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Pontus Alv – Jenkem

O sueco Pontus Alv, nascido em Malmö, em 1980, é um dos responsáveis por colocar e aumentar, constantemente, o espaço da Europa no mapa do skate mundial. À frente da Polar e várias outras empreitadas, pode-se dizer que hoje ele é uma das principais influências de muita gente que procura um caminho alternativo ao mainstream, que engole uma fatia cada vez maior do bolo.

Uma entrevista que eu julgo necessária pra todo mundo que quer entender o crescimento do underground e o espírito do DIY (faça você mesmo) no skate. Mais uma da parceria Jenkem – Black Media.


A maioria dos americanos não dá tanto valor para os skatistas europeus, tirando alguns superstars. Por que você acha que isso acontece?
Acho que é o jeito da América ver as coisas. Olhando para a história do skate, tudo começou na Califórnia. Tudo era controlado pela mídia, pelas marcas e revistas americanas. Se você queria ser alguém no skate, tinha que estar na América (EUA). Foi assim pra mim quando criança. Se você não estivesse lá, não era ninguém.

Acho que esse jeito de ver as coisas ainda está lá, mas está mudando. Mudando bem rápido. É a primeira vez que estão olhando do outro lado do oceano, pra Europa. Prestando atenção em coisas novas, diferentes. Cenas em todo o mundo estão surgindo – a japonesa por exemplo, é incrível. A Australian Passport Crew… Eu sinto como se estivessem se separando da América, meio que livres. Europa, Japão e Austrália estão se conectando e competindo com a “maneira californiana” de se andar de skate. Agora, não há apenas um skatista sozinho surgindo da Europa; são times inteiros, marcas inteiras. Com a internet, o mundo fica realmente pequeno, é mais fácil.

Você sempre fala sobre apoiar apenas marcas de skatistas de verdade, mas você saiu da Emerica anos atrás e agora só tem apoio de empresas que nasceram fora do skate. Isso não é meio hipócrita?
O coração e os líderes da nossa indústria/cultura, na minha opinião, sempre se basearam no que as empresas de skate fazem e criam. Tudo começa lá, e depois vem o resto. O core, geralmente, não faz dinheiro o suficiente pra ser totalmente independente e deixar as pessoas livres pra só andar de skate. Se você entra numa marca boa de shape, você normalmente entra numa marca boa de tênis e de roupa, e consegue pagar suas contas. Isso não é segredo na indústria. Mas, normalmente, se você anda pra uma marca bosta de shape, ninguém na indústria quer chegar perto de você. Eu já vivi isso; quando estava na Mad Circle, todo mundo era meu amigo. Quando estava na Arcade Skateboards, ninguém ligava pra mim. Foi um choque de realidade, mas é assim mesmo. Seu skate não significa merda nenhuma se você não está numa marca da moda que te apresenta de uma forma “legalzona”.

Então, eu tenho apoio da Carhartt WIP (que não é feita por skatistas, mas parece que ninguém liga pra isso). Eles apoiaram minhas ideias e visões durante 12 anos. A Emerica me apoiou durante 10 anos, mas no fim do nosso relacionamento não estava mais funcionando. Sou grato a eles por tudo. Quanto à Converse, sempre gostei dos tênis. Acho foda – Jack P., o clássico One Star – muito foda! As pessoas com quem eu trabalho entendem minhas visões e ideias, e sempre estão lá pra fazê-las acontecer. Eu nunca vou deixar uma marca me controlar ou me dizer o que fazer. O acordo, da minha parte, é bem claro, e minhas visões precisam de apoio. Mas minha missão continua a mesma: fazer coisas legais pro skate.

Sem os cheques da Carhartt e da Converse, que cobrem meu aluguel e colocam comida na minha mesa, a Polar Skate Co. nunca seria o que é. Sem eles, eu precisaria ter um segundo emprego. Eu acho importante uma marca de skate ter skatistas no comando. É isso.

Quando você estava na Emerica, você disse, em outra entrevista, que eles não te colocavam, de fato, junto com caras dos Estados Unidos, e não te incentivavam. Por que você acha que isso acontecia?
Foi por isso que saí. Saí porque não me sentia andando no time de verdade, dos Estados Unidos. Eu era só um cara na Europa e não acontecia muita coisa. É importante ter uma plataforma pra se expressar como skatista. E ter um patrocinador que te garante e te ajuda a evoluir como skatista, que promove suas ideias próprias. Sempre nos sentimos como apenas um lixo europeu, na terceira divisão da marca. Você só consegue ter umas manobrinhas de merda da seção de bônus do DVD. Foi aí que resolvemos fazer a nossa própria parada. E fizemos. Agora, nós competimos com eles, o que é interessante.

Não digo todas as empresas, mas muitas das empresas da Califórnia estão tremendo agora. Tremendo porque o skate não é mais baseado em Los Angeles, O.C., ou alguma outra parte daquela panelinha. É uma cultura global, acontecendo no mundo todo. E, se você quer vender pro mundo todo, precisa estar presente e ativo no mundo todo. Você tem que ter uma abordagem global com o marketing e com o time. Nós temos skatistas por toda a Europa; estamos apoiando caras no Japão. Você precisa colocar as coisas em prática. Não dá pra ficar só em L.A. e esperar um marketing global. Não funciona mais assim. Esses dias já passaram. Me desculpe, mas pô, acorda.

