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Jake Johnson – Monster Skateboard Mag

Quando li essa entrevista que o Jake Johnson deu pra Monster Skateboard Magazine, da Alemanha, entrei em contato com os caras pra dizer que a gente precisava traduzir o texto pros brasileiros lerem. O Stefan curtiu a ideia, então tá aí!

Eu cortei o início da entrevista, pois ele falou muita, muita coisa sobre a Alien Workshop e não foi isso que me chamou a atenção no post. Além disso, ninguém ia aguentar ler tudo; ficaria com o dobro do tamanho. Comecei então um pouco antes da metade e traduzi tudo até o fim. Caso você queira ler na íntegra, é só clicar aqui. Mas pode acreditar: o que interessa de verdade está aqui.

Divirta-se.


Ouvi rumores de você entrando na Polar, e você já visitou o Pontus Alv e tá andando com shape deles. Isso significa que você está na marca agora?
Não, eu apenas visito o Pontus; é um amigo.

Você não está procurando patrocínio de shape?
Não, estou bem hesitante. Estou tentando reencontrar a diversão no skate. Quando eu achar, e encontrar minha paixão de novo, eu vou atrás de uma marca que se encaixe nisso. Eu só quero andar de skate com os meus amigos e cada um anda pra uma marca diferente. Eu sempre gostei da Polar; sempre admirei o Pontus, suas artes e ideias, mas não o conhecia. Então, quando entrei na Converse, decidi viajar para conhecê-lo. Ele me deu uns shapes, mas eu tô andando com os da Krooked e da Anti Hero. Quem quiser me mandar shapes, eu ando. Não ligo. Só estou tentando recuperar minha saúde. Estou me recuperando de um acidente de moto.

Quando foi isso?
Três meses atrás. Foi bem idiota; fui atropelado por um motorista mais velho. Machuquei bastante o joelho. Aconteceu tudo ao mesmo tempo. Você sabe, na vida vem tudo de uma vez só. Só quero me recuperar, ficar com a mente saudável, andar de skate e mostrar pro mundo o que eu consigo fazer em cima dele. Não preciso de muito dinheiro agora; estou na Converse e eles me ajudam. Só estou tentando pagar meus impostos e manter uma vida simples, sem me preocupar muito com a indústria do skate. Acho que fui um pouco prejudicado por ela. Todas as marcas pelas quais eu andava faliram e me deixaram sozinho. Por isso, tenho medo de me dedicar muito à uma marca. O que importa é a relação entre você e seu skate. Se você não está se divertindo quando anda, talvez tenha que se afastar um pouco dele. Talvez eu volte pra faculdade. Mas sim, os shapes do Pontus são bons. Todos vocês deveriam comprar shape da Polar. Eu apoio os pequenos negócios do skate; acho que está chegando uma nova era. As marcas gigantes estão caindo, porque se esticaram demais, e as marcas menores estão crescendo. É sempre a mesma coisa; vai acontecer de novo e de novo. Eu quero ver todos os skatistas do mundo unidos, com um objetivo. Rob Dyrdek não é o cara mais malvado do mundo. Ele é só um skatista que teve a oportunidade de se tornar famoso em Hollywood, da mesma forma que Jason Lee e outros caras. O problema é que ele se importou menos com ajudar o skate e se tornou um pouco egocêntrico. Ele queria ajudar a Alien Workshop a ganhar mais dinheiro, e fez isso. As vendas de shape do Rob financiaram o Mindfield (video). Não haveria o Mindfield se não fosse o Rob e o Big. Então, ele achou que poderia fazer a Alien ganhar muito dinheiro de novo, pagar bem os skatistas e continuar. Mas, quando você anda sozinho, com seus próprios objetivos, é difícil. Tem mais a ver com se comunicar com seus amigos mais próximos e achar pontos em comum. Acho que foi isso que fez a Alien dar errado, era uma família disfuncional. Ninguém se comunicava.

Você falou sobre seus patrocinadores falirem…
Bom, eles não faliram, mas decidiram que o skate não valia mais a grana e o tempo. E aí largaram mão. Eu não tenho nada do skate. Não tenho fortuna. Não tenho casa.

