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Andrew Reynolds – Jenkem

Andrew “The Boss” Reynolds dispensa apresentações, então vou apenas dizer que se você quer saber a opinião dele sobre skate nas Olimpíadas, drogas, mercado e o quanto ele ganhou pra estar no Tony Hawk´s Pro Skater, você tem que ler essa tijolada de texto aqui embaixo.

Mais uma da parceria com a Jenkem, traduzida pra quem sempre quis saber o que os gringos dizem.


Você é milionário?
Bom… Se você tem um milhão de dólares, você é milionário?

Claro, eu diria que sim.
Bom, então estou perto disso, provavelmente. Se certas coisas não tivessem acontecido na minha vida e eu tivesse tomado algumas decisões diferentes, provavelmente teria o triplo do que tenho agora. Eu queria já saber de coisas que só sei agora. Tipo… Eu tive um Lexus SUV, uma Mercedes, uma BMW, uma ex-mulher que tinha uma BMW, uma casa na colina… Tanta merda que você não pode levar com você, por tanto dinheiro, e eu poderia estar apenas dirigindo esse lindo Ford Victoria o tempo todo, sendo feliz do mesmo jeito. Mas acho que você só aprende vivendo.

Faz um tempo que você começou a vender um monte de coisas, se mudou pra uma casa menor… Por que?
Eu percebi que ter uma casa de cinco quartos, morando só eu e uma criança, era ridículo. Eu só queria uma casa normal. Perdi dinheiro nessa brincadeira aí também. Chegou a um ponto em que eu tinha vários Cadillacs, porque gosto de filmes de máfia, do Outkast, e tudo isso me influenciou tanto que eu precisava ter um Cadillac. Aí alguma coisa aconteceu e eu não queria mais tudo aquilo. Agora, não ligo pra mais nada disso. Casa, carro, nada. Se você tem comida, família, seus amigos e algum abrigo, então todo o resto não importa.

Você já está sóbrio há mais de uma década. Como você entrou no mundo do álcool e outras drogas?
Acho que é isso que as pessoas fazem quando crescem em cidades pequenas… Festas, sabe? Talvez todos fiquem entediados, procurando o que fazer. Acho que faz parte do ciclo da vida. Eu tinha 16 ou 17 anos e meus amigos eram mais velhos, então acabei caindo nisso. Mesmo com 16 anos, eu sempre bebia até vomitar e apagar. Eu era muito novo pra saber algo sobre o alcoolismo. Se eu apagasse e acordasse vomitando no outro dia, eu pensava: “Ah, a gente tava na festa!”. Mais ou menos na mesma época, comecei a fumar muita maconha. Ia pra lá e pra cá de carro, fumando a erva. É isso que todo mundo faz até hoje. Acho que é uma coisa do sul; ouvir Outkast e fumar um. Eu lembro de ter visto a Elissa (Steamer) em um cruzamento e passar um baseado do nosso carro pro dela.

Aí, quando fiz 18 anos, me mudei pra Califórnia, onde todo mundo tinha como modelo caras como Tom Penny, Chad Muska… Eles apavoravam na Califórnia, e lá essa cultura era bem mais aceita. A gente fumava maconha, bebia e andava de skate, era normal. Dustin (Dollin) usava drogas desde muito cedo e, uma noite, ele trouxe um pouco de cocaína, colocou na mesa e eu cheirei. Não pensei que fosse uma má ideia ou coisa do tipo, era igual a fumar um.

Meses depois alguém trouxe mais, eu cheirei de novo e, daí pra frente, dos 19 pra frente, eu cheirava direto. Depois, a gente já andava com pessoas diferentes, que fumavam crack e usavam ainda mais drogas. Comecei a fumar mesclado (cocaína com maconha)… Ia qualquer coisa. Ecstasy… Foi uma época de experimentação, e eu acordava no outro dia e pensava: “Caralho, o que eu tô fazendo? Isso é burrice. Eu não quero fazer isso”. Mas depois de algumas cervejas e um pouco de maconha, minha cabeça virava e não havia mais regras… Vamos lá. É porque eu sou um viciado. Nem todo mundo vive desse jeito, mas se você é um viciado e um alcoólatra, é isso que você faz.

Alguma dessas substâncias já te ajudou no skate de alguma maneira?
De jeito nenhum. Não. Eu falo com toda a certeza que maconha, bebida ou outras drogas não te ajudam em nada. Nada. Pra ninguém. Eu realmente acredito nisso. Acho que quando alguém diz: “Ah, quando eu fumo maconha eu ando melhor”, ou “Se eu tomar uma breja eu tenho qualquer manobra”, é tudo besteira. Só com uma mente limpa você consegue se focar e fazer um bom trabalho, no que quer que seja.

