todo mundo está drogado, super feliz. Como chama aquele filme do Tom Cruise, que a esposa dele é um robô? Mulheres Perfeitas?
Você se incomoda com comentários do tipo: “Ah, o Alex é um mimado. Ele não sabe de qual marca tá saindo”.
Eles não me conhecem, porque se importam? Não, não me incomoda. Eu nunca te conheci; se eu te conhecesse há um tempo e você dissesse algo assim talvez me afetasse um pouquinho. Mas alguém que não sabe de nada e já tá odiando… Talvez seja inveja ou porque eles fariam de outra maneira se estivessem no meu lugar. Todos podem ter opinião. Às vezes, é engraçado ler essas coisas.
Você pode falar mais alguma coisa sobre a sua marca?
O Brian Anderson me deu um livro, Fire Island, que tem o clima que eu busco com a marca. É um pouco demais pra algumas pessoas… A coisa é assim: A Ilha do Fogo (tradução livre do título) foi um lugar para onde os gays iam e se libertavam, sem se preocupar com alguém descobrindo que eles são homossexuais. Isso ficava em Long Island, onde todos esses caras homossexuais podiam ir e se abrir, ter um emprego normal e ninguém saberia. É muito louco e triste, porque muitos deles morreram quando aconteceu a epidemia de AIDS. Foi uma época maluca, mas que eu gosto muito.
Então sua marca vai ser super gay?
Não vai ser super gay mas, definitivamente, vai ser tipo… o oposto de homofóbico. O skate é dominado por homens… E você tem que aceitar o fato de que há gays andando de skate. Sem chance de haver apenas três profissionais assumidamente gays e tal. Dizem que um em cada 10 caras é gay. Bom, quantos caras andam de skate? Mal posso esperar pelas reuniões, quando todo mundo tiver uns 45 anos de idade e alguns falando: “Cara, sou gay!”.
Você acha que alguém vai falar publicamente sobre isso enquanto ainda tem uma carreira ativa?
Não sei, mas acho necessário, cara. É uma daquelas coisas que as pessoas precisam saber. Vai apenas fortalecer a pessoa e inspirar mais gente. É uma babaquice; tem atletas profissionais se revelando, mas skatistas não? Nada de ruim vai acontecer, você não vai perder patrocínios ou sair do time porque você é gay. E, se te tirarem, vai ser um problemão pra quem fizer isso. É muito idiota. Acho bem estranho a indústria ser tão grande e não haver nenhuma pessoa publicamente assumida.
Pra terminar, você já considerou abandonar o skate de vez?
Sim. Quer dizer, agora eu vou fazer a minha parada. Se não der certo, eu fiz tudo que podia dentro do skate, explorei cada pedaço, e não há mais nada pra se fazer, né? De certo modo, não estou tão preocupado, porque a vida continua, e há muito mais que o skate; eu tenho outros interesses. Ainda vou andar de skate, mas não preciso ganhar a vida com ele. Eu posso viver assim. Se eu perder todos os meus patrocínios amanhã, provavelmente vou continuar andando e fazendo o que quero. Seria legal que alguém me ajudasse nisso mas, se ninguém o fizer, tanto faz. C´est la vie, e talvez eu vá trabalhar num fast food. Quem sabe?
entrevista por Ian Michna
tradução por Felipe Minozzi (Fel)
Artigo original
Thanks, Jenkem Mag!