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Paul Rodriguez e a Primitive – Jenkem

Paul Rodriguez acabou de anunciar sua saída da Plan B para fundar a própria marca: a Primitive Skateboarding, que já tem no time Nick Tucker e Carlos Ribeiro.

Um novo modelo de negócios (será que é sustentável?), a vontade de vencer campeonatos, a reza dentro do boné, a religião e outras coisas nessa entrevista que a Jenkem conseguiu com o cara e nós já traduzimos pra você!


Você acabou de sair da Plan B pra começar sua marca, a Primitive Skateboards. Como foi isso?
Então, eu admito que não saí de lá do jeito que deveria ter saído. Eu estava realmente nervoso com isso, porque sempre tive uma ótima relação com os caras. Eu deveria ter esperado chegar em casa e conversar com eles pessoalmente. Mas eu estava na Europa pra correr os X-Games e não estava usando um shape da Plan B. O Colin McKay me ligou: “E aí, cara, o que tá acontecendo?”. E eu pensei: “Puta, vou falar pra ele agora, no telefone mesmo”. Eu ia dar uma desculpa qualquer mas pensei: “Quer saber, eu devo muito a esse cara. Vou falar que tô saindo”. Não tenho muito orgulho de ter feito isso, mas desde esse dia eu já conversei com o Colin e com o Danny de novo, e acho que ficou tudo numa boa. Eu vi o Danny recentemente e foi tudo bem. Só amor.

Você fez 100 shapes para o lançamento da marca. Fiquei sabendo que vendeu tudo rapidinho, né?
É, vendeu tudo em 49 segundos. Na verdade, a gente derrubou o Berrics e o sistema acabou vendendo 50 a mais do que podia. Aí nós fizemos mais 50 pra garantir o de todo mundo que comprou.

Você mencionou que a Primitive Skateboards vai ser diferente, porque vai pagar mais para os patrocinados por cada shape vendido. Como isso funciona? Qual é o padrão da indústria?
O normal é que a marca te pague um salário todo mês, que é um adiantamento pela sua parte nos shapes vendidos. Um cara normal ganha cerca de US$2,00 por shape. Se você não vender o número de shapes pelos quais eles já te pagaram adiantado, você não ganha mais nada além do mínimo.

Então, com a marca nova, por que é uma vantagem dar aos patrocinados um porcentagem maior das vendas?
Pra ser honesto, não sei se vai ser vantajoso pra empresa ou não. Mas eu sou skatista, não sou só o cara dos negócios. Eu sei como é colocar o coração naquilo. Se o seu nome está em um produto, eu quero que você receba a maior parte do lucro. Então é quase como que se fosse ao contrário do normal: a empresa é quem vai ganhar a porcentagem que, normalmente, é dada ao skatista. Também quero ajudar os skatistas a terem uma vida confortável. Quero deixar minha marca no skate pelo que fiz em cima dele. Mas, se puder, adoraria deixar uma marca e ajudar a fazer do skate algo do qual vários caras podem viver confortavelmente, ao invés de só alguns.

Então, de certa forma, os caras que já são patrocinados (Nick Tucker e Carlos Ribeiro) são as próprias marcas dentro da empresa, e você é mais como um distribuidor, certo?
Isso, exatamente. Esse é o objetivo. Eles fazem o que quiserem. Se quiserem decidir a arte do shape, são mais que bem-vindos. É por isso que não vamos pagar apenas o mínimo. É tipo: “Olha, tudo que tiver o seu nome, você será o principal beneficiado”. Claro que a marca tem os custos de operação, então vamos precisar pegar uma pequena parte, mas é tudo voltado para beneficiar o skatista. Vimos e revimos o sistema com os contadores e, no papel, parece que funciona, então vamos rezar e torcer para que vingue.

Você agora é dono de marca, e também religioso. Jamie Thomas é outro dono de marca, também religioso, e coloca ícones religiosos em alguns dos shapes e produtos da Zero. Você também faria isso?
Sim e não. Eu não me considero religioso. Não fico pregando por aí, dizendo que você tem que viver dessa ou daquela maneira, porque eu mesmo não sou nenhum santo. Acredito firmemente que há um poder maior, e fico por aí mesmo. Não digo que sou dessa ou daquela religião mas, na minha cabeça, obviamente há um poder maior. Eu sinto como se vários eventos da minha vida tivessem me provado isso. Não estou aqui pra forçar isso em ninguém. Acredito que Jesus foi um ser incrível, tocado de uma maneira espiritual. Não sou contra fazer uns gráficos mais espirituais e tal, mas não é meu estilo. Eu me sinto até um pouco estranho com isso, tipo: “É estranho colocar um símbolo religioso num shape? Eu estou tentando capitalizar em cima da religião, de Deus?”. Não sei como me sinto quanto a isso.