Parece que várias marcas de shape estão diminuindo o time agora. Você mesmo cortou o Spanky e o Braydon da Baker. Você acha que a tendência é os times serem menores? Só três ou quatro caras representando uma marca?
Eu realmente não sei. Parece que sim mas, ao mesmo tempo, eu cresci gostando do conceito de ter um time. É uma família de skatistas. Quando eu era criança vendo um vídeo da Plan B, por exemplo, eu ficava: “Cara, esse time é foda! Eles vivem juntos, andam nos mesmos picos juntos e se divertem”. Eu sempre vou tentar permanecer com esse conceito. Na Baker vai ser assim. Eu queria que todo mundo pudesse ser profissional pra sempre, mas não dá. Eu tenho o pé no chão. É o ciclo das coisas, sabe? Faz parte do skate.

O Jamie Thomas é conhecido por motivar e incentivar os caras da Zero a voltarem manobras pras vídeos partes… Você já subornou seus skatistas?
Nunca, eu deixo cada um fazer o que gosta. Mas tipo, se estamos andando só na amizade, eu aposto US$20,00 nisso ou naquilo. Mas não tem lista de manobras, ou aumento de salário caso o cara acerte essa ou aquela manobra. Eu gosto de caras como o Keenan ou o Gino, que chegam com bem menos imagens, mas com muito mais valor. Quem sou eu pra dizer o que é melhor ou quantas manobras você tem que dar?

Você já andou pela marca do Tony Hawk, a Birdhouse. Algo que valha a pena ser citado dessa época?
Sim, com certeza. Se você vai ver o Tony Hawk em uma demo, você vai vê-lo destruir tudo. Algumas pessoas podem não concordar, mas eu acho isso a coisa mais legal do mundo. Se eu vou fazer uma demo, dou o meu melhor, porque os garotos estão lá pra ver isso. Aprendi isso com ele. Eu já vi o Tony zuado, com o tornozelo inchado, em tour há três semanas, e ele sempre dava o máximo. Não importa quando. Não importavam os problemas familiares dele, se a tour estava uma merda… Ele ia lá e dava o melhor, sem reclamar nunca.

Andrew Reynolds, Jim Greco, Tony Hawk, Willy Santos e Heath Kirchart, 1997. (Reprodução altamontapparel.com)

Você se sente preso ou infeliz com a fama?
De jeito nenhum. Até brinquei com o Spanky outro dia, quando a gente ganhou Starbucks de graça. Não é algo que as pessoas admitam curtir, mas quando nós saímos de lá, começamos a rir. “Isso é uma das coisas mais legais de todas!”.Quando alguém te reconhece e te dá um café de graça é muito legal. E a pessoa que deu também se sente bem, ajudando alguém de quem eles gostam. Se o Nick Cave (músico) fosse até o meu trabalho, eu ia dar um monte de coisa pra ele levar também! E nós dois nos sentiríamos bem. A garotada é sempre legal, eles são demais. Então, minha resposta é não! É tudo muito bom.

Você está nos trinta e poucos anos e ainda pulando escadas e gaps. Algum exercício secreto que você possa revelar?
Eu sou de uma época em que se alongar e ser saudável não fazia parte do negócio. Isso é coisa nova. Você vê os caras no Street League se alongando; alguns até tem personal trainer. Pode acreditar: se eu pudesse ficar comendo frango frito, fumando e sem me alongar nenhum dia quando eu tinha 22 anos, era isso que eu faria. Pra mim, é questão de sobrevivência continuar andando de skate. Estou sóbrio, não fumo cigarro, não uso drogas, não bebo e isso já ajuda bastante. Parei de comer carne e latícinios. Também tomo uma proteína baseada em plantas, a Vega. Na verdade, se eu bebesse umas três garrafas de água por dia e me alongasse, eu sinto que poderia andar bem de skate até uns 50 anos.

Alguns skatistas já me disseram que quando eles tentam uma manobra muito difícil e assustadora, eles meio que apagam entre as tentativas. Isso já aconteceu com você?
Definitivamente. Já falei com o Jim Greco sobre isso. O apagão é o que você procura quando está tentando muito uma manobra. Eu já percebi isso quando era novo; estava num campeonato e depois alguém dizia: “Foi da hora quando tocou Led Zeppelin”, e eu não tinha ideia do que eles estavam falando. Na minha memória só havia silêncio. No Tampa Pro, por exemplo, é só foco e silêncio. Se eu conseguir lembrar qual música estava tocando em um campeonato ou demo, é porque não queria estar lá de verdade.

Você já foi personagem nos jogos da série Tony Hawk´s Pro Skater. Ganhou um dinheiro com isso?
Bom, no primeiro jogo eles pagaram royalties pra todo mundo, em cima dos jogos que foram vendidos. Depois disso, eles viram que os personagens estavam ficando bastante conhecidos por causa do jogo. As crianças vinham e falavam: “Eu jogo com você no Tony Hawk!”, e não “eu vi sua última vídeo parte”. Então, no primeiro jogo, todo mundo ganhou dinheiro. A Elissa Steamer, eu, todo mundo que estava lá. Estávamos todos rindo, felizes da vida. Nós recebemos um cheque com uns US$190 mil em royalties, e ficamos de cara. Era incrível! Mas aí algum skatista profissional, não sei quem, foi até o escritório dos caras e disse que queria entrar no jogo também, e não ligava pra grana, faria de graça. Então os caras pensaram: “Esses caras aqui fazem de graça!”, e ofereceram um valor fixo para o próximo jogo. E assim foi nos próximos jogos, um valor fixo de US$10 mil, por aí… Mas você vai fazer o quê? Eu não estava em condições de dizer que não queria os 10k. E o jogo era tão grandioso; todo mundo disse sim. Eu realmente acho foda a Elissa Steamer ter ganhado US$190 mil; essa é a minha parte favorita disso tudo.