Trabalhar por uma marca não é fácil. Como você vê isso? Você se vê como um porta-voz da marca ou a marca como uma ferramenta que pode tornar suas visões possíveis, o que também ajuda a empresa a criar uma imagem própria? Como você lida com isso e como você dicidiu entrar pra Converse?
Sempre segui meus amigos nos patrocínios. Na Gravis, meu amigo era o Dylan e eu admirava o Arto. As relações mudam e eu não sou mais amigo do Dylan. Na Quiksilver, era o Alex Olson. Acho que a Converse foi por causa do Pontus. Não sou um bom exemplo quando o assunto é esse, porque não penso nisso da maneira comum. Eu vou na tour, ando de skate, dou o meu melhor, falo com a molecada. Na Alien Workshop, entrei por causa do (Jason) Dill e porque queria muito fazer parte do Mindfield e das ideias do Mike Hill. O papel do skatista é só andar de skate; isso deveria ser o suficiente. Mas eu comecei a ser julgado pelos patrocinadores, tipo a Gravis dizendo: “Você não se encaixa na nossa imagem. Você não está usando o tênis vulcanizado que a gente vende”. Eles queriam algo a mais e eu acho isso uma estupidez. Hoje em dia, os patrocinadores pedem para os skatistas colocarem um monte de coisa no Instagram; você tem que ter mais seguidores. “Nós vamos comprar seguidores pra você”. Está se tornando uma escola: se você é popular, você é legal. Senão, você é um bosta. Não importa como você anda, não importa mesmo. Existem muitos caras que andam bem melhor, com mais estilo e criatividade dos que os que estão ganhando dinheiro com isso. Comigo era estranho, porque eu não precisava me esforçar pra conseguir patrocínios. Eu só me mudei pra New York porque queria, vivi lá por um ano e já tinha patrocinador pra tudo. Eu não precisava fazer nada mais a não ser andar de skate, e essa é a parte mais difícil pra mim. Skate nunca foi um trabalho. Nunca, nunca, nunca. Você não pode vê-lo dessa forma. Está se tornando um fenômeno cultural e trazendo dinheiro pra muita gente mas, quando você está andando, não é um trabalho. É um lugar sagrado na sua mente.

“Hoje em dia, os patrocinadores pedem para os skatistas colocarem um monte de coisa no Instagram; você tem que ter mais seguidores”

É algo pessoal pra todo mundo. Pra mim, é uma coisa infantil. É como se eu não tivesse responsabilidades. E quando você começa a andar pra alguma marca, eles começam a  dizer que você é responsável por algo a mais do que andar e manter a mente saudável. Aí se torna algo estúpido e muito estressante. Eu nunca pensei em fazer carreira no skate, nunca pensei dez anos à frente. Agora eu tenho 26 anos e há uma pressão maior pra isso, mas ainda não me sinto assim. Eu poderia conseguir um patrocínio da Red Bull ou uma marca de roupa; eu poderia fazer um Instagram, um Facebook, entrar na Street League… Mas eu não ligo. Não tenho nada por causa do skate. Não tenho fortuna, não tenho casa. Só tenho dívidas porque, quando era jovem, eu pensava: “Ah, eu tô fazendo tanto dinheiro agora que vou continuar fazendo nos próximos dez anos”. Eu não pensava no meu futuro. Eu achava que ganharia dinheiro daquele jeito pra sempre. Quando parou, eu não tinha nada pra pagar os impostos e agora não ganho a mesma coisa, então acabei me endividando. Eu até tive sorte, pois vivi por um ano com a grana da Alien e, um mês antes de parar de receber deles, entrei na Converse. Eu até pensei se deveria arrumar um emprego. Se deveria voltar pra faculdade ou pra minha cidade, pra passar mais tempo com a minha família. Ter relacionamentos de verdade. Ser uma pessoa normal. Quando você vê o skate como seu ganha pão, você fica muito ansioso. O skate é mais puro quando você anda no tempo livre. Por isso, tenho meio que inveja das pessoas que não precisam andar o tempo todo. Eu não preciso andar o tempo todo, não tenho um cronograma, mas o skate é como uma doença. É uma doença.

E você não pode ser curado?
Hahaha! Não, eu não. Eu não consigo pensar diferente de um skatista, então a sociedade me julga: “Você não está guardando seu dinheiro direito, você não é isso, não é aquilo”. E quando eu tento fazer a coisa certa com o meu dinheiro, me falam que não estou andando de skate o suficiente. Não dá pra fazer as duas coisas. Eu só consigo ser skatista. Se eu fosse pra faculdade, talvez fosse bom com dinheiro. Mas o skate é diferente. Não tem horários. É livre, te torna criança de novo. E quando você é criança não liga pro dinheiro. “Você vai me dar um sorvete? Legal!”. É assim que eu vejo. Eu pego o que as pessoas me dão e agradeço, mas não levo a sério. Tudo vai e volta. Eu não acho que mereci as coisas que já tive, simplesmente aconteceu e eu tinha uma grana. Não foi planejado. Quando eu era mais novo, achava que seria legal ser profissional, mas eu era só jovem e burro. Eu não sabia o que significava ser profissional. É zuado.