Você tem muitos seguidores nas redes sociais, mais até que várias marcas e revistas de skate. Você acha que as revistas estão ficando obsoletas, pois agora você consegue falar diretamente com seus fãs, sem precisar passar por elas?
Não sei se eu torno a revista obsoleta. Acho que a própria tecnologia está, sim, danificando a mídia impressa. Acho que isso não é só no skate, é com tudo. Tenho certeza que a GQ tomou uma bela porrada das redes sociais. Recentemente, a indústria da música também sofreu isso. Tomaram uma porrada do mp3, downloads digitais e gravações amadoras. Agora, estão aprendendo a lidar com isso. E você vê as empresas se adaptando a isso, como a Thrasher faz. Eles são um dos líderes do mercado, ao lado do Berrics; são sites/mídias do skate. Também tem a The Skateboard Mag… Eu amo esses caras. Não tenho problema nenhum em aparecer em canais diferentes.

O novo promo que você soltou tem muita imagem nova. Quanto tempo você dedicou a esses clipes?
Essas imagens tem 2, 3 anos. São todas de quando eu estava filmando pro novo vídeo da Plan B. Na verdade, tinha muito mais coisa, mas eu senti que tinha passado muito tempo e elas não estavam mais boas o suficiente pra soltar. Apenas escolhi as manobras das quais ainda me orgulho. Isso é outra coisa da internet hoje em dia: você tem que soltar as coisas rápido, cara. Não pode segurar muito, senão fica obsoleto.

Quando você saiu da Plan B, como ficaram essas imagens? Eles não podiam segurar tudo, dizendo que eram imagens pro vídeo deles? Ou vocês chegaram num acordo antes?
Bom, felizmente, tudo que eu filmei foi com o meu próprio videomaker, então já era tudo meu. A Plan B tem videomakers na equipe, mas eu já tinha o meu antes disso. Mesmo nem pensando nisso na época, acabei me beneficiando. Não foi nada planejado; eu não sabia, quando contratei o cara, que sairia da Plan B pra começar o meu negócio. Foi sorte.

Quando você tá na Street League dá aquela rezadinha dentro do boné antes de dar uma manobra, é um mantra? É algo diferente cada vez?
Eu falo a mesma coisa toda vez. É uma oração, com certeza, mas é mais um TOC. Quanto mais nervoso eu fico, mais necessidade eu tenho de fazer aquilo. É como os caras da NBA; quando tem um lance livre, tem que fazer alguma gracinha com a bola antes, girar no dedo, bater no chão… É o mesmo ritual. Quando eu estou andando na pista ou na rua, vai acontecer. Várias vezes eu nem percebo. Faço isso desde pequeno. É automático pra mim.

Você tem vários patrocinadores de fora do skate (Target, AT&T, Mountain Dew). Você tem uma regra pra aceitar coisas assim? Você aceitaria patrocínio de uma marca de cerveja ou cigarro?

Bom, eu estou envolvido com uma marca de cerveja. Não é um patrocínio, eu sou um dos fundadores. Mas há limites, cara. Não me envolvo com algo que eu pessoalmente não goste ou faça. Por exemplo, a Mountain Dew. Eu gosto mesmo. Todo mundo que bebe sabe como é bom, manja? Eu não sou um bêbado incontrolável nem nada, mas gosto de beber de boa. Não sei se aceitaria um patrocinador de cigarros ou algo assim, mas eu fumo de vez em quando. Eu só tento me envolver com coisas que fazem parte da minha vida. A Target, por exemplo… Se você mora na América, provavelmente fez compras lá sua vida toda, entendeu? Tem que ser algo coerente com o meu lifestyle.

Você sempre foi muito aberto sobre ganhar, querer ganhar, ficar em primeiro nas competições, etc… Te incomoda quando as pessoas dizem que essa é uma mentalidade babaca e não deveria existir no skate?

Eu sei onde é meu lugar no skate. Você não pode dizer que não amo o skate. Você não pode me dizer que eu não gosto de andar de skate. Eu gosto de encontrar novos meios de me desafiar e andar pra frente. Já tenho mais ou menos umas 12 partes de vídeo e, pra mim, esse processo se tornou monótono.

Paul Rodriguez

Agora há um novo desafio porque, quando eu estava chegando na cena, nunca havia olhado pro skate de uma forma competitiva. Mas agora existem certos aspectos na competição dos quais eu gosto – não vejo como algo do tipo: “Estou competindo com esse outro cara”. Eu penso: “Será que eu consigo voltar essa manobra agora, aqui, sob pressão?”. Esse é o desafio que eu curto. As pessoas podem achar o que quiserem, e é por isso que são livres para criar sua arte no skate. Essa é minha tela e eu estou pintando do jeito que eu quero. É por isso que você tem a sua própria tela. É assim que eu vejo. Eu sei onde é meu lugar no skate.

Você morou com o Shane O´Neill por um tempo. Você pode confirmar que o ZIGRAM23 é mesmo um robô?
Hahahaha. Sim, é. Já vi ele ligado na parede carregando as baterias.


entrevista por Ian Michna – Jenkem
tradução por Felipe Minozzi (Fel)

Artigo original

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