“Cada um recebeu um cheque com US$190 mil em royalties, e ficamos de cara”

Quando o Baker 3 (vídeo) saiu, você disse: “Com vídeos assim por aí, nós nunca vamos chegar às Olímpiadas”. Agora, anos depois, com as Olímpiadas cada vez mais perto, você mudou sua opinião?
Ah, eu não fico mais julgando esse tipo de coisa. Honestamente, eu não me importo. Quando você olha para o mundo e pensa, vê que tem pessoas passando fome e tantos outros problemas… Eu realmente não me importo com o skate nas Olímpiadas.

Eu gosto de ver o Kareem (Campbell) andando de skate por Hollywood, com a calça no meio da bunda e de Reebok. Eu gosto disso. Eu gosto da Baker e da Palace. Jon Dickson, Ricky Oyola, os caras da costa leste… Wes Kremer, Grant Taylor, os caras da Deathwish… É disso que eu gosto no skate. Sempre vai haver o lado cru do skate, e agora tem esse outro lado. Acho que as Olímpiadas podem equilibrar as coisas. Será que nos outros esportes existe um lado “limpo” e um lado sujo? Não sei… Eu não me importo com isso. Alguém vai ganhar muita grana, isso eu sei.

Bom, os donos de marca, como você, não podem lucrar com isso, já que o skate vai atingir uma escala global, fazendo todo mundo vender mais?
Não. É aí que eu acho que as pessoas estão enganadas. Acho que a Nike, a Mountain Dew e esses caras grandes – não que eu tenha algo contra eles – estão imaginando que vão ganhar uma grana violenta no skate. Mas eu sou dono de algumas empresas no skate e não tem todo esse dinheiro no mercado. Eu vejo a verdade. Não há tanto dinheiro a ser feito. Skatistas de verdade, que quebram o shape e gastam tênis? Não sei.

Acabei de voltar de um campeonato em Nebraska e tinha só uns 30 caras lá.As pessoas estão achando que o skate é maior do que ele realmente é, e que há mais dinheiro a se ganhar do que realmente há. O fato de todo mundo estar usando os tênis do Janoski, vendo o sucesso do produto, fez as pessoas pensarem: “Uau, um model de profissional pode vender tanto assim?”. Mas acontece que o tênis dele calhou de ser tipo um Chuck Taylor. O Stefan mandou muito bem e fez um design bom e atemporal, mas é uma coisa que só acontece uma vez na vida. Isso e algumas coisas da moda do skate levou as pessoas a acreditarem que ele é algo que não é.

Pra falar a verdade, acho que o skate é pequeno. Eu vejo quantos shapes meus skatistas vendem. Eu vejo quantos shapes meus melhores skatistas vendem. Não é tanto assim, e tá legal desse jeito. É legal pra nós, skatistas que são donos de um negócio dentro dessa pequena cultura. Esses caras que entram no skate achando que vai ser de um jeito que nunca vai ser… Quero ver, quando o dinheiro não voltar pro bolso, se eles vão mudar de ideia. Vamos ver.

Tem algo que você ainda quer fazer antes da sua carreira como skatista profissional acabar?
Eu acho que a Baker, Pissdrunx e a nossa galera podem ter causado alguns problemas, e eu gostaria de consertar isso o máximo possível. Quero afastar as crianças o máximo possível das bebidas, das drogas e desse estilo de vida. Acho que esse é um bom trabalho pra mim. Quero continuar andando e manter o skate como uma coisa única, pequena e divertida. Acho que só isso.

Você acha que a Baker de antigamente passou a mensagem errada e tirou alguns moleques do caminho certo?
Sim… Mas era uma daquelas coisas em que não havia mentira. Era tudo a mais pura verdade. Era como se o Beagle (videomaker) estivesse fazendo um documentário sobre a gente; nós éramos daquele jeito. Aquilo era a Baker. Não posso mudar isso. Mas agora posso mostrar que você não precisa fazer tudo aquilo pra ser legal. Um monte de moleques vem falar comigo nas demos; coisas do tipo: “Cara, eu comecei a me afundar em algumas coisas, mas entrei para a reabilitação, para o A.A. e não faço mais nada disso”. Já ouvi muito isso. Quem sabe… Isso pode até ter salvado a vida de alguém. Isso é mais importante pra mim do que “você é meu skatista favorito”. Eu posso ter salvo um garoto de uma overdose de heroína ou coisa do tipo. Isso é muito maior que o skate.


entrevista por Ian Michna – Jenkem
tradução por Felipe Minozzi (Fel)

Artigo original

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