Você já disse em uma entrevista: “Vou dar meus melhores anos ao skate e, depois, tentar outra coisa”. É isso mesmo? Você tem algo planejado?
É verdade. Talvez eu tente engenharia ou design industrial. Tentar usar minha criatividade em outra indústria. Porque é isso que é zuado. O skate está se tornando parte da nossa cultura, mas nossa cultura é zuada. Os skatistas estão influenciando bem nossa cultura, mas só em certos pontos. É isso que eu amo. É por isso que eu amo tanto o skate; ele está mudando o mundo aos poucos. Se eu me sentir desanimado com o rumo do skate, vou querer mudar o mundo por outros meios. Desenhar prédios ou espaços públicos. Trabalhar com engenharia de vida submarina ou vida no espaço. Quero ver o potencial da humanidade. Acho que é isso que o skate me faz sentir. Parece que eu posso fazer qualquer coisa. Quando eu realizo algo no skate, me sinto como se pudesse fazer tudo. Por isso entrei na indústria do skate, pra mostrar esse sentimento aos garotos. O skate está se tornando um status social e perdendo a relação pura entre alguém e seu skate. O skate está se popularizando muito, e isso faz as crianças já terem uma imagem mental formada de como querem ser: “Eu vou vestir essas roupas, esses tênis, as garotas vão me olhar, eu vou em festas…”. Até na escola a coisa tá diferente do que era. Antigamente, você apanhava por ser skatista; isso é verdade. Mas agora você bate nos moleques que não são skatistas. Parece que nós estamos nor tornando os bullies. Não é legal. Nós olhamos pras pessoas e dizemos: “Eles não se vestem direito, fodam-se. Esse cara é otário, foda-se”. A gente passa um pelo outro e nem fala “oi”. Cada vez mais, o skate perde a essência de comunidade e está se tornando um grupo de bullies materialistas que julgam os outros. Perdi meus amigos por causa disso; é isso que mais me machuca. Eu admirava caras que, lentamente, comecei a ver apenas como bullies. Eu vi a paixão deles se tornar ganância e me afastei. Agora sou só eu e meu skate de novo. Sou só eu tentando encontrar a felicidade novamente, agora como adulto. Tentando ser responsável e tirar o stress da minha vida. A partir disso eu decido o que fazer depois.

O fato de você inspirar muita gente ajuda em algo?
É bom, mas acho que cada um tem que aprender sozinho. Fico feliz de ter o respeito das pessoas, mas às vezes é perigoso atrair tanta atenção. Todo mundo suga sua energia, mas cada um precisa ter a sua própria. Você precisa ter amor próprio e achar entusiasmo sem idolatrar ninguém. É bom, mas eu nunca entendi completamente isso. Eu não penso muito sobre quantas pessoas me seguem e tal. Eu ainda não tive a oportunidade de sentir orgulho de verdade de algo no skate. Fico feliz de ter andado e filmado algumas manobras boas com bons videomakers, e continuo fazendo isso. Eu vejo muita gente se vestindo bem, cortando o cabelo igual o Dylan (Rieder), indo pra balada, transando… Eles contam, falam sobre o que fizeram. Legal, mas eu não respeito isso. Eu acho que o skate deveria ser antissocial. Deveria ser a contracultura. Deveria ser odiado, porque é algo muito diferente. Deveria ser extremo; não porque é assim que o vendem, mas porque ser masoquista e se machucar é algo extremo.

Você acha que, se nunca tivesse se tornado profissional, estaria mais feliz hoje?
Acho que estaria mais feliz, sim. Se eu fosse mais próximo da minha família, tivesse uma relação mais firme, mais estabilidade, menos dívidas, um cronograma das coisas. É por isso que o skate é uma doença. É uma doença da mente. Pra mim, é uma doença infantil. É difícil se manter uma criança em uma cultura de adultos. Você mesmo começa a se julgar por isso. É algo meio estúpido de se dizer, mas eu meio que sinto a inocência do skate se perdendo. Talvez tenha acontecido há muito tempo, mas eu estou começando a ver mais claramente o que essa indústria e cultura são, e não me identifico tanto com elas. Talvez seja a hora de achar alguma outra coisa, voltar à escola, achar inspiração em outras coisas.


entrevista por Stefan Schwinghammer – Monster Skateboard Magazine
tradução por Felipe Minozzi (Fel)

Artigo original

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