“O skate é uma cultura global, acontecendo no mundo todo”

Você acha que os skatistas americanos tem um comportamento diferente?
Não, sempre me dei bem com os caras quando estava em São Francisco e agora. Sempre me senti bem-vindo nas cenas locais. Mas é claro que existem cuzões em todo lugar do mundo… Cuzão é cuzão. Eu tento não ser um, mesmo que, às vezes, as pessoas achem que eu sou. Mas é que eu sou apenas meio tímido. Quando me vejo rodeado de pessoas novas, fico meio nervoso. Eu acho que, se você for legal, as pessoas deveriam ser legais com você, mas esse não é o caso sempre. Provavelmente, eles um dia vão aprender que não vale a pena ser um superstar cuzão. Não te leva a lugar nenhum. Às vezes, quando os skatistas ganham atenção, começam a achar que são fodas e o comportamento muda. Acho isso engraçado, ver que tem gente achando que, por causa do que eles fazem em cima de um skate, podem fazer o que quiser fora dele. O que você faz em cima do skate é ótimo, mas quem é você como pessoa? Andar bem não te dá o direito de ser um babaca.

Você acha que o álcool, a maconha ou alguma substância te ajuda a andar de skate melhor ou ser mais criativo?
Quer dizer, eu adoro beber. Eu adoro fumar maconha. Eu acabei de voltar a fumar por causa do Aaron Herrington. Cê sabe: ele é americano, gosta de fumar. Comecei a fumar de novo por causa do stress da empresa, então foi uma forma de relaxar à tarde, depois do trabalho, fumar um e desencanar um pouco. Não fumo muito. É meio idiota mas, no momento, estou assim. Quanto a ser criativo ou andar melhor, beber um pouquinho às vezes ajuda, mas não quando você está tentando filmar. Prefiro estar afiado, tipo ligeiríssimo com tudo.

Como você acha que a indústria do skate estará em cinco anos?
Acho que vai se tornar algo mais global. O skate vai ter suas “bolhas”. Cenas diferentes, com bolhas conectadas localmente com suas marcas e skatistas. Algumas “bolhas” vão conversar entre si, andar juntas e fazer as coisas, mas não acho que vai ser mais essa única “bolha” em L.A., controlando o mundo. Talvez eu esteja errado. Claro que vamos ter mais envolvimento comercial no skate o que, pra mim, é o maior presente. Obrigado, Monster, obrigado, Street League, e todos vocês por isso. Isso só faz o underground ficar mais forte. Muita gente está convergindo pro outro lado, é um presente pra nós.

É, eu acho que você precisa dos dois tipos de skate pra manter interessante.
Exatamente, é muito bom. Quanto mais eles empurram o pensamento das Olímpiadas, ESPN e Street League, mais gente vai falar: “Foda-se isso”. E aí vão olhar pro outro lado da moeda, pra pessoas como nós. Palace, Magenta, Welcome Skateboards, Hopps, todas essas marcas surgindo e fazendo sua própria parada. É demais. Sempre tem o lado assustador, claro. O que acontece quando ficarmos grandes, e nos tornarmos iguais a eles? Tenho muita consciência disso. Olhe pra história do skate. Tem a Girl, que se separou do (Steve) Rocco, e o Rocco foi o cara que se separou da Powell, H-Street e esses caras. É assustador crescer muito e perder o que você queria ser.

É, eu imagino que seja difícil ter uma marca por tanto tempo. A Girl acabou de fazer 20 anos de idade. É muito louco.
É. Quer dizer, as coisas ficam velhas. Mesmo sendo muito bom sempre, as pessoas dizem: “Ah, já conheço isso”. Quando você se estabelece em uma área, é difícil mudar. Acho que muitos desses caras gostariam de pegar a VX-1000 e sair filmando alguma coisa em L.A., perder um tempo. Mas isso vai totalmente contra a política da empresa e sua história. Acho que se o Mike Carroll e o Koston fizessem partes de VX hoje, as pessoas achariam estranho. Seria muito contrastante com o Pretty Sweet, que foi a estrada que eles escolheram. Você se torna um prisioneiro de suas próprias ideias. Por isso, é importante não se trancar em um canto, em um área. Você precisa variar, fazer coisas novas, coisas diferentes todo o tempo, pras pessoas não conseguirem te identificar por uma coisa só. Acho que esse é o segredo a longo prazo.

Você já foi chamado de egomaníaco?
Aah. Já, sei lá. Não ligo se alguém diz que eu tenho um ego inflado. Eu simplesmente tenho visões muito fortes do que quero fazer, como eu quero que sejam feitas e como eu vejo, e não sou o tipo de cara que abandona minhas ideias pra satisfazer alguém. Não sei se isso é ter uma visão ou ter um ego. Alguns entendem e dizem: “Vamos deixar o Pontus fazer isso, e tomara que as pessoas gostem”. Mas não sou um cara que vai agradar aos outros. Eu faço do meu jeito ou não faço porra nenhuma. Não funciono desse jeito.

Obrigado, cara. Agradeço muito. Acho que é isso.
Você não quer falar de skate?


entrevista por Ian Michna – Jenkem
tradução por Felipe Minozzi (Fel)

Artigo